Segundo dados do IBGE, mais de 50% da população brasileira é composta por cidadãos negros. Porém, é comum ver relatos como: “Menina negra tem cabelo cortado na escola”, “Colegas de turma chamavam meu cabelo de bombril”, “Falavam que meu cabelo era ruim”, entre outras ações que invisibilizam a existência do cabelo crespo.

E é nesse cenário escolar reprodutor do racismo estrutural que nasceu o projeto “Cabelo Crespo é Cabelo Bom”. A idealizadora é Titta Santos, cabeleireira especialista em crespos e cacheados. Titta é natural de São Paulo e mora em Bauru há cerca de 20 anos. Ela é cabeleireira desde 2016; o projeto nasceu no mesmo ano.

Funciona assim: Titta vai às escolas para dar palestras com 1 hora de duração sobre cuidados com os cabelos crespos, cacheados e como amar as madeixas naturais. Ela também fala sobre construção da autoestima em pessoas negras e incentiva os alunos a consumirem conteúdo feitos por indivíduos negros.


Palestra no SESI em agosto de 2022

A cabeleireira explica que encontra muitas meninas e meninos que não sabem como cuidar corretamente do cabelo por falta de informação, e às vezes, até adultos.

“Uma vez estava dando palestra para criança na escola, e tinha uma mãe lá que estava encantada porque ela viu ali a possibilidade de cuidar do cabelo da filha e do próprio cabelo de uma maneira um pouco mais acessível”, Titta recorda.

As visitas em escolas públicas são totalmente gratuitas, para escolas particulares há uma taxa a ser combinada para a consultoria.

Stela Machado em 2021

O nascimento da ideia

Titta relembra que em 2010 sofreu um corte químico severo no cabelo, e isso a motivou procurar salões que cuidavam de cabelos afro sem aplicar nenhuma química alisante. No entanto, a cabeleireira não encontrou profissionais que tratassem os crespos e cacheados de maneira natural.

Ela ainda acrescenta que o cabelo cacheado tende a ser mais aceito socialmente do que o crespo. Por isso, muitas vezes, meninas crespas acabam se assumindo como cacheadas e se inspiram em pessoas cacheadas, no entanto, os cuidados com os cabelos são totalmente diferentes.

“Os nossos cabelos tem alta luminosidade, tem outro jeito de finalizar, formam molas, não formam cachos, então até isso eu tenho que levar na palestra”, Titta explica.


Titta em seu salão na Casa Autoral

Além disso, os produtos para cabelos crespos costumam ser caros, o que dificulta mais ainda quem quer manter o cabelo natural. Por isso, em suas falas, a cabeleireira ensina a usar ingredientes naturais para deixar o black bem poderoso.

“Meu foco é mostrar principalmente para as crianças e para os adolescentes que é possível cuidar do cabelo com o pé de babosa que a gente tem em casa, que a gente pode passar o abacate, usar o óleo de azeite extra virgem para você ter uma qualidade melhor, uma maciez e conseguir desembaraçar”, completa Titta.

Espalhar a palavra do crespo

As palestras acontecem em escolas e também em instituições de caridade. O público é variado, há meninas, meninos, funcionários escolares, pessoas negras e brancas. Em algumas oportunidades, a cabeleireira comenta que já apresentou o seu projeto para escolas inteiras e em visitas mais pontuais que integram atividades escolares.


Stela Machado em 2021

Para o futuro, a ideia é investir em produção cultural e conseguir editais de apoio à cultura, assim o projeto poderá alcançar mais pessoas por meio de ações feitas na cidade. E sobre os feedbacks que recebe, Titta diz: “Eu me sinto completa. Sinto que cheguei aonde eu queria chegar. Esse é o meu retorno pra sociedade, fazer esse trabalho voluntário”.

Para receber o projeto na escola, basta entrar em contato com a Titta e combinar o melhor dia e horário para a palestra.

Escola Henrique Rocha de Andrade

Serviço
Projeto Cabelo Crespo é Cabelo Bom
Instagram: @tittacresposecachos
Contato: tittacresposecachos

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