Em janeiro de 2022 nascia o Costura e Cria, iniciativa que leciona aulas práticas e teóricas de corte e costura para mulheres em situação de vulnerabilidade social em Bauru.

Diretamente da sede da ACAÊ (Associação Comunidade em Ação Êxodo), no Parque Jaraguá, uma equipe composta por psicóloga, assistente social e instrutora de costura ensinam e assistem a duas turmas de 25 alunas. 

Com auxílio da educadora social Rosangela Souza (53), as aprendizes produzem os mais variados itens para as aulas e, consequentemente, para venda. Eles vão desde bolsas, ecobags, porta carregador de celular, porta marmita a porta escova de dentes, estojo, chaveiro, cordão para pescoço, necessaire entre outros. 

Bolsa produzida pelas alunas do Costura e Cria

Depois de prontos, os produtos são vendidos em algumas feiras pela cidade, como no Vitória Régia ou no Unisagrado, ou pelo telefone da ACAÊ (14) 99169-5684. Por enquanto, a verba arrecadada nessas ações retorna para a manutenção do próprio projeto. Mas, de acordo com Giovanna Parra (26), psicóloga responsável, a intenção é aumentar a atuação das alunas por meio da construção de um método cooperativo de trabalho.

“[O projeto inicial] tinha uma perspectiva de formar pessoas para trabalhar individualmente. Mas nós, psicólogos e assistentes sociais, fomos formulando que não é o nosso objetivo formar profissionais. Isso é objetivo de outras áreas, como a Economia”, informa. “A Assistência Social tem que pensar formas de revolucionar o acesso dessas pessoas ao trabalho e o nosso grupo vem com essa ideia, de ser um trabalho justo, uma forma mais igualitária e que agregue todos os tipos de pessoas, não necessariamente o perfil esperado pelo mercado de trabalho. Por isso a gente está formando essa ideia de venda coletiva com elas, uma ideia de cooperativismo”, complementa.

Costura e Cria procura novos apoiadores

Todos os itens do Costura e Cria são feitos com tecidos e outros materiais, majoritariamente, doados por empresas e instituições parceiras. Segundo as responsáveis, isso ocorre porque a verba destinada pela Prefeitura Municipal de Bauru não abate todos os materiais utilizados pelas alunas no projeto. 

Exatamente por isso, o projeto Costura e Cria está em busca de novos apoiadores, dentre empresas e pessoas físicas. Tanto com ajuda de custo, quanto com doações de materiais, como tecidos e retalhos, linhas, aviamentos, tesouras, zíperes, botões e etc.

“A gente conseguiu uma loja que vai doar tecidos periodicamente. Com esse material, estamos fazendo cortinas para as salas, capas para as máquinas e itens para a venda”, conta Giovanna. 

O projeto ainda conta com a parceria do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) na capacitação, da gráfica Dagra, responsável pela impressão das apostilas de ensino, e com o curso de Design de Moda do Unisagrado, que realiza aulas esporádicas, além de abrir as portas dos laboratórios do centro universitário para as alunas do Costura e Cria explorarem. 

Acolhimento social e a emancipação das alunas do Costura e Cria

Além de ensinar sobre técnicas de corte e costura priorizando a fonte de renda coletiva, o grupo Costura e Cria tem como intuito o acolhimento social das alunas. 

De acordo com Giovanna, as turmas são compostas por mulheres em situação de vulnerabilidade social que, muitas vezes, têm dificuldades em serem aceitas dentro do mercado de trabalho.

“Isso porque são mulheres aposentadas, mães de pessoas com deficiência, pessoas com transtornos mentais graves, que têm função na costura, mas que talvez não corresponderiam a uma linha de produção […] Esse nosso grupo é um grupo de aprendizagens e vendas, mas também de acolhimento. A gente recebe todo tipo de pessoa que precisa de acolhimento social e dá apoio para que ela consiga alcançar a renda dela”, informa. 

O acolhimento, basicamente, é composto pela escuta, troca de informações e reconhecimento da situação em que a pessoa se encontra. Algumas têm problemas familiares, enquanto outras de saúde, por exemplo. Ter ciência sobre isso, com apoio de um profissional da Assistência Social ao lado de uma educadora e psicóloga, facilita o processo de aprendizagem das alunas, além da inserção delas na sociedade e introdução a outras realidades.

“Temos uma aluna de 40 anos, a Jussara, que é muito disposta e faz de tudo. Ela tem vários filhos, cuida sozinha de todos. Ela tem um salão de beleza e faz costura para fazer roupas para os filhos, além de vender para complementar a renda. Ela se interessou por fazer Design de Moda depois que visitou o laboratório do Unisagrado e nos perguntou: ‘Como faço para estudar aqui?’. Explicamos que há o SISU [Sistema de Seleção Unificada] e tudo mais. Agora ela está disposta a terminar o ensino médio para fazer o ENEM [Exame Nacional do Ensino Médio] e tentar esse curso de forma gratuita. Inclusive, ela já está trabalhando. Depois que a gente foi visitar uma fábrica de jalecos, ela foi chamada para integrar a linha de produção”, compartilha Giovanna sobre a experiência de umas das alunas. 

O caso de Jussara não é raro e quem comprova isso é a própria professora do projeto, a Rosangela. Ela também viu na costura uma forma de emancipação social. Casou-se aos 16 anos. Começou a prática de forma independente para fazer roupas para os filhos pequenos. De lá para cá, muita coisa mudou. A costura abriu portas. Passou por grandes instituições de Bauru e hoje coleciona um largo currículo, em que os ofícios de artesã, costureira, estilista, modelista e educadora se misturam.

Rosangela Souza, educadora social do Costura e Cria

“Eu comecei como modo de ser autônoma e independente e hoje eu tento passar isso para as minhas alunas. Eu me mantenho sozinha, tenho meu carro, minha casa, minha renda, então, não dependo de ninguém e sou muito orgulhosa de mim mesma. Eu mostro muito isso para elas e sempre falo: eu não quero vocês iguais a mim, mas melhor do que eu, finaliza.

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