“Todo o processo em si da reciclagem, eu desconheço e tenho interesse em conhecer. Sei como funciona apenas da etapa de coleta e separação. Mas aqui em Bauru, qual é a porcentagem dos elementos recicláveis que é efetivamente reciclada? Como eu sei que o material está limpo o suficiente para reciclagem? E aquelas embalagens que parece que sempre sobra algo, como a gordura da caixa de pizza?”, questiona Claudia Santini, advogada e moradora do Parque Roosevelt.

Aos 24 anos, a bauruense se considera uma cidadã participativa e preocupada com a situação social e ambiental. Aprendeu a separar o lixo ainda na escola, com aquelas lixeiras coloridas, mas só aderiu efetivamente à separação dos materiais recicláveis em 2018, após conhecer o movimento “lixo zero”.

Na época, Claudia percebeu que o material produzido diariamente, seja do copo plástico descartável até as embalagens que envolvem os alimentos, cosméticos e produtos de limpeza, não é “jogado fora”, mas sim transferido a outros lugares da região que não a própria casa.

E a preocupação dela não é à toa. De acordo com a Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Rural de Bauru (EMDURB), atualmente, o município produz cerca de 280 toneladas de lixo por dia e apenas 2% desse total, o equivalente a 5,6 toneladas, é reciclado. O restante é destinado a um aterro sanitário privado em Piratininga, já que o Aterro de Resíduos Sólidos Urbanos de Bauru encerrou as atividades em 2016, após atingir a capacidade máxima de rejeitos em 23 anos de atuação.

Cooperativas de reciclagem em Bauru

Na contramão dos aterros sanitários, se destaca o trabalho da Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis de Bauru e Região (ASCAM). Criada em 2018, a organização é composta por três das quatro cooperativas da cidade: Coopeco, Coberbau e Eco Recicla.

Sede da Coopeco

Dessa forma, o grupo promove a educação ambiental e gestão de resíduos sólidos recicláveis a fim de desafogar o meio ambiente, proporcionar saúde pública e, principalmente, gerar renda para mais de cem trabalhadores.

“A ASCAM é constituída por catadores de materiais recicláveis que entendem os processos do lixo e atuam junto da comunidade para incentivar e transmitir conhecimentos acerca desse universo. Além disso, a entidade também procura atuar no desenvolvimento das cooperativas e na emancipação social dos catadores”, informa Gisele Moretti, presidente da ASCAM, ao afirmar que 95% dos catadores têm a reciclagem como única fonte de renda.

Associadas na esteira separam manualmente o que é resíduo sólido reciclável e comercializável do que é rejeito. 

Plástico, papel, metal, vidro e higienização

Todos os dias, a coleta seletiva realizada pela EMDURB de porta em porta e os materiais provenientes dos oito ecopontos espalhados pela cidade são despejados nos tablados da ASCAM. Lá, o lixo da Claudia se une aos de outros bauruenses para ser selecionado, prensado e vendido a empresas recicladoras de Bauru. Nesse processo, o resíduo fica na mão de quem entende.

“Todos os materiais são recicláveis. No entanto, não há mercado para todos, e o custo-benefício acaba inviabilizando o retorno de determinados materiais para a cadeia produtiva. Aqui, nós realizamos não apenas a separação, mas a gestão desses resíduos. Ou seja, buscamos reciclar, reaproveitar e encontrar o destino ambientalmente adequado para todos os materiais”, afirma Gisele.

Em Bauru, há oito ecopontos que recebem a entrega voluntária de vidro, metal, papel, plástico, papelão, móveis, roupas, eletrônicos e eletrodomésticos. (Imagem: Juliana Oba)

Imagem: Juliana Oba

No geral, são 36 tipos de materiais reciclados, que vão do plástico de embalagens, papéis de cadernos e livros até isopor, cabos eletrônicos, fones de ouvido e panelas velhas. Entretanto, para serem efetivamente reciclados, é necessário que esses materiais não estejam contaminados com outros resíduos, ou seja, devem ser limpos antes de serem descartados para a coleta seletiva. Aqui, a caixa de pizza engordurada que a Claudia citou no começo desta reportagem passa de resíduo sólido para rejeito.

Materiais que serão prensados para venda

Faz parte da rotina de Claudia limpar o próprio lixo e amassa para facilitar o armazenamento dentro de casa. A casa 15 dias, ela leva os materiais para dois ecopontos, pois não há coleta seletiva na região em que mora. No entanto, ela está em busca para que a coleta municipal seja ampliada até o próprio bairro.

Ecoponto Antonio Eufrasio de Toledo

Ecoponto Antonio Eufrasio de Toledo

Mesmo fazendo o recomendado, a bauruense alerta para a necessidade de repensar e mudar os hábitos individuais e coletivos.

“Não podemos pensar apenas no reuso ou transformação de uma matéria, mas também pensar em como evitar gerar lixo. A indústria deve diminuir os impactos ambientais e desenvolver produtos sustentáveis, que evitem gerar lixo, e, caso gere, que seja um lixo reciclável”, afirma. “Já o poder público deve não só conscientizar e educar a população, mas também ter políticas públicas que possibilitem a coleta e reciclagem, além de criar incentivos e punições para garantir o cumprimento pelas indústrias e pela população”, complementa.

Para facilitar o processo de mudança

Repensar, reduzir, recusar, reaproveitar, e reciclar. Essas palavras fazem parte dos cinco R’s da sustentabilidade em prol de um consumo mais responsável e respeitando o meio ambiente. Para isso, é necessário repensar as ações de consumo, reduzir a produção de lixo, recusar os produtos que agridam ao meio ambiente, reaproveitar um produto para outra função, aumentando a vida útil dele e, em último caso,  reciclar para aproveitar os materiais e diminuir o uso de matéria prima.

Para faciliar o processo de mudança, Claudia indica o blog Uma Vida Sem Lixo e os perfis no Instagram do @umavidasemlixo e @beecologico. De acordo com ela, essas mídias “são um bom ponto de partida para quem não sabe por onde começar”.

Além disso, a ASCAM está no Instagram e no Facebook para deixar os bauruenses informados sobre os processo de ressignificação, reciclagem, as pessoas que fazem isso acontecer e tirar dúvidas.

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