O movimento “Lixo Zero” ou “Zero Lixo” é uma forma sustentável de repensar os hábitos de descarte. Ele está presente nas empresas, nos eventos, nas organizações e até nos lares familiares.

O movimento ganhou força no Brasil por volta de 2013 no Rio de Janeiro e, hoje, está presente inclusive aqui em Bauru.

A precursora deste movimento mundial é a francesa Bea Johnson, do best-seller “Zero Waste Home” ou em português, Desperdício Zero.

Seu livro é resultado de um blog onde a autora contava (e continua a contar), aos seus leitores, como é o dia a dia sem produzir lixo.

Acredite! A família de quatro integrantes produz apenas um potinho de 1 litro por ano de resíduo não-reciclado e não-compostado.

Bea Johnson, seu marido e dois filhos reunidos. A jarra a direita é a produção de lixo anual da família (Foto: acervo do blog)

E como Bea conseguiu isso? Fazendo um pouquinho de cada vez: “Recusar, Reduzir, Reutilizar, Reciclar, Apodrecer (e somente nessa ordem) é o segredo da minha família para reduzir nosso lixo anual a um pote desde 2008”, diz em seu blog.

Um passo de cada vez…

Assim como muitos que seguem o movimento, a estudante de fisioterapia em Bauru, Fabiana Araújo, começou a se incomodar com a quantidade de lixo que produzia e começou a pesquisar na internet sobre.

Ela foi inspirada pela Cristal Muniz, autora do blog “Um Ano Sem Lixo“, uma das porta-vozes do movimento Lixo Zero aqui no Brasil.

A partir dessas pesquisas, ela começou a mudar seu hábitos aos poucos, no próprio ritmo. Até que certas coisas passaram a ser rotina em sua vida.

Ela conta que antes prestava atenção na composição dos produtos. Só depois passou a prestar atenção em outras questões. Como as embalagens, a ética das empresas e como seria o descarte do produto.

“Às vezes, a gente pensa que uma vida zero lixo é só parar de usar descartáveis, mas vai muito além disso”, comenta Fabiana.

Além de toda a mudança de vida, ela diz que quer inspirar e incentivar outras pessoas a partir de gestos simples e de coração. Como presentear os amigos e familiares com produtos lixo zero.

Fabiana comenta: “O ponta pé inicial é o mais complicado, mas depois um hábito vai facilitando o outro”. Então querido(a) leitor(a), adapte a rotina Lixo Zero às suas necessidades, no seu tempo.

Afinal, o que pode dar certo para um, pode não dar tanto assim para você. Depois disso, vai virar algo automático.

“Eu sempre fui uma pessoa ligada à natureza, sinto que dessa forma eu estou honrando esse lar tão bonito e diminuindo o impacto negativo que minha existência aqui poderia gerar”, comenta a fisioterapeuta e artesã Fabiana.

Fabiana com o kit básico Lixo Zero: saquinhos e pote de vidro para compras, talheres e copo reutilizável. (Foto: acervo pessoal)

Assim como Fabiana, a estudante de jornalismo Giovanna Romagnoli, contou que se eu tornou vegana como forma de tentar diminuir o seu impacto negativo no meio ambiente.

Após visitar uma comunidade que vive da agricultura de subsistência, a estudante bauruense decidiu unir o veganismo a um estilo mais minimalista de vida utilizando os conceitos do Lixo Zero.

Giovanna ainda faz os próprios produtos de limpeza e higiene. Ela diz que, apesar de sua rotina agitada, ela encontra tempo para cozinhar e produzir a maioria dos seus produtos.

Basicamente, todos têm a mesma base: óleo de coco, bicarbonato e óleo essencial. O que muda é só a proporção dos ingredientes.

Aqui em Bauru, ela compra os ingredientes no mercado e em empórios que vendem a granel. Apenas os óleos essenciais, utilizados nas receitas, encomenda em farmácias de manipulação ou em casas de essências.

A rotina de Giovaana é um tanto agitada: trabalhar, estudar, fazer o TCC, visitar os pais. Mesmo assim, ela não acha tão difícil manter este estilo de vida minimalista.

“Acho que qualquer pessoa que se propuser e tentar fazer, consegue. Porque não é tão difícil não, é só questão de hábito, né?”, finaliza Giovanna.

Nem sempre “lixo na lixeira” é bom

Você já deve ter escutado que lugar de lixo é na lixeira em alguma fase de sua vida. E, mesmo que você só jogue lixo na lixeira, já pensou na quantidade que você produz e para onde vai?

A rotina é basicamente a mesma: usar, descartar, retirar o lixo na sacolinha plástica, colocar para fora e o lixeiro magicamente levar pra algum lugar fora da sua vista. Bem prático, só que não!

Se for parar para pensar, o movimento “Lixo Zero” no Brasil é muito necessário. Afinal, somente 3% de toda a produção com potencial de reciclagem é, de fato, reciclado, segundo dados do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

E mais… O relatório da Agência Europeia do Ambiente ainda relata que é reciclado apenas 13% do lixo urbano brasileiro.

Uma taxa muito pequena se comparada a países europeus como Áustria, Alemanha, Bélgica, Holanda e Suíça, que reciclam mais de 50% do lixo urbano desde 2010.

Além disso, os resíduos orgânicos também podem ser compostados, virando adubo natural. O chorume, se produzido da forma correta, é um poderoso fertilizante cheio de nutrientes para as plantas e hortas.

Conversamos com a professora da USC, Dra Beatriz Antoniassi, coordenadora do Projeto de Extensão “Redução na Geração de Resíduos“. Ela diz que o movimento traz à tona a reflexão sobre consumo e a gestão de lixo no país.

Já que, infelizmente, a população não é culturalmente e ambientalmente educada para a sustentabilidade. E, apesar das pessoas tentarem ou reduzirem o seu consumo, muitas não pensam no descarte correto do próprio lixo.

Segundo a estimativa de Beatriz, em média, uma pessoa produz 740 gramas a 1 quilo por dia de resíduos sólidos. Desta produção diária:

  • 48 a 50% são resíduos orgânicos;
  • 28 a 30% são potencialmente recicláveis;
  • 20 a 24% são rejeitos.

Na maioria das vezes, o lixo que você produz e descarta por aí é coletado e vai para os lixões e aterros. Podem não estar na sua vista, mas eles existem e poluem muito!

Por ficarem a céu aberto, muitas pessoas se arriscam nessas montanhas de lixo que podem conter objetos perigosos descartados de maneira incorreta. Além de produzir mau cheiro e chorume tóxico, que pode contaminar os lençóis freáticos.

Outra alternativa é a incineração de resíduos sólidos. Esse método diminui muito o volume do lixo, destrói substâncias e materiais perigosos e produz energia elétrica. Entretanto, a reação da incineração também pode gerar substâncias tóxicas.

Para saber como descartar e reciclar o seu lixo corretamente, veja as matérias:

Uma luz no fim do túnel

Fazendo as contas ideais e utópicas deste conceito, os seguidores do movimento Lixo Zero reduziram o lixo orgânico a 200 gramas ao dia por pessoa.

Para Fabiana é difícil fazer uma estimativa exata de todos esses anos praticando o movimento em sua vida, mas que em um período de quatro anos sem usar sacolinha no mercado e lojas, deve ter evitado cerca de 680 sacolinhas de plástico.

Em dois anos, ela evitou oito escovas de plástico, usando as de bambu.

No mesmo período, foram evitados aproximadamente 600 copos descartáveis, 300 talheres descartáveis, quase dois mil saquinhos de hortifruti.

Além de mais 700 absorventes, vários depiladores descartáveis e algumas centenas de canudinhos.

Além de ter compostado bastante matéria orgânica.

Dicas marotas

Nas entrevistas com Beatriz, Fabiana e Giovanna, as bauruenses deram várias dicas de como podemos implementar coisas básicas no nosso dia a dia. E, assim, mudar aos poucos. Confira abaixo:

Faça uma listinha

“Você não precisa mudar tudo de uma vez e não precisa sair comprando todos os produtos eco que tem por aí. Analise sua rotina e veja onde você está gerando mais lixo, anote tudo e depois vai mudando um hábito por vez”, diz Fabiana.

Monte um kit de sobrevivência

Leve sempre itens que podem substituir o plástico com você. Comece pelas coisas que você já tem em casa, não precisa comprar.

Para as refeições, carregue garfo, colher, faca, guardanapo de pano (pode ser qualquer tecido que você tiver em casa). E é claro, não se esqueça das garrafinhas ou copinho reutilizáveis.

Se você faz questão de ter aqueles dobráveis e mais compactos, na internet existem várias lojinhas que vendem esses produtos.

Reduza, até PARAR de consumir plástico

Plástico é algo que consumimos sem notar. O tempo de uso do plástico como copos e canudinhos varia entre 3 minutos a 20 minutos e podem demorar mais de 450 anos para desaparecer.

Então Beatriz enfatiza: “não compre garrafas plásticas de água e não use copos descartáveis. Tenha sua própria garrafa para água e xícara ou caneca para chá/café. Se for dependente de canudos, tenha o seu próprio”.

Compre à granel

Pode não parecer, mas aquelas embalagens que a gente compra fazem uma diferença enorme! “Dê preferência para  compras à granel e sempre leve seu pote e seu saquinho, para não ficar comprando muita embalagem no mercado”, explica Giovanna.

Aqui em Bauru, existem empórios, feiras e até alguns mercados que oferecem vendas à granel.

Repense seus alimentos

Apesar das cascas serem muito ricas em nutrientes, acabam sendo jogadas fora à toa. Por isso coma as cascas dos alimentos ou utilize-as em receitas diferentes.

“Tem gente que tira a casca da batata, da cenoura, da beterraba. Eu não tiro a casca de nada, porque tem um monte de nutrientes. É só lavar bem lavado, não precisa jogar fora, você come e tá tudo certo”, comenta Giovanna.

O SESC tem o programa Mesa Brasil em que oferece livretos de receitas com estes alimentos que seriam jogados fora. Vale a pena conferir!

Se não for cozinhar, opte por comer fora

Já pensou no tanto de sachê sem uso que tem na sua geladeira? Ou no tanto de sacolinha que você rasgou?

Opte por comer fora (ir aos locais), porque quando você pede, vem a embalagem da marmita, mais a sacolinha e eles mandam papel, além dos sachês de katchup e maionese”, completa Giovanna.

Separe seu lixo

“Separe o seu resíduo de forma que ele possa ser reaproveitado em Recicláveis, Orgânicos e Rejeitos”, diz Beatriz.

Portanto, só de separar e fazer o descarte correto, já faz uma diferença enorme. Mas não se esqueça: colocar o lixo para fora e pronto, você estará apenas mudando-o de lugar.

Certifique-se de que os materiais que você está descartando vão para os locais certos.

Faça compostagem

“E para os que já estão no próximo nível da sustentabilidade… Faça uma composteira. Lembre-se que 50% do que produzimos de resíduo é orgânico”, cita Beatriz. Clique aqui para saber como fazer.

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Para finalizar, Fabiana dá a dica: “tente sempre compartilhar as mudanças que você está fazendo. Dessa forma você acaba colocando uma pulga atrás da orelha das pessoas, as inspira e vai plantando sementinhas da mudança”.

No início, vai parecer que é tudo muito caro, pois estamos mais acostumados com itens mais baratos e descartáveis. Mas, quando você parar para pensar a longo prazo, a economia será enorme.

“Toda essa movimentação é muito inspiradora e só aumenta a vontade de fazer mais e mais. É muito gratificante”, finaliza Fabiana.

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