Natural de Ibitinga, Leônidas chegou até Bauru nessas idas e vindas da vida. Em sua última passagem pela cidade, ficou um ano e meio. “Fiz a besteira de ir pra outro lugar, mas decidi voltar”, conta. Depois de um ano e quatro meses em Natal, voltou há cerca de uma semana e, com seu sorriso cativante e seu apito agudo, já alegra os motoristas bauruenses nos poucos segundos entre um sinal verde e outro.

O artista de rua conta que não era tão feliz assim em sua cidade natal. Por ter se desligando da família que não se dava muito bem, acabou indo pra São Paulo. De lá, tornou-se do mundo. “Eu tenho irmã e tenho irmão, mas eles têm a vida deles e foi aí que eu decidi sair por aí. Eu pensei: deve ter muita coisa me aguardando pelo mundo, né?”, revela.

Tudo começou com a inspiração de um rapaz que fazia estátua na rua, um modelo um pouco diferente que então Leônidas decidiu adaptar para o trânsito, que é mais rápido e dinâmico. “Comprei as roupas, comprei as tintas e comecei”, conta. Na primeira vez, levou pouco mais de meia hora para conseguir encarar de frente o desafio de trabalhar na rua, mas, depois que tomou coragem, ficou mais fácil. E é ali, no farol que cruza a Nações Unidas com a Nuno de Assis, que o artista faz sua arte e ganha a vida.

“É meu ganha pão, eu ganho meu pão aqui. É o que me salva dessa situação difícil”, ele explica. Se dá pra sobreviver? “Dá sim”, responde com um suspiro. Já trabalhou como pedreiro e carpinteiro. Já construiu casa e prédio também. Mas revela: “ultimamente esse setor de serviço está ruim, a gente encontra por aí só pequenas reformas, sem contrato nem nada. Minha carteira está em branco já faz muito tempo. Quando a gente acha alguma coisa, acha por pouco tempo – uma semana, duas no máximo. Eu até tento, paro com meu trabalho aqui no sinal e vou, mas não tem jeito, eu volto pra cá de novo.”

Para incorporar o personagem com a roupa e a pintura do corpo o tempo gasto é de mais ou menos meia hora. A tinta é feita de forma bem simples: creme hidratante misturado com purpurina extra fina. Assim, não é tão difícil sair: “com a lavagem de sabão sai tudo”, explica. O problema mesmo é o sol. Em dias muito quentes, não dá pra manter a tinta no corpo – e, consequentemente, trabalhar.

Apesar de cruzar com pessoas mal educadas, Leônidas não perde o sorriso e o bom humor. “Todo mundo coloca a mão pra fora com as moedas, mas tem gente que coloca a mão pra fora e, quando eu vou pegar, apertam minha mão, zombando de mim”, revela. Ainda assim, ele não perde sua boa intenção: “eu estou aqui pra ajudar a alegrar o dia das pessoas, isso me ajuda espiritualmente”, conta com um sorriso de orelha a orelha. Depois que veste a roupa, se transforma: “não sou tão alegre quando não estou vestido. Isso me diverte.”

Sobre o futuro, o artista não sabe: “eu sei que por enquanto a gente vai indo, vai vivendo. O futuro eu não sei, não faço a menor ideia, eu vou me ajeitando do jeito que dá. A gente se inspira em Deus pra ajudar a gente e vai indo, dando uma sorte aqui, outra ali e outra lá.”

“De todos os lugares que eu já passei nesses oito anos que eu venho andando pra lá e pra cá – do Rio Grande do Sul ao Nordeste – de todos esses lugares, eu gostei mesmo foi de Bauru, tanto é que eu voltei pra ver se dou sorte aqui, pra ver se as coisas dão certo aqui”, Leônidas conta. E é ali que com 53 anos o artista de rua passa suas manhãs e suas tardes, de segunda a segunda, naquela mesma faixa daquele mesmo cruzamento.

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