Como você se sente ao olhar no espelho? Em algum momento você já pensou em mudar algo do seu corpo que não lhe agrada? Você já olhou para as pessoas em capas de revistas, redes sociais e televisão e pensou que queria ser iguais a elas?

A forma como somos expostos diariamente com corpos magros, altos, maquiados e perfeitamente penteados enraíza nas pessoas o que conhecemos como padrões de beleza.

Esses padrões, muitas vezes, fazem com que as pessoas se sintam insatisfeitas e infelizes com elas mesmas, criando uma falsa verdade sobre a beleza.

E não se engane ao pensar que os padrões só afetam adolescentes. Desde muito cedo até a idade adulta somos expostos a falas como: “Você está muito gordinha”, “Ela é linda, pena que está gorda”, “Alise seu cabelo, vai ficar mais bonito”.

Laura Almeida é aluna de jornalismo, e contou para gente como sofreu com os padrões de beleza desde cedo e como foi o processo para se sentir melhor consigo mesma.

Você já sofreu algum preconceito/ ouviu alguém falar algo por causa de um padrão de beleza?
“Preconceito não, até porque acho que me aproximo de alguns padrões de beleza. Mas a gente sempre escuta coisas relacionadas à nossa aparência, né? Meus familiares viviam implicando com a minha magreza, mas quando eu engordava, eles faziam comentários infelizes. Durante a adolescência eu tinha muitas espinhas, e vivia passando base para cobri-las; em relação ao cabelo, nunca alisei, mas sempre tinha alguém para comentar sobre meus frizz ou o volume dele, e sugerir ‘já pensou em fazer progressiva?’. Esses comentários eram muito comuns em rodinhas de colegas”.

Para você o que são os padrões de beleza e quem os cria?
“Resumidamente, o padrão de beleza é tudo aquilo que nos é imposto sobre aparências físicas. É a matéria sobre uma dieta que aparece no nosso feed e ao mesmo tempo é a escolha de uma atriz X para representar uma marca, já que ela está dentro daquilo que é considerado bonito. E fica até difícil falar de quem cria esses padrões, já que eles estão enraizados na nossa sociedade há muito tempo. Mas é fácil ver quem reforça esse discurso: a mídia, celebridades (incluindo os tais influencers), empresas, publicidade e o próprio senso comum”.

Quais os motivos para os jovens de hoje em dia serem tão afetados pelos padrões de beleza?
“Antes tínhamos mais esse contato com os conceitos de beleza pela televisão, revistas… Hoje isso vem principalmente pela internet, o que é muito mais rápido e completo. Isso também se intensifica com as questões que envolvem saúde mental nesse momento social tão estressante”.

Na sociedade atual, as redes sociais têm ajudado a propagar os padrões de beleza de forma negativa?
“Majoritariamente, sim. Pelas redes sociais a gente recebe muita informação e conteúdo empoderador, mas, ao mesmo tempo, somos bombardeadas por fotos de mulheres ‘perfeitas’, textos/vídeos relacionados em como ter um corpo bonito, a pele perfeita, o cabelo ideal… Acho até perigoso isso”.

Você já se sentiu desconfortável com a sua aparência? O que fez para mudar isso?
“Sim, principalmente durante a adolescência, que estamos mais vulneráveis para esse tipo de coisa. Acho que além do amadurecimento natural, eu comecei a praticar muito a questão da aceitação, que é: ir atrás de imagens reais de mulheres, entender toda essa coisa dos padrões, compreender também como nosso corpo funciona e que essas ‘imperfeições’ (muitas vezes apontadas pela mídia) são NORMAIS. Sério, nossos corpos são lindos e certíssimos para todos os padrões, independente do jeito que são; o que é errado é esse discurso que tentam enfiar na nossa cabeça”.

Em qual momento, os padrões de beleza pararam de afetar a sua vida?
“Na real, eles afetam até hoje e provavelmente vão continuar afetando minha vida, e das outras mulheres, até o dia em que esse discurso continuar sendo propagado (o que acho que será para sempre, infelizmente, porque há quem goste e há quem se sustente a partir disso). Mas nem por isso devemos desconsiderar os avanços já conquistados e também deixar de compartilhar essa ideia contrária aos padrões impostos”.

Para você, é possível mudar a opinião das pessoas sobre os padrões de beleza? Como?
“Acho que não dá para generalizar e fazer uma mudança radical. É complexo entender como que funciona essa ‘manipulação’ sobre nossa imagem e depois passar isso para nosso lado pessoal. É simples perceber que existem padrões impostos (acho que a maioria pode notar isso), mas é complicado lidarmos com eles diretamente dentro de nossas vidas; acho que já existe um conformismo, entende? As pessoas acham a Bruna Marquezine bonita e pensam ‘mas eu não sou assim, não me pareço com ela… Fazer o que, né, ela tem dinheiro’, sei lá, isso não é saudável”.

A autoestima pode ser algo facilmente abalado. Quais dicas você daria para meninas (os) aprenderem a amar o próprio corpo?
“Aceitação e autoconhecimento, tanto físico quanto emocional. Além de também ter a noção de que nada é perfeito. Mas isso é um processo, sempre vai ser… Vão ter recaídas, mas também terão dias tão lindos quanto nossos corpos, rostos e cabelos! (risos). Acho importante entender a parte biológica do nosso corpo (saber que celulite e estrias são normais); se apegar a conteúdos que falam sobre autoestima, e conversar disso com as pessoas; saber que existem muitos recursos (photoshop e maquiagens) para apropriar a aparência das pessoas, e que por isso não devemos se basear na beleza de alguém para encontrarmos a nossa… Enfim, coisinhas que vão fazer você refletir sobre o assunto. É bem difícil, mas os avanços aparecem (juro!)”.

Outras vozes

Laura não é a única garota que sofreu com os padrões de beleza, outras bauruenses com a hair stylist Bruna Nekis e a blogueira Paula Bastos também já passaram por situações de insatisfação com o “eu”.

Mas com o tempo, aprenderam a desenvolver o amor próprio!

Bruna conta que já sofreu preconceito por causa do seu cabelo, encaracolado, chegando ao ponto de nem mesmo ser atendida em uma loja.

Além disso: “quando eu era mais jovem, eu era muito magra. Eu tinha vergonha de sair de casa, e usava roupas largas. Cheguei a usar duas calças legging e depois a calça jeans, para apresentar que eu tinha ‘corpo’. Foi uma das piores fases da minha vida!”

Contudo, Bruna conta em que momento começou a aprender a se gostar do jeito que era.

“A partir do momento em que eu comecei a me conhecer, a saber quem eu era de verdade. Quando eu comecei a olhar pro espelho com olhos de amor, de orgulho. Quando, comecei a me elogiar, a ter orgulho das marcas de expressão, dos lábios carnudos, do cabelo cacheado. Quando, enfim, parei de comparar, e passei a ser eu mesma!”.

A blogueira Paula Bastos também sofreu com a aparência durante quase 28 anos de sua vida. Por ser uma criança, desde sempre, muito grande e muito alta, sempre destoava das pessoas.

“Quando eu era criança, eu me lembro de ser mais alta até que os meninos mais altos da minha sala, então, às vezes, para dançar na festa junina do colégio, eles pegavam alunos de outras séries, ou a professora se vestia de homem para dançar comigo, porque eu era muito grande. Tudo isso, por mais bobo que pareça, sempre fez com que eu me sentisse meio anormal”, ela conta.

Quando começou a se aceitar como era, Paula percebeu que os padrões de beleza são criados, muitas vezes, por indústrias que ditam a moda com o intuito, apenas, de vender um produto.

“A maioria das marcas não estão preocupadas com ideologia e ativismo, elas simplesmente querem vender. Nós temos que estar atentos a essa questão capitalista, que é o que move tudo”.

Para ela, a sociedade vem construindo, ao longo dos anos, uma ideia muito errada do que é beleza e o que a beleza pode proporcionar. Sobre os padrões de beleza, Paula afirma:

“Isso precisa começar a ser desconstruído, e criar novos ideais do que é realmente a beleza!”.

Compartilhe!
Carregar mais em Comportamento

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Verifique também

Qual a expressão do seu filho ao aprender? Empresa de Bauru captura momentos na escola

Quando mudou de Arealva para Bauru em 2016, porque sentia que a filha de 3 anos precisava …