“Qual carreira seguir?” e “o que fazer depois da escola?” são algumas perguntas que muitos adolescentes escutam. Mas a resposta pode estar na ponta da língua para os estudantes da escola pública estadual de período integral “Prof. Antonio Guedes de Azevedo”, localizada no bairro Jardim Pagani, em Bauru.
Isso porque a instituição oferece a disciplina Projeto de Vida, em que o objetivo é “o desenvolvimento da perspectiva de vida e autoconhecimento dos alunos e discutir as metas deles a longo prazo”, conta a coordenadora pedagógica geral da escola, Andréa Flório.
Além disso, habilidades socioemocionais como empatia, respeito, tolerância e resolução de problemas também estão incluídas no conteúdo da disciplina. Ela faz parte do programa ‘Inova Educação’ da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Junto com Projeto de Vida, outras duas matérias foram acrescentadas à grade de aulas, Tecnologia e Eletivas.
Projeto de vida?
Implementada em 2020 para alunos a partir do 6º ano até o ensino médio, a disciplina é ministrada por algum professor que tenha se habilitado para lecioná-la. No caso da Antonio Guedes, quem dá a aula é a professora de matemática, Glaucia Almeida.
Com uma apostila de apoio, em cada semana, a aula tem proposta e dinâmica diferentes. Assim, pode ocorrer rodas de conversa, debates, instruções sobre vestibulares, técnicas para lidar com a timidez, entre outras.
Como forma de deixar a experiência mais enriquecedora, a profª Glaucia propôs uma nova atividade, o Encontro AGA. Segundo ela, os alunos voltaram desmotivados para as aulas presenciais em novembro de 2021, que ainda funcionava no formato de rodízio.
“Tinha muitos casos dos alunos da escola com medo, depressão. Bom, só que nesse ano não foi possível realizar porque a gente voltou só em novembro e aquilo ficou, fiquei pensando muito sobre aquilo”, relembra Glaucia.
Então, ela pensou em formas de reverter esses casos, até que levou a sugestão de organizar essa atividade para a equipe pedagógica.
Encontro AGA (Antonio Guedes de Azevedo)
Uma vez por ano, normalmente em abril, a escola realiza um evento aos moldes de congressos acadêmicos com certificado, crachá e inscrição. A escola convida profissionais para integrarem um ciclo de palestras para os alunos. E os temas são pensados para atender a maioria das demandas dos jovens.
Por exemplo, no início do ano letivo, ocorre uma atividade onde os alunos falam das metas e quais profissões querem seguir. Dessa forma, a equipe escolar seleciona os palestrantes baseado nos planos e nas expectativas dos estudantes.
No Encontro AGA de 2023, alguns dos temas foram perícia criminal, como fazer intercâmbio e mercado de tecnologia. Também esteve presente uma ex-aluna da escola que falou sobre as expectativas e a importância de pensar no futuro.
Foto: Arquivo pessoal/Antonio Guedes de Azevedo
Outro fator do encontro é estimular a participação dos alunos. Sendo assim, eles fazem parte da organização do evento e podem realizar apresentações artísticas como teatro, tocar instrumentos, cantar e dançar.
“Então, a gente chega um pouquinho mais cedo, com um roteiro do que seguir, para ver quais os horários das palestras, quem viria, a gente anunciava o nome do convidado. Foi muito bom para a gente porque eles nos tiraram da zona de conforto”, acrescenta a estudante Gabriele Forte.
Com duas edições, a professora Glaucia conclui que “o projeto só deu certo porque todo mundo abraçou a ideia. É algo que envolve todo mundo, a ideia pode ter surgido de mim, mas só concretizou porque todo mundo acreditou”.
Foto: Arquivo pessoal/Antonio Guedes de Azevedo
A seguir, as palavras deles, os alunos
Maria Eduarda, Gabriele, Bruna, João Pedro e Miguel possuem histórias de vida únicas e com origens diferentes. Por isso, cada um definiu a experiência de realizar essa disciplina em uma palavra.
Maria escolheu “meraki”, de origem grega, que significa colocar um pedaço de si nas ações do cotidiano. Gabriele optou por “persistência”. Bruna nomeou “esperança”. João Pedro preferiu “resiliência”. E Miguel disse “protagonismo”.
Tais definições traduzem o sentimento de jovens que estão sendo instruídos a liderar os rumos das próprias vidas. Como no caso da Maria Eduarda que deseja ser perita criminal.
“Muita gente conhece através de programas como CSI, mas pouco se fala como se chega lá e poucas pessoas se manifestam, porque também não é uma profissão que exige pouco de você”, explica a estudante sobre um dos temas do encontro deste ano.
Já Miguel está entre cursar matemática, letras ou jornalismo. Este último, ele conheceu depois de visitar a Feira de Profissões da Unesp, além disso, se dá muito bem com o microfone, como ele mesmo afirma. Inclusive, até criou uma personagem, a Bianca Xavier, para uma atividade escolar.
“Tínhamos que fazer um podcast. Eu queria ser o apresentador, mas gostaria de fazer um personagem. E no final, terminei apresentando o nome dela, e todo mundo adorou. Ela ganhou figurino, peruca e acessórios”, completa Miguel.
Rumos para o futuro
Outra característica comum da idade, é se sentir perdido em meio a tantas opções e gostos. É o caso dos alunos Bruna e João Pedro. Eles contam que pensavam em diversas profissões, mas discutir melhor o projeto de vida e participar de tutorias os ajudaram a serem mais objetivos.
Agora, João pensa no curso de engenharia mecânica. “O projeto do AGA abriu a minha mente. Quando veio a menina da engenharia, ex-estudante da escola, ela falou sobre a trajetória dela, me deu uma luz no final do túnel”, afirma o estudante.
Enquanto, Bruna pesquisa sobre direito ou relações internacionais. “Durante as aulas, a gente consegue selecionar, ter uma noção mais sólida do que a gente quer fazer. Então eu ainda tô solidificando o que quero”, aponta Bruna.
Por fim, Gabriele relata que costumava ficar mais focada na área que deseja, a medicina. Contudo, após as discussões no evento da escola, ela passou a considerar uma experiência fora do país também.
“Quando veio a agência de intercâmbio, eu fiquei uau! Fui preenchendo os requisitos e pensei que posso fazer isso. Com certeza, futuramente vou aplicar”, explica a aluna.
Mudança de rota
Aqui, vale destacar, outro assunto tratado em sala de aula: é comum querer mudar de profissão, descobrir novos sonhos e definir novas metas.
“Nessa fase que a gente está, é depositada muita esperança na gente. Contudo gera incerteza e ansiedade, mas com esse apoio eu consegui enxergar que andar adiante é importante. Porque o projeto de vida não acaba quando a gente sai daqui. Vai continuar né”, finaliza a estudante Bruna.
O Encontro AGA já entrou no calendário oficial da instituição. E ocorre em abril, para desenvolver atividades com os estudantes antes dos vestibulares. A escola estadual atende alunos do Ensino Fundamental II ao Médio, é de período integral e fica localizada na Rua Flávio de Tolêdo Campos, 2-60 – Jardim Pagani.