Criado em 2019, pelo grupo teatral bauruense Protótipo Tópico, o espetáculo “Talvez isso não seja totalmente preciso, mas aqui está” inicia nova temporada. A estreia será neste sábado (17), seguida de outras nove apresentações, todas online e gratuitas. A peça será transmitida pelo canal oficial do grupo no Youtube.

Ao fim da primeira e da última sessão, haverá um bate-papo entre o grupo, o diretor do espetáculo Marcelo Soler, da Cia. Teatro Documentário de São Paulo, Georgette Fadel, responsável pela preparação dos atores.

Além disso, como convidados, no dia da abertura da temporada (17), participará dessas reflexões sobre a obra, o comunicólogo e gestor cultural Silvio Luiz . Já no encerramento (26), haverá a participação da jornalista e animadora cultural Graziela Nunes.

Além de ser transmitido pelo Grupo Protótipo Tópico, as exibições também irão acontecer na página do Facebook de renomados grupos teatrais do estado de São Paulo (SP). Entre eles: Cia. do Tijolo, Teatro de Contêiner do grupo Mungunzá, companhia Azul Celeste e do LUME Teatro. Assim, surge uma nova forma de realizar a circulação do espetáculo, agora de maneira online.

Com isso, além da difusão cultural – e também de promover a discussão de temas urgentes como violência de gênero, impunidade e desigualdade social – a temporada ainda será uma oportunidade para o público interessado entrar em contato com a produção e conhecer os processos artísticos tanto do Protótipo Tópico quanto dos grupos convidados a transmitir a obra. Confira a programação no final do texto.

Sinopse

A morte brutal de uma menina de nove anos, Mara Lúcia, em 1970 na cidade de Bauru é o disparador para uma sequência de cenas poético-documentais que buscam entender a brutalidade de ontem que persiste no hoje.

As lembranças de uma amiga de Mara, fragmentos do texto Memórias do Subsolo de F. Dostoiévski, reportagens sobre o fato e o próprio assombro dos artistas envolvidos se misturam na construção em cena de uma memória fabricada.

Dos palcos às telas

Quem já teve a oportunidade de assistir ao espetáculo presencialmente irá vivenciar uma nova experiência ao acompanhar a temporada online de “Talvez isso não seja totalmente preciso, mas aqui está”. Já para o público que não assistiu a peça, poderá conhecer os impactos da morte de Mara Lúcia sob a perspectiva da transposição cênica para as telas.

A obra teatral passou por uma adaptação para a sua estreia no formato audiovisual. Com uma direção minuciosa, esse trabalho vai proporcionar ao público uma imersão na história, possibilitando uma valorização dos detalhes cênicos, estéticos e poéticos apresentados pelo grupo.

 Sutilezas de uma vida interrompida em cena

Uma vida tirada brutalmente e, junto com ela, todas as possibilidades que esta criança poderia ter vivido. Diante da concretude da dor, aos atores e moradores da cidade sem limites, como Bauru (SP) também é conhecida, sobra um apanhado de ‘talvez’, possibilidades que amplificam a incompreensão.

Quem foi o culpado por este assassinato? O que leva uma pessoa a cometer um crime tão cruel com uma garota de apenas nove anos? E, se a garota não tivesse ido à escola naquele dia? Quem ela teria se tornado se tivesse seguido viva? A única certeza é a coragem de um grupo de atores em revirar esta história e questionar a falta de solução para este crime.

Quem viveu à época ainda se lembra de Mara Lúcia. Mas, apenas os mais próximos, recordam-se da menina para além da violência. Eliana Cerigatto era a amiga mais próxima, elas cantavam, brincavam de bonecas e se divertiam no balanço que existia no quintal da casa dos pais de Mara. Eliana é mãe de Fábio Valério, um dos atores do espetáculo. As histórias sobre a garota foram ouvidas inúmeras vezes pelo filho, sendo este um dos disparadores para a construção deste trabalho.

Juntos, Andressa Francelino e Fábio Valério, atores do Grupo Protótipo Tópico, entrevistaram jornalistas e pessoas que viveram em Bauru na época do crime. Eles esmiuçaram os fatos e boatos e se debruçaram durante meses sobre história, ao lado do diretor do espetáculo Marcelo Soler, em busca de uma construção dramatúrgica que não abordasse apenas a violência, mas as sutilezas de uma vida interrompida tão precocemente.

A obra propõe inúmeras reflexões, sobre a violência humana, sobre os reflexos da desigualdade social e a espetacularização por parte da imprensa na época. Tudo muito articulado pelos olhares sensíveis dos atores e do diretor. Um aprofundamento em questões viscerais que resistiram à passagem do tempo. Um teatro que sequestra a realidade e a transfere para o palco.

Inspiração na literatura

Além disso, para contribuir com esta construção dramatúrgica, o grupo buscou inspiração também na literatura, em um mergulho na obra Memórias do Subsolo, do russo Fiódor Dostoiévski. O autor traz em seus textos uma espécie de sequência de versos cênicos que transbordam a atmosfera de insuficiência frente ao inexplicável. Assim como se sentiram os artistas ao se depararem com o caso Mara Lúcia.

Visando um refinamento poético e a ampliação das possibilidades artísticas, estéticas e políticas, o grupo convidou o diretor e dramaturgo Marcelo Soler. Ele é um dos precursores do teatro documentário no país, para assinar a direção do espetáculo. Além da atriz, diretora e preparadora Georgette Fadel para a orientação e preparação dos atores acerca da encenação, ambos da cidade de São Paulo.

Com isso, a produção do espetáculo “Talvez isso não seja totalmente preciso, mas aqui está” foi executada de modo colaborativo, onde artistas e diretor estiveram engajados na criação.

Além da dramaturgia poética, o trabalho apresenta um viés político, já que a vítima pertencia a uma família simples e os suspeitos eram de famílias ricas e tradicionais da cidade, o que ‘talvez’ tenha resultado nesta não resolução do crime.

Entretanto, a abordagem de um assunto tão delicado gerou incômodo em uma das cidades da região, que censurou a apresentação que ocorreria no local. Na contramão desta atitude, o público da cidade de Jaú, que teve a oportunidade de assistir à pré-estreia do espetáculo, teceu elogios ao grupo e ressaltou a força e a delicadeza com que o assunto foi abordado.

Caso Mara Lúcia

Um crime que aterrorizou Bauru na década de 70 ainda reverbera. Depois de quatro dias desaparecida, após ter ido à escola, Mara Lúcia Vieira foi encontrada no banheiro de uma casa abandonada localizada na região central da cidade. Violentada, estuprada e assassinada.

A brutalidade do crime – apesar de ainda despertar incompreensão e revolta – permanece. Não há culpados. Ninguém sabe quem violentou e assassinou a criança. Mas, sobre a história, pairam boatos e hipóteses que nos revelam enquanto sociedade.

Com o espetáculo “Talvez isso não seja totalmente preciso, mas aqui está”, o grupo teatral bauruense Protótipo Tópico leva aos palcos – por meio da técnica do teatro documental – uma inquietante leitura da morte de Mara Lúcia que faz o público se questionar sobre qual é o espaço, concreto e subjetivo, que a barbárie nos lega no presente.

Serviço

Temporada online “Talvez isso não seja totalmente preciso, mas aqui está”
Grupo Protótipo Tópico (Bauru-SP) | Espetáculo Teatral | Drama | 60 minutos | Classificação 16 anos
Onde assistir: no canal oficial do grupo Protótipo Tópico no Youtube e nas seguintes páginas de grupos teatrais convidados:

17/04 – Cia do Tijolo (SP) facebook.com/ciadotijolo
18/04 – Protótipo Tópico (Bauru) facebook.com/grupoprototipotopico
19/04 – Monica Alvarenga facebook.com/espetaculourrou/
20/04 – Daiane Baumgartner (Rio Claro) facebook.com/daiane.baumgartner1
21/04 – Azul Celeste (SJRP) facebook.com/companhiaazulceleste
22/04 – Mungunzá (SP) no Youtube Teatro De Contêiner Mungunzá
23/04 – Teatro do Kaos (Cubatão) facebook.com/teatrodokaos
24/04 – Arcênico (SJRP) facebook.com/nucleoarcenico
25/04Temporada – Secretaria de Garça facebook.com/garcacultura/
26/04 – Lume (Campinas) facebook.com/lume.teatro

Horário: às 20 horas

A temporada online de “Talvez isso não seja totalmente preciso, mas aqui está” faz parte do projeto “Talvez: Um documentário cênico insuficiente”. Realização do grupo Protótipo Tópico e da Sociedade Amigos da Cultura de Bauru (SAC), por meio do Programa de Ação Cultural (ProAC Expresso LAB) da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo e do Governo Federal – Lei Aldir Blanc.

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