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Jéssica Frabetti sempre teve um fascínio por bonecas de pano. Tanto que já até fez cursos para aprender a costurar suas próprias bonecas. E foi, em um desses cursos, que a estudante do último ano de Jornalismo na Unesp teve a primeira ideia para o seu TCC que virou o projeto Esse tal de brincar.

“Fiz um curso para aprender a costurar bonecas Waldorf e me encantei por tudo que a professora Karin Evelyn falava. Sobre primeira infância e atividades lúdicas, da capacidade construtiva e criativa que uma boneca representa para uma criança. Foi quando eu fiquei surpresa com a quantidade de material sobre o brincar na infância e o quanto rico ele é. Então, a minha vontade era de passar tudo aquilo que eu estava descobrindo para pais e educadores e quem mais tivesse interesse. Só que eu precisava com alguém com vivência para ajudar, aí eu convidei o Wilian Olivato para desenvolver o projeto comigo”, conta.

Hoje, o projeto está disponível em uma página no Facebook, como uma cartilha online, com textos explicativos, que contam para o leitor sobre o universo da infância e como a brincadeira se encaixa nas nossas vidas. “Ainda trazemos indicações para que a discussão não acabe ali. Tem muita gente fazendo um trabalho bacana sobre o tema e que não aparece tanto. Por exemplo, o material do Instituto Alana, que é incrível e tem ótimas parcerias, como o Território do Brincar, Maria Farinha Filmes, Projeto Criança e Consumo. Quando a gente começa a olhar para essa fase da vida, vemos que ainda temos muito o que fazer para proteger as nossas crianças. E começa ali, dando atenção para essa atividade tão importante, que é o brincar”, afirma.

Confira a entrevista:

Vocês pesquisaram durante quanto tempo?
Jéssica: A pesquisa já tem mais de seis meses. Logo no começo, bebemos das fontes da área da psicologia e pedagogia. Coletamos um material que nos auxiliasse na hora de ir atrás dos entrevistados e bater um papo legal sobre o assunto.

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E como foi essa pesquisa? Teve que visitar alguns lugares de Bauru?
Jéssica: Em Bauru, foram três entrevistas: com a psicóloga Ana Karina Barbosa, a professora Karin Evelyn de Almeida e a também professora Maria da Graça Magnoni. O restante fizemos por Skype ou conversas por e-mail com educadores, pesquisadores do tema e médicos. Reservamos um bom tempo para isso e foi ótimo. Muita gente quis participar e nos ajudar no projeto, foi um retorno super positivo.

E você acha que as crianças estão brincando menos?
Jéssica: Não acho que hoje as crianças estão brincando menos, mas é diferente, principalmente por causa dos novos aparatos eletrônicos. Não são todas as crianças que têm contato, lógico, mas muitas ficam reféns desses equipamentos logo cedo. E, na minha opinião, uma infância plena é aquela rica em vivências, em experiências, em contato com o outro. Somos seres sociais, né? Precisamos nos capacitar, experimentar, aprender por conta própria e aprender com o outro. E o jeito da criança fazer isso é brincando, não limitada em suas possibilidades. A publicidade infantil é outro fator que me incomoda. O consumo não deve pertencer ao universo da criança. De que adianta uma criança cheia de brinquedos se ela nem consegue criar em cima daquilo? Sem contar a intelectualização precoce, a agenda lotada, que são problemas que a criança de hoje tem enfrentado.

Pensando na sua infância, sente que hoje está diferente?
Jéssica: Eu percebi que vamos nos distanciando muito da nossa infância e nem paramos para pensar muito nisso. Esse projeto me fez recordar como eu era quando era criança e o que me fez ser o que sou hoje. Acho que eu tive uma fase muito feliz, porque pude estar com os meus pais e minha mãe ficava em casa para poder cuidar de mim. Mas a gente vê que isso é bem complicado e que os pais e responsáveis precisam trabalhar. E eu não paro de pensar nas situações das creches, no tempo de licença maternidade que é um verdadeiro sufoco, na falta de espaços públicos e de qualidade para crianças… Essas batalhas ainda precisam ser travadas e mais discutidas.
Wilian: Acho que é diferente. Não tem como ser igual. Os cenários mudaram, a maneira como as pessoas, os pais, encaram o tempo é diferente. Isso é decisivo nessa questão. Mas é claro que existem outros fatores. A tecnologia que tanto nos beneficia, tem seu lado negativo quanto olhamos por esse ângulo, por exemplo. A gente passava horas entre aprender fazer uma pipa, deixá-la ficar boa o suficiente para voar e mais algumas horas vendo ela voar pelo céu. Se pensarmos nas crianças perto de nós, como elas tem gastado o tempo? Qual a sua principal diversão?

Você acha que Bauru tem muitos lugares para as crianças brincarem, por exemplo?
Wilian: Aí é que está o ponto. Às vezes pensamos que, para que a brincadeira seja de qualidade, é preciso de ‘algo’, quando na verdade estamos falando de tempo e liberdade. Se você provoca uma criança, ela te responde com criatividade. O quintal, a sala de casa pode ser o ambiente perfeito para uma brincadeira incrível. Estamos dispostos à entrar no universo da criança? A fazê-la sentir-se parte do ambiente em que vive?
Jéssica: Acredito que Bauru não tenha muitos lugares pensados para crianças, salvo algumas iniciativas comunitárias, ou projetos como o Curumim, do Sesc, que tornam ambientes possíveis para os pequenos. E quando falo possíveis, digo seguros e com estímulos positivos como as brinquedotecas, que são espaços garantidos apenas por iniciativas privadas e ainda são pouco explorados. Mas isso não é um problema só da cidade. Os espaços públicos, em sua grande maioria, não são pensados para crianças.

E qual a importância do ‘brincar’?
Jéssica: Poxa, a brincadeira nasce com a gente para podermos assimilar todo aquele mundão que nos é colocado. Então, uma criança que não brinca, que tem alguma limitação ou falta de estímulo, deixa para trás uma vivência que vai fazer falta quando crescer. Quando a gente começa a perceber isso, fica claro que o brincar é essencial. E o mais importante: que ele seja de qualidade e que os olhares para essa fase sejam atentos e carinhosos. Afinal, não é só uma atividade prazerosa, é também o trabalho da criança, ela precisa da brincadeira para um desenvolvimento integral das capacidades motoras e cerebrais.

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Vocês criaram uma página sobre o projeto. Qual o objetivo?
Jéssica: A página é um direcionamento para o site e também para postar outros assuntos interessantes e pertinentes, já que o site tem conteúdo fixo.

O que vocês esperam conseguir com esse projeto?
Wilian: A ideia principal é fazer com que pais e educadores se sintam provocados a pensar sobre o assunto. Nós realmente acreditamos que isso pode fazer diferença na vida das pessoas. Nesse tempo que temos conversado sobre o projeto, apresentado às pessoas, o feedback têm sido incrível. Se um de nossos textos é capaz de fazer um pai ou um professor à repensar a maneira com que tem lidado com essas questões, ficamos muito satisfeitos. Medir isso é muito relativo, mas acreditamos muito na ideia.
Jéssica: É bacana ver o despertar das pessoas para o tema, como foi para a gente. O brincar parece tão próximo, mas em verdade, não damos tanta atenção. E tem tanto a nos ensinar! Sabe, e é tão essencial que não pode acabar a medida que crescemos. A brincadeira não deve ser ensinada como oposto do trabalho produtivo. Ela é o que faz a vida de tropeços e primeiras experiências da infância ser uma delícia e porque não com o passar dos anos? Mas não só isso, queremos mostrar com o Esse tal de brincar que a infância deve estar mais em pauta, nas nossas discussões e que precisamos assegurar melhores condições para as nossas crianças.

E qual o próximo passo agora?
Jéssica: Primeiro, queremos levar nosso conteúdo para mais pessoas. Nesse pouco tempo de lançamento, tivemos um retorno bem legal, de gente interessada e nos fez ficar bem animado com o andamento. A gente espera que ele cresça ainda mais, que atinja mais pessoas, enquanto vamos estudando os desdobramentos e possíveis parcerias.

Para saber mais, acesse: essetaldebrincar.com.br

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