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Erika Moraes é jornalista, professora e amante da literatura. Por causa de sua paixão pelos livros, Érika foi escrevendo diversos contos, mas sem a pretensão de publicá-los um dia. Porém, o inesperado aconteceu e Érika contou um pouco para o Social Bauru sobre esse projeto e o lançamento de Gota da Vida. Confira:

Esse projeto é antigo? Você sempre teve o sonho de escrever um livro?
Érika: Sempre gostei de escrever, mas o livro de contos não era um projeto definido. Paralelamente às minhas atividades de jornalista e professora, especialmente em momentos que seriam de lazer, leio literatura e, aos poucos, fui reunindo alguns escritos. Tive meus poemas de adolescência, mas, na época, a editoração era algo inacessível e ficaram na gaveta. Hoje, com alguns contos reunidos, resolvi colocar em prática a ideia de um livro. Também escrevo no meu blog Liquimix, no qual, como digo por lá, ‘compartilho aventuras de minha alma viajante e ansiosa por aprendizado de vida’.

Quanto tempo demorou para você finalizá-lo?
Érika: Como a escrita literária é uma atividade exercida nas ‘horas livres’, começou há bastante tempo, sem compromisso. Quando me proponho a escrever, redijo uma primeira versão, mas guardo e vou fazer outras coisas. Assim, há um primeiro conto do ano 2000. Outros de 2010, 2011, período em que a ideia de reunir contos dispersos na unidade de um livro começou a aparecer. Continuei guardando. Fui encaminhando minha carreira profissional e outros sonhos pessoais, como o de viajar. Tenho uma produção acadêmica, com artigos científicos publicados. Só em janeiro deste ano que retomei a ideia do livro. Então, utilizei alguns fins de semana para revisá-lo e editá-lo. Como tenho formação em estudos de linguagem (Letras, Jornalismo e Linguística), eu mesma me responsabilizei pelo trabalho de edição. Do contrário, seria importante ter um editor, uma pessoa capacitada e sensível para não descaracterizar o estilo do autor. Contratei o serviço de editoração e impressão da Canal 6 Editora. Em maio, o livro estava impresso em uma pequena tiragem, uma vez que se trata de uma produção independente.

Durante esse processo você pensou em desistir em algum momento?
Érika: Foi uma ideia amadurecida ao longo dos anos. Então, quando decidi editar o livro, não voltaria atrás, ciente de que, de certo modo, publicar também é um exercício de humildade: a obra nunca está perfeita e trazê-la à tona é assumir a imperfeição humana.

E são contos, certo? Quais os temas?
Érika: O livro reúne dez contos, alguns minicontos e poemas. São temas muito cotidianos: amor, relacionamentos, reflexões… Sobretudo, invisto nas reflexões. Academicamente, eu estudo linguagem, discursos e autoria. Então, sei que o texto não é puramente a expressão subjetiva de um autor, mas envolve um confronto discursivo entre língua, ideologias, inconsciente. Como estudo teoricamente esses conceitos, lido de maneira relativamente consciente com esses elementos. Entendo que o trabalho literário consista mais na ‘maneira de dizer’ do que no tema em si. Quantos textos já foram escritos sobre o amor, por exemplo? Mas por que alguns encantam mais do que outros?

Todos você escreveu para o livro?
Érika: Em princípio, escrevia textos dispersos, sem o compromisso de editar um livro. Quando quis concretizar a ideia de um livro, procurei dar a ele uma certa unidade editorial.

Qual a explicação do nome do livro?
Érika: Gota da Vida é o nome de um dos contos e achei que era representativo do livro. Foi uma escolha bastante natural, não planejada. Carrega vários sentidos, não apenas relacionados ao nome deste conto específico, mas também à unidade das histórias que constituem as ‘gotas’ de vidas possíveis: as reflexões, os momentos que, somados, de fato nos constituem como seres dotados de sentimentos, ideias, emoções, erros e acertos. Ou seja, a vida compreendida como uma amarração de momentos.

Você acha que hoje em dia as pessoas estão menos sensíveis a esse tipo de literatura?
Érika: Muito provavelmente. Os tempos são de comunicação digital, multimidiática. As pessoas, em geral, buscam a informação rápida ou supostamente fácil e desejável (a autoajuda). Não à toa, as pessoas se sentem estressadas, cansadas do excesso de informação. O sucesso dos livros de pintura chamados antiestresse é consequência desse processo, um filão comercial que captou essa necessidade de retorno à desaceleração, à concentração. No entanto, ler literatura também é uma forma de desacelerar, das mais enriquecedoras. A literatura discute, na ficção, questões que são verdadeiramente humanas. Então, o livro é também um convite para que as pessoas se aproximem da literatura.

Você é uma amante da literatura, certo? Quais as suas maiores referências?
Érika: Sou. Circulo por autores diversos, dos best-sellers aos teóricos. No entanto, a rigor, literatura é um tipo de texto específico, aquele que trabalha a caracterização psicológica de personagens, narradores, o tempo, o espaço, o fluxo de consciência, as diferentes vozes que circulam dentro de uma mesma pessoa/personagem. Gosto muitos dos escritores que trabalham o fluxo de consciência, como se lessem as almas das personagens. E essas almas, como na vida real, nunca são integralmente boas ou más, expansivas ou tímidas, há sempre nuances diversas. Veja o exemplo de ‘Crime e Castigo’, de Dostoievsky: a história se resume a um crime cometido pelo protagonista. Não vou contar o final, apenas sinalizo que o enredo em si é banal, mas o livro é incrível pelo trabalho com o drama de consciência: ora o personagem se culpa, ora se justifica, sempre de forma convincente. Gosto muito de Clarice Lispector, da maneira como ela trabalha a alma feminina. Dos autores contemporâneos, tenho profunda admiração pelo carioca Rubens Figueiredo. Acredito que o escritor seja alguém que tenha a sensibilidade, a empatia de colocar-se no lugar de outros e compreender inquietações humanas, não necessariamente as próprias. A sensibilidade também é uma característica muito bem-vinda para a produção acadêmica e tem se perdido um pouco diante da demanda por números: muitas vezes, vários artigos são redigidos a partir de um mesmo corpus, com pouca novidade. Considero que alguns de meus artigos acadêmicos conseguiram unir de maneira especial o caráter científico com a sensibilidade. É o caso de “Paixao Pagu: o ethos em uma autobiografia” (publicado no livro “Ethos Discursivo”, editora Contexto) e “Mona Lisa: sentidos múltiplos de um sorriso enigmático” (publicado na revista Delta, disponível online).

E de todos os contos que você já escreveu, tem algum preferido? Por quê?
Érika: Eu não saberia dizer, pois eles refletem diferentes momentos. Alguns são mais, outros menos ‘queridos’ por mim, mas acredito que cada leitor poderá se identificar mais com um ou outro conto.

Muitas pessoas utilizam a escrita como uma forma de desabafo. Você também é assim?
Érika: Não exatamente. Para mim, a escrita não é um desabafo, mas um exercício conceitual e estético. Não significa que as minhas percepções, observações e vivências não se constituam em elementos para a caracterização de personagens. Por isso, posso deixar que algumas de minhas memórias dialoguem com a ficção. Isso é a literatura: a percepção, a experiência de um autor servindo de respaldo para a reflexão, a partir de histórias inventadas que possam levar a reflexões pertinentes à vida real. O ‘desabafo’ e o estético, no entanto, não são necessariamente incompatíveis. O ‘Diário de Anne Frank’ é um bom exemplo: uma bela história, comovente, real, escrita de maneira bem elaborada, segundo a percepção de uma menina judia de 15 anos na sociedade nazista. Meu livro não é um desabafo, uma história pessoal, mas não deixa de ser um movimento de rebeldia poética diante da aceleração da sociedade, do excesso, que nos consome tempo de vida e de reflexão. Se não houver uma dose de rebeldia, todos entramos no piloto automático.

Já tem planos para outros livros?
Érika: Publicar um livro, ‘deixá-lo viver’ me trouxe a vontade imediata de continuar a escrever, pensar em novos projetos. No entanto, se a leitura tem sido pouco praticada no Brasil, ser escritor é ainda mais difícil. Na quase totalidade dos casos (excetuando-se os autores já consagrados), ser escritor não é uma profissão, é algo praticado nas ‘horas vagas’. Assim, ocorre um círculo vicioso: se não há tempo para praticar, investir na escrita, aperfeiçoá-la, dificilmente será possível tornar-se um escritor renomado. Além de que sucesso comercial não é necessariamente sinônimo de qualidade literária e vice-versa. Falta tempo para praticar a escrita literária. Profissionalmente, dedico-me à produção acadêmica.

E quando será o lançamento do livro?
Érika: Gota da Vida estará nas livrarias de Bauru a partir do dia 23 de junho em um evento na Empório Cultural. Por enquanto, há exemplares disponíveis na loja Artesanato Mania, Rua Prof. José Ranieri, 3-54, Centro.

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