tassia-sardao

Graduada em Educação Artística (com Habilitação em Artes Plásticas) pela UNESP, campus de Bauru, Tássia Sardão vem produzindo diversas séries de trabalhos pictóricos, mesclando técnicas e fazendo uso de materiais variados, a fim de obter um trabalho mais heterogêneo, orgânico e capaz de dialogar com o atual momento da arte no presente cenário.

Com diversas séries de obras iniciadas, Tássia já expôs em diferentes locais, inclusive na cidade de Porto, em Portugal. Aos 27 anos de idade, ela já desenvolveu uma identidade própria em suas pinturas e seu estilo é marcado por cores fortes e contrastantes, além de pinceladas agressivas que geram mais manchas do que traços.

Tássia recebeu o Social Bauru em sua casa, para um bate-papo totalmente à vontade, ao som de Rosita Serrano – uma das inúmeras mulheres que a inspiram – e falou detalhes de sua trajetória, vida e obra. Nesta terça-feira (8), a artista irá expor na 27ª EXMARTE, que será realizada na Pinacoteca Municipal. Mais que homenagear, ela quer retratar e mostrar as inúmeras mulheres que estão por aí; além das dores e delícias que há em ser mulher. Confira o bate-papo:

Quando a arte surgiu na sua vida?
Tássia: Desde criança. Nem sei como foi este começo. Acho que eu nasci assim. Na minha família, por exemplo, não tem nenhum artista. Mas tudo aflorou quando eu morei em Portugal. Fiquei lá cerca de um ano, por causa de um intercâmbio que eu fiz na faculdade. Sou formada em Educação Artística, com habilitação em artes plásticas, pela Unesp de Bauru. Em Portugal, eu tive a oportunidade de estudar belas artes. Aqui, a minha formação é como educadora e lá é artística. Neste um ano que eu estive lá, eu pude viajar e conhecer as obras de arte que tanto me inspiraram e foi fabuloso. Fui para Espanha, França, Marrocos, Itália e Holanda. O interessante é que estar lá me fez olhar um pouco para o Brasil. Um pouco não, me fez olhar muito para o Brasil! Eu comecei a olhar para as minhas raízes. Eu sou do interior, da cidade de Guariba, na região de Ribeirão Preto e fui criada em Pradópolis, que é uma cidade menor ainda. Então, este tempo na Europa me fez pensar muito no meu passado e me fez querer voltar a estudar a história do Brasil. Eu comecei a me interessar cada vez mais pelas minhas origens, minha educação e pelas minhas raízes. E eu acho que consigo expressar muito isso no meu trabalho, que é a memória, principalmente da infância. Ela está bem presente de maneira ritualística; com este ritual vivido como cotidiano, na verdade. Além de ter muitos elementos da minha formação católica e muita retratação da figura feminina. A minha mãe é uma pessoa muito influente na minha vida. Também retrato o feminino de forma sensual e erótica, e gosto de trabalhar o conceito de morte, de uma forma subjetiva, mas é um dos eixos. Sempre busco inspiração em outras mulheres de personalidade forte, seja na literatura ou na música.

Dizem que o meio influencia a profissão. No seu caso não foi assim, então…
Tássia: Não, eu acredito em dom. Não sei nada de vidas passadas, não sei nem se eu acredito. Mas sinto uma força interior muito grande. A arte, o desenho e a pintura sempre foram necessidades na vida. E a viagem que eu fiz acabou me incentivando ainda mais. Acho que viagem tem esse poder nas nossas vidas – desde que você esteja aberto pra isso. Acho que eu fui completamente nua, querendo conhecer esta nova cultura.

Em algum momento, o lado financeiro te fez questionar se era isso o que queria para a sua vida, já que vivemos em um país onde a arte não é valorizada?
Tássia: Não, nunca pensei. Venho de uma família muito forte. Minha mãe é viúva, eu não conheci o meu pai e sempre passamos muitas dificuldades. Ela, por ser uma mulher de uma força absoluta, me influenciou muito. E ela sempre me apoiou e acreditou em mim. Essa sempre foi a força que eu precisava para continuar. No fim, o universo conspira e o dinheiro vem.

Como surgiu o convite para você expor na Pinacoteca de Bauru?
Tássia: Eles me convidaram há um mês eu me senti muito honrada. Serão expostos 30 trabalhos meu.

Todos já estavam prontos ou você fez após receber o convite?
Tássia: Na verdade, eu só fiz um desde que eu recebi o convite. E é um trabalho muito especial para mim. Eu peguei um colcha antiga que trouxe da minha casa e recebi a ajuda de uma costureira para fazer algumas aplicações nela, com elementos como Espírito Santo e Nossa Senhora.

Eu imagino que receber o convite para expor na Pinacoteca tenha sido muito bom, mas fazer isso no Dia Internacional da Mulher, deve ter sido ainda mais especial, né?
Tássia: Com certeza! O meu trabalho diz muito sobre o feminino e sobre a construção social que é ser mulher. A gente realmente se torna mulher e é algo que ninguém entende.

tassia6

Para você, o que é ser mulher?
Tássia: Nunca pensei sobre isso, mas eu concordo com uma frase da Elke Maravilha que diz que ela não quer ser mulher, quer ser gente. Acho isso fabuloso.

Toda essa revolução que estamos vivendo hoje, te inspira de algum modo?
Tássia: Sim, eu estou achando lindo tudo isso. Tudo o que estamos discutindo hoje em dia. Acho importante que a mulher tenha mais auto-estima e não se submeta à tanta coisa. É importante que ela se reconheça enquanto pessoa. Cobram muito que a mulher sempre ceda. Mas espera aí, só a gente tem que ceder? É o casal, né? É muito complicado ser julgado por algo que a gente pensa e acredita. E durante séculos foi construída a ideia de que a mulher é a tentação ou o demônio e isso ainda persiste nas mulheres de hoje em dia.

Você foi muito julgada por ser mulher e artista?
Tássia: Não, mas já fui julgada pelas minhas ideias. Quando eu cheguei aqui, eu era um ‘bicho’. Mas aos poucos eu fui me encontrando. Hoje eu sei que sou linda do jeito e assim me desabrochei para a minha linguagem na arte.

Você tem as suas primeiras obras guardadas?
Tássia: Sim, eu tenho.

E você se reconhece nelas?
Tássia: Não, era tudo muito mais contido. Assim como eu. Era tudo muito metódico, certinho e acadêmico. Apesar de eu ter a alma rebelde, eu sempre tive uma educação mais rígida e isso refletia na minha obra. Acho que agora estou longe de tudo isso e vivo o que eu quero viver.

O que te inspira?
Tássia: A experiência do meu viver é o que me inspira. O artista precisa ter um olhar diferente para tudo. Eu me inspiro muito em Adélia Prado (poetisa, filósofa e professora) e ela diz que, às vezes, Deus tira a poesia e, ao ver uma pedra, ela só vê uma pedra. Acho que o artista vê muito mais.

Você acha que as mulheres vão se sentir homenageadas ao ver a sua exposição?
Tássia: Será que é uma homenagem? Eu não sei… Acredito mais que elas irão se encontrar. Eu espero que isso aconteça. Eu tenho o lado feminino muito aflorado e percebo que as mulheres perdem isso ao longo do caminho por causa de contratos sociais. Elas são esposas, são mães e acabam deixando outras coisas de lado. No fundo, quem é esta mulher?

Você acha que as mulheres têm algo para comemorar no dia de hoje?
Tássia: Acredito que sim, mesmo a caminhada sendo longa. Eu passo por problemas todos os dias, por ser mulher. Eu já sofri agressão física por ser mulher. Eu me senti completamente violada. Mas temos que comemorar sim, porque conquistamos muito.

Serviço
O evento terá abertura no nesta terça-feira (8) às 20h, com cerimonial de Fábio Valério, performance d’As Lobas, dança circular com o grupo Rodamundo e performance de Geni e o Zepelim e Be Italian, com Diego Almeida. A 27ª Exmarte fica aberta até o dia 31 de março. A Casa Ponce Paz fica no cruzamento das ruas Ezequiel Ramos e Antônio Alves, 9-10, 14 32321552.

Compartilhe!
Carregar mais em Cultura
...

Verifique também

Ao som de pagode, Sun7 no BTC terá shows da Envolvência, Kamisa 10 e Grupo Vibe

No dia 11 de maio, a partir das 18h, o BTC recebe a ‘Sun7’, uma festa ao som de pagode com…