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Thais Amadei Pegoraro é coach e ganha a vida dizendo para os outros correrem riscos. Mas nada disso faria sentindo se a própria não fosse atrás dos seus sonhos. Foi exatamente por este motivo que a bauruense decidiu, há quase dois anos, que iria fazer uma expedição para escalar o ponto mais alto da Antártica, o Maciço Vinson, que tem cerca de 4.892 metros.

Em um dia de descanso em um hostel durante a sua expedição, Thaís conversou com a equipe do Social Bauru e falou sobre os desafios que já enfrentou até agora, como encarar a temperatura de 32 graus e esperar, ansiosamente, o tempo melhorar para seguir com sua viagem.

“Eu não sou uma pessoa muito paciente e ficar esperando sem ter um ‘norte’, sem saber o que iria acontecer, foi complicado. Para se ter uma ideia, dos 22 dias que eu fiquei no continente antártico, foram seis dias na montanha e todos os outros foram só de espera. Mas o tempo todo eu ficava resgatando o sentido de tudo aquilo e o que eu estava fazendo ali. Você não pode deixar a impaciência e a ansiedade da mente vencerem o propósito maior que, no meu caso, era viver a experiência de tudo aquilo e conquistar a montanha”.

Para ela, o mais importante não foi escalar e chegar até o cume, mas toda a trajetória até atingir o ponto principal e tudo o que aprendeu durante o caminho. “Não é o cume que faz o esforço valer a pena, é o aprendizado. Tudo o que eu aprendi nessas últimas quatro montanhas equivaleram há muitos anos da minha vida.”

Confira:

Como você se preparou para esta viagem?
Thaís: Eu me preparei de algumas formas: primeiro, fiz o planejamento obre as datas, os recursos necessários, o grau de dificuldade e os equipamentos. Também me preparei com treinos físicos, além do preparo emocional e financeiro. Estou fazendo tudo isso desde agosto de 2014.
 
 
E por que você decidiu fazer esta viagem?
Thaís: Em fevereiro de 2014, eu decidi me preparar para me tornar coach de executivos e empresas. Para isso, eu precisei me submeter a vários cursos e estudar muito. Aí, durante este processo, surgiu o resgate de um sonho de infância que era escalar o Monte Everest – retomei este sonho, com o plano de escalar o Sete Cumes e trazer mais lógica para o meu trabalho de coach de executivos. Não basta só falar que a pessoa tem que sonhar e pensar alto; eu também tinha que fazer isso e viver os desafios na minha vida pessoal.
 
 
Como você montou o roteiro?
Thaís: Para fazer o roteiro, eu precisei investigar a sazonalidade das montanhas. Não posso escolher ir para montanha a qualquer momento. Somente quando existe o clima perfeito e a ‘janela de oportunidade’. Aí, eu embarquei para o Chile no dia 14 de dezembro do ano passado para em Puntarena, local onde foi feita a reunião com a empresa responsável por toda a logística e por levar os passageiros até a Antártida. Depois, esperei até o dia 18 para pegar um avião e ir até Union Glacier, que é a primeira parada no continente antártico para quem chega, independente se se a pessoa é um cientista, militar, escalador ou se vai só para visitar o polo sul. Todo mundo pega um avião russo em Puntarena e vai até Union Glacier. Aí, na Antártida, a primeira parada foi na Union Glacier que tem uma boa estrutura para a recepção para as pessoas que chegam, com cozinha, barraca grande, refeitório, banheiro e chuveiro para tomar banho de balde. Lá, é um balde por pessoa e o ideal é que você tome banho a cada dois ou três dias para preservar o ambiente que é muito selvagem. Todo cuidado é tomado para essa preservação, desde a esterilização dos nossos sapatos até os equipamentos, antes de a gente pousar no continente. Aí, voamos mais uma hora até o Maciço Glacier para começar a escalada. Ali, aguardamos mais um tempo para puxar os trenós com todos os equipamentos necessários para a sobrevivência. Puxamos o trenó do Maciço até o Low Cap, onde preparamos uma mochila e escalamos até o High Cap, e ficamos esperando até a oportunidade de fazer a travessia até o Cume.
 
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Durante esse tempo de preparação, sentiu vontade de desistir? O que sempre te deu força?
Thaís: Eu nunca senti vontade desistir e o que sempre me deu força foi a convicção de que a parte mais difícil da vida é a gente viver essa este tipo de desafio. Eu não posso me posicionar junto ao meu cliente, dizendo que ele deve viver novos desafios e sonhos, alcançar novos objetivos, se eu não consigo fazer isso na minha própria vida. Pensamentos, ações e palavras nos dão uma força impulsionadora muito grande. Além disso, a comunhão com as pessoas – todo mundo que sabia deste meu sonho, me ajudou muito com palavras e até com sorrisos. Isso me deu muita força. Claro que que treinar oito vezes por semana não foi fácil, comer 4.500 calorias por dia tenha sido tranquilo – às vezes eu era obrigada a comer mesmo sem fome.
 
 
Quais as dificuldades da viagem?
Thaís: Especificamente no Maciço foi a temperatura que era constante de menos 32. O meu corpo sentiu muito, a respiração e a mente também. Parado ou dormindo, você perde muita energia por causa do frio. Para o corpo se manter a 36 graus com um ambiente a menos 32 é necessária muita caloria. Sem contar que estar na Antártida e esperando a ‘janela de oportunidade’ foi bastante desafiador. Eu não sou uma pessoa muito paciente e ficar esperando sem ter um ‘norte’, sem saber o que iria acontecer, foi complicado. Para se ter uma ideia, dos 22 dias que eu fiquei no continente antártico, foram seis dias na montanha e todos os outros foram só de espera. Mas o tempo todo eu ficava resgatando o sentido de tudo aquilo e o que eu estava fazendo ali. Você não pode deixar a impaciência e a ansiedade da mente vencerem o propósito maior que, no meu caso, era viver a experiência de tudo aquilo e conquistar a montanha.
 


 
E qual a sensação de atingir o objetivo?
Thaís: Olha, a sensação de atingir o Cume, por mais curioso que seja, foi de pressa no sentido de querer descer dali o mais rápido possível. O tempo estava muito feio, com muito vento e frio – quase cancelamos a expedição a 25 metros do Cume pelo risco de congelamento das extremidades. Quando o tempo abriu e tivemos a chance de chegar, o que eu mais queria era sair rápido dali e evitar qualquer tipo de perigo ou que a gente ficasse preso a um tempo pior. O que eu posso concluir com isso é que o que mais vale a pena é sempre a jornada: é o preparo e estar lá. Poder usufruir daquele ambiente tão selvagem e intocado que é o Cume em si foi só a consequência de um bom trabalho.
 
 
E valeu a pena?
Thaís: Não é o cume que faz o esforço valer a pena, é o aprendizado. Tudo o que eu aprendi nessas últimas quatro montanhas equivaleram há muitos anos da minha vida. Foi pouco tempo da montanha, mas o desgaste foi muito intenso, físico ou emocional. Então, este aprendizado foi o que fez tudo isso valer a pena. Eu tenho aprendido a cada montanha que o cume é a consequência de foco, disciplina e entrega. No final, o que vale a pena mesmo, é o aprendizado.
 
 
Você teve que abandonar algo para seguir com o projeto?
Thaís: Não tive que abandonar nada, só precisei organizar muito bem a minha rotina e os meus horários. Eu treinei muito durante a semana e por isso tive que organizar o meu trabalho. Hoje eu tenho a minha empresa de coach com processos que são cíclicos, duram de dois a três meses, então eu consigo fazê-los caber entre uma expedição e outra. Não tive que abandonar emprego – muito pelo contrário – hoje é o meu trabalho que suporta e subsidia todas as minhas expedições. Infelizmente, eu não tenho patrocinador. Até busquei muitos, inclusive na região de Bauru, mas o momento do mercado não é o mais favorável para isso – ainda que esteja aberta para encontrar alguém que me ajude a subsidiar parte da expedição para o Everest que é a mais cara.
 
 
Neste momento, o que você mais está sentindo falta de Bauru?
Thaís: Acho que é andar de chinelo Havainas na rua e sentir o calor; estar com as pessoas falando em português – aqui eu só falo em espanhol e inglês – da Felipa, que é a minha cachorra, e das pessoas da minha família que sempre me fazem lembrar de onde eu vim, torcem muito por mim e pelo sucesso do projeto. E eu espero que essas palavras possam incentivar as pessoas a se moverem em direção aos seus sonhos e a darem o primeiro passo para atingir qualquer objetivo. Espero que o ano de 2016 seja transformador.

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