9 de julho topo

Você sabia que o dia 9 de julho é feriado? E que ele acontece só no estado de São Paulo? Já reparou que a data é nome de várias ruas por todo o estado?

No dia 9 de julho de 1932 eclodiu a Revolução Constitucionalista do estado de São Paulo contra o governo Vargas. Para entender melhor as razões desse levante, é preciso lembrar da Revolução de 30 e do contexto histórico que o Brasil e o mundo atravessava no momento. Com a ajuda de Maria Ester Cacchi, professora de História, e de Matheus Nacli, graduado em História pela Universidade do Sagrado Coração (USC), o Social Bauru tentará esclarecer o porquê do dia 9 de julho ter sido considerado feriado por uma lei estadual de 1997.

A Revolução de 1930 foi um movimento armado, liderado pelos estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba, insatisfeitos com o resultado das eleições presidenciais e, também, com a crise econômica que assolava o mundo depois da quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929. O resultado foi um Golpe de Estado, o Golpe de 1930. O Golpe derrubou o então presidente da república Washington Luís, impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes, colocou fim à “República Velha” (ou “República do Café com Leite”, que mantinha o controle do país com os grandes cafeicultores de Minas Gerais e São Paulo) e levou Getúlio Vargas ao poder de maneira provisória.

Vargas, no período inicial de “Governo Provisório”, suspendeu a Constituição de 1891, dissolveu o Congresso Nacional, os Congressos Estaduais (câmaras e senados) e Câmaras Municipais. Ele também colocou interventores em cada estado brasileiro, menos Minas Gerais, e o interventor escolhido para São Paulo não era paulista, fato que desagradou a classe alta do estado. “O que se notou foi que as promessas democráticas da Revolução de 1930, como a de eleições, no ano de 1931 inteiro não se viu ocorrer e o estado de São Paulo, depois de anos alternando o poder do Brasil com Minas Gerais, se percebeu fora ou sem representação direta. Tudo isso levou a uma grande tensão”, explica Matheus.

“Os paulistas fizeram uma série de reivindicações que incluíam a saída do interventor pernambucano João Alberto, governador de São Paulo, eleições e a constitucionalização do país. Como o governo não atendeu, uma série de manifestações passaram a ocorrer”, conta a professora Maria Ester Cacchi. Em uma dessas manifestações, quatro jovens (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo) foram mortos pelas forças que apoiavam Vargas. Esse fato incentivou a criação de um movimento de oposição ao governo chamado MMDC – menção aos sobrenomes dos quatro jovens – e precipitou a revolução, que teve seu início em 9 de julho.

Foram 87 dias de combate (de 9 de julho a 4 de outubro de 1932 – contando a rendição final). “O plano dos revolucionários era realizar um ataque fulminante sobre a capital da República, obrigando o governo federal a negociar ou sair do governo. Mas, o plano falhou e o governo central agiu rápido no sentido de conter os revolucionários. São Paulo ficou praticamente sozinho”, afirma Maria Ester. O palco principal de combate era o Vale do Paraíba (que era o principal acesso ao Rio de Janeiro – capital da República na época).

Os paulistas tinham recursos limitados, inclusive em termos de artilharia. Houve a utilização da ferrovia, com trens blindados, mas a superioridade do governo central era muito grande. “Era comum o recrutamento e incentivo de voluntários, assim como documentos os cartazes convocando os paulistas à guerra”, conta a professora. Maria Ester também comenta que houve um combate na região central de São Paulo, em Botucatu, que contou com a participação ativa até da Igreja Católica, a qual doou dinheiro e organizou um batalhão para combate. “Podemos dizer que realmente foi uma guerra civil”, afirma Maria.

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O único apoio real que São Paulo recebeu foi do estado de Maracaju, estado federativo brasileiro que existiu sem a autorização da União (no atual Mato Grosso do Sul) e a Frente Única Gaúcha, que era composto por partidos do estado do Rio Grande do Sul. Entre os paulistas, muitas pessoas doaram joias e outros bens de família, atendendo a campanha: “Ouro para o bem de São Paulo”.

A Revolução Constituinte de 1932 terminou depois de três meses de luta, no dia 2 de outubro do mesmo ano, com uma rendição paulista. “A derrota foi no campo de batalha. Mas, politicamente, o movimento atingiu o objetivo”, afirma a professora de História. Matheus Nacli vai na mesma entoada. “Apesar da derrota militar sofrida pelos paulistas, considera-se uma vitória moral, pois após a Revolução, propiciou importante melhoria na democratização do país, com as eleições para a Assembleia Nacional Constituinte em maio de 1933 e a Constituição de 1934”. Constituição essa que tem como marcos o voto feminino, o voto secreto, a criação da Justiça do Trabalho e o Alistamento Militar Obrigatório para maiores de 18 anos.

Muitos questionam, assim como sobre a Revolução de 30, se esse levante pode ser considerado realmente uma revolução. Para Maria Ester é uma questão interessante, “se considerarmos que o movimento de 32 foi a luta pela constitucionalização do país e uniu diferentes setores sociais, da cafeicultura à classe média e industriais, podemos dizer que temos um quadro revolucionário de contestação ao governo central”. Já Matheus apoia sua opinião em outros historiadores: “Pesquisadores consideram o termo não muito apropriado, pois a revolta paulista desejava a normatização do processo eleitoral e não uma mudança das relações de poder ou algo do tipo. A Revolução de 1932 foi mais uma revolta, um levante, uma guerra civil, como afirma o historiador Leandro Karnal”.

A Revolução de 32 pode ser comparada com o momento atual?
Como qualquer movimento político, o passado é sempre lembrado quando algo grande acontece. O Brasil passa por um momento conturbado e extremamente polarizado em meio à uma crise política latente com o processo de Impeachment da presidente eleita Dilma Rousseff.

Perguntada sobre possíveis comparações entre os dois momentos históricos, Maria Ester é categórica. “A história ensina através do passado, mas é perigoso estabelecer comparações que possam levar a uma anacronia histórica”, opina. “Dessa forma, podemos dizer que o momento político é bastante delicado e que aponta para conflitos sociais. Mas, exercer uma comparação efetiva, como contextos mundiais tão diferentes, não é apropriado”, conclui.

Matheus também acha complicado fazer qualquer tipo de comparação. “Acredito que o momento atual é ainda mais polarizado, por conta da Internet e das redes sociais. As pessoas têm muita informação, mas conhecimento continua sendo difícil, pois elas são bombardeadas de notícias, mas não têm tempo e, às vezes, nem meios de processar tudo e acabam pegando um só lado da história”, afirma.

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