O Brasil estreia nesta segunda-feira (24) na Copa do Mundo, com transmissão da Globo. A exibição dos jogos na emissora acompanha uma cobertura que começou meses antes, além de fazer parte de uma mudança na mídia. A Cazé TV, por exemplo, vai transmitir todos os jogos da competição.

A última edição do mundial, em 2019, já tinha representado um avanço para o futebol feminino. São questões presentes no livro ‘Mulheres em Campo: Gênero no Jornalismo Esportivo Brasileiro’, da jornalista e pesquisadora bauruense Érika Alfaro.

Com 236 páginas, a obra tem três pilares: futebol feminino, jornalismo esportivo e estudos de gênero. O livro, publicado pela Editora Appris, explora as origens do futebol feminino, analisa a relação da modalidade com a cobertura midiática e aponta os aspectos marcantes dos mundiais.

O lançamento de Mulheres em Campo acontece no dia 28 de julho, às 19h, na loja Empório Cultural do Boulevard Shopping.

Paixão de infância

O livro é resultado da pesquisa de Érika, formada em jornalismo e mestre pela Unesp-Bauru, e traz um olhar maduro e analítico para as questões sociais, midiáticas, culturais e econômicas que envolvem o futebol feminino, escrito em uma linguagem clara, que foge da escrita acadêmica.

Pesquisadora de futebol feminino

É resultado também da paixão por esportes, seja acompanhando o Palmeiras com a família desde criança ou praticando diferentes modalidades na escola. O que inclui também a briga por espaços nessa área.

“Eu não era encorajada a praticar esportes”, relembra a bauruense. “Eu tenho lembranças de brigar para jogar na escola. Quando não tinha aula, os meninos iam jogar bola, e eu queria ir também. Eu precisava chamar as inspetoras para eles deixarem eu participar”.

O espaço da mulher no esporte

Outra razão de por que a bauruense adora o esporte é a força do tema para a conquista das mulheres na sociedade. “Falar de futebol feminino é falar de reivindicação e protesto. Apesar de ter dinâmicas próprias, o futebol também reflete e ajuda a construir a visão da mulher na sociedade”, comenta. 

“Eu acho que o tema do futebol e direitos femininos caminham de mãos dadas. O movimento feminista atinge na modalidade, assim como um avanço no futebol feminino atua na forma como a mulher é vista na sociedade”, acrescenta.

História do futebol feminino

Um dos objetivos de ‘Mulheres em Campo’ é relatar a história do futebol feminino, que, como em qualquer área, significa luta por espaço.

Pesquisadora de futebol feminino

Começando pelo fato de que, entre 1941 e 1979, as mulheres eram proibidas de praticar esportes, incluindo o futebol. “O Brasil já era tricampeão do mundo no futebol, e as mulheres não podiam jogar”, enfatiza Érika, destacando como os quase 40 anos de proibição por lei afetaram o desenvolvimento da prática.

Mesmo depois do fim da proibição, as mulheres ainda eram tratadas de forma diferente. Jogos de 80 minutos no total no mundial de 1991 (uma forma de desvincular do futebol masculino); revistas focando na beleza e objetificando as atletas; e a exigência de cabelos longos, unhas feitas e uniformes justos para os jogos pela federação paulista foram alguns dos preconceitos.

Pesquisadora de futebol feminino

Conquistar os espaços no futebol

Essa história de obstáculos é acompanhada por mulheres que cobraram o desenvolvimento da modalidade. O pedido por melhores condições para a CBF ou o protesto da Marta, uma das maiores atletas do século, nas Olimpíadas são exemplos. 

O resultado do movimento das atletas ressoa em avanços nos últimos anos, com a obrigação de investimentos no futebol feminino; igualdade de gênero no estatuto da FIFA; campeonatos estruturados; mais transmissões na televisão; chegada de profissionais de mídia como Renata Silveira e Ana Thaís Matos; dirigentes como Aline Pelegrino e Leila Pereira; equiparação de diárias na CBF.

Próximos passos para o futebol feminino

Apesar desses avanços, Érika reforça que a luta por espaço ainda é uma realidade no futebol feminino. No capítulo ‘Entre Lutas e Conquistas’, a pesquisadora coloca essas mudanças em contexto. “A evolução é palpável, embora comparando com um passado que era muito amador. Então, vivemos nessa dualidade de comemorar conquistas, mas ainda de busca”, diz.

A transmissão de campeonatos é importante, mas é preciso ampliar para exibir todos os jogos, e não só os decisivos. Tais questionamentos mostram a relevância da obra de Érika ao contribuir para a discussão sobre o desenvolvimento do futebol feminino.

Da mesma forma, para a Copa do Mundo que começa hoje para a seleção brasileira, Érika já alerta sobre a necessidade de uma cobertura séria, que supere estereótipos, foque na história do futebol feminino, traga conhecimento e insira o assunto na rotina das pessoas. “Tem que ser uma abertura mesmo. Que torne o futebol e o esporte algo mais plural, inclusivo e diverso”, finaliza.

Compartilhe!
Carregar mais em Cultura

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Verifique também

Ao som de pagode, Sun7 no BTC terá shows da Envolvência, Kamisa 10 e Grupo Vibe

No dia 11 de maio, a partir das 18h, o BTC recebe a ‘Sun7’, uma festa ao som de pagode com…