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Não é surpresa pra ninguém que o cinema nacional se divide entre comédias e dramas. Afinal, riso garante bilheteria, enquanto lágrimas conquistam prêmios. Com raras produções sobre o público jovem, “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” merece destaque por preencher essa lacuna de forma honrosa e – o melhor de tudo – por não subestimar a inteligência da plateia. De quebra, ainda cumpre o papel social de retratar a descoberta da homossexualidade na juventude, tema pouco explorado na sétima arte e tão urgente nos tempos atuais.

Longa de estreia do diretor e roteirista Daniel Ribeiro, “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” reaproveita muito do roteiro – e até do nome – de um curta-metragem que o cineasta rodou em 2010, chamado “Eu Não Quero Voltar Sozinho”. Na história, o jovem Leonardo é um rapaz cego e bastante introspectivo, cuja única companhia é a amiga Giovana. Superprotegido pela família por causa da deficiência, Léo começa a ampliar seu universo quando desenvolve uma forte amizade com Gabriel, um aluno recém-chegado à escola. Uma proximidade que se complica quando os sentimentos se misturam e que vai gerar uma série de descobertas para ambos.

Conduzido com segurança e sutileza, o filme consegue, desde o começo, fazer com que os jovens retratados pareçam reais. Desde a escalação de atores que aparentam a idade dos personagens (ao contrário dos trintões de “Malhação”), é nítido o cuidado para que a adolescência esteja presente em cada visual, figurino e até nos jeitos de andar. Auxiliado por diálogos que realmente parecem ditos por meninos de 15 anos, o trio de protagonistas aproveita a química e a dinâmica que desenvolveram no curta-metragem para reprisar seus papéis com a mesma vivacidade, introduzindo novas nuances nas motivações de cada personagem.

Ainda que algumas situações envolvam uma inocência que a juventude atual não tem mais, é visível que ela vem da influência dos filmes adolescentes dos anos 80 no projeto. Por isso, “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” reproduz chavões como a turma do fundão que alopra o protagonista, as festanças quando os pais viajam, as fugas de madrugada e as brincadeiras cuja única função é levar ao primeiro beijo. No entanto, ao invés de soar como clichês ou muletas criativas, o uso desses elementos homenageia um tempo em que ser jovem era menos complicado e, certamente, vai trazer lembranças emotivas principalmente nos adultos presentes na plateia.

É provável que “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho” fique marcado como a produção que falou sobre homossexualidade na adolescência para toda uma geração, que ajudou muitos meninos a entender o que sentiam. Ao tratar o assunto com sensibilidade e naturalidade, o filme cria um modelo saudável para tantos jovens perdidos em relação à orientação sexual. Um novo parâmetro em que o amor surge como algo natural, sensível e cativante. E que independe do gênero das pessoas envolvidas.

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