O projeto
Quando se fala de minorias, principalmente ligadas à sigla LGBT+, é comum pensarmos nas com mais visibilidade – sim, até entre os grupos marginalizados existe um “ranking” que oprime mais um do que outro. Pensamos LGBT+ com uma gigantesca letra “G”, seguida da “L” um pouco menor e passando por um “B” ainda não muito bem entendido. Mas e o “T”? É travesti, transexual, transgênero? Os três? E que ‘diabos’ é esse “+”?

São inúmeras questões que têm respostas. O grande problema é que os personagens desses grupos que ficam à margem dos marginalizados não têm espaço para respondê-las. Pensando nisso, cinco alunos do quarto ano do curso de Rádio e TV da Unesp de Bauru – Raquel Oyakawa, Gregory Damaso, Sillas Carlos, Vinicius Laureto e Leandro Freitas – usaram o trabalho final da matéria Sociologia da Comunicação para falar sobre a parte da comunidade LGBT que não tem visibilidade.

O trabalho já tinha como gancho algum projeto que empoderasse e desse voz a alguma minoria social. “A partir de um brainstorm do grupo chegamos ao fio condutor de abordar as lutas, as questões de pessoas integrantes do universo LGBT+, fazendo um recorte para as “siglas” mais invisibilizadas pela mídia”, explica Leandro Freitas. A partir disso o grupo chegou em três temas: transexual, drag queen e não-binário. Nascia o “Sobre Ser”.

A decisão partiu de uma vontade já antiga de Sillas. “Há um tempo eu andava com a ideia de fazer algo voltado para a comunidade LGBT antes de sair da faculdade, mas, por conta da quantidade de trabalhos e projetos, ainda não tinha conseguido produzir”, conta Sillas. Loriza Lacerda, a professora, deixou o método de avaliação tradicional de lado e propôs a livre escolha dos alunos, que a partir do conteúdo dado em sala poderiam fazer um produto, artigo ou seminário.

Estudantes do quarto ano de Rádio e TV da Unesp Bauru e responsáveis pelo projeto "Sobre Ser"
Estudantes do quarto ano de Rádio e TV da Unesp Bauru e responsáveis pelo projeto “Sobre Ser”

Audiovisual e o reconhecimento
Usar o método audiovisual foi uma ideia muito bem pensada pelos membros do grupo. O formato é uma mistura de documentário com websérie. “É uma websérie documental de 3 episódios em que em cada episódio acompanhamos uma personagem que representa um grupo dentro do universo LGBT+”, explica Leandro.

“Sabemos o poder que o audiovisual tem de trazer a discussão e conscientizar sobre os mais variados temas”, afirma Sillas. O “Sobre Ser” foi produzido em um curto período de tempo, devido ao calendário apertado da Unesp. “O período de concepção da ideia, roteirização e pré-produção ocorreu entre os dias 21 e 25 de setembro”, diz Sillas. As gravações ocorreram nos dias 26,27 e 28 de setembro e o produto final ficou pronto no dia 4 de outubro.

Foi um curto período de produção, mas que com a divulgação do primeiro episódio – “Transsexual”, com Olga Barbosa – os resultados já se mostram. “Percebemos como é possível tocar as pessoas através de coisas simples, como um vídeo de três minutos na internet. Pode parecer pouco, mas com essas pequenas ações, acreditamos que o preconceito com pessoas trans podem ser desconstruídos, dia a dia, até chegarmos numa sociedade mais justa e respeitosa com todas as pessoas”, diz Grégory Damaso, esperançoso.

Os elogios e reconhecimento vieram rápido e de diversas formas: nas mais de 500 visualizações, comentários de amigos e desconhecidos e, principalmente, na forma de Olga Barbosa. “Tivemos várias mensagens de pessoas que adoraram o projeto. Mas a principal foi da Olga, nossa primeira entrevistada. Ela amou o resultado final e isso nos deixou muito emocionados e foi para nós a parte mais importante da repercussão”, confirma Leandro.

Local de fala
A maior dificuldade na produção do “Sobre Ser” não foi técnica. O grupo é formado por cinco pessoas cisgênero – ou seja, cinco pessoas que “aceitam” o gênero que a sociedade lhe designou ao nascerem. E, como já falado, a falta de oportunidades de fala para grupos marginalizados existe e é séria. Então, como pessoas “cis”, qual o jeito de dar algo sem tomar o protagonismo?

“Quando se produz audiovisual é importantíssimo ter noção da sua posição no mundo. O produto reflete seu produtor. Então, abordar temas dos os quais não se tem vivência é sempre um desafio. Estar ciente disso foi fundamental para fazermos o ‘Sobre Ser'”, explica Sillas. O projeto seguia um roteiro com perguntas base, mas era de suma importância para os produtores que o destaque fosse das personagens. “Durante todo o processo, pesquisamos bastante e tentamos deixar claro para os entrevistados que o projeto era um espaço feito para eles falarem o que bem entendessem”, completa Sillas.

Dar o local de fala necessário para pessoas marginalizadas é um aprendizado. Por isso, é também necessário, pois conhecer o desconhecido evita ignorância e, consequentemente, o preconceito. “Aprendemos como ainda há muitas pessoas que estão presas a estereótipos em relação à pessoas trans e também a um sistema binário de gênero, ou seja, homem e mulher. Isso nos mostra a importância de produzir conteúdo desse tipo”, finaliza Grégory.

“Sobre Ser”
O primeiro episódio do projeto foi ao ar na última quarta-feira, com a transsexual Olga Barbosa. São três episódios no total. O próximo será publicado no canal do Youtube nesta quarta.

O segundo episódio terá a temática “Drag Queen” e trará a história de Luca. O terceiro abordará o mundo “Não-Binário”, com a participação de Guilherme. Todos os personagens são residentes de Bauru.

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