“Qual o valor da água para você?”, essa foi a pergunta que o bauruense e professor de geografia, Marcio Francisco Martins, fez para diversos brasileiros durante uma cicloviagem, mas não foi assim que tudo começou. No início, a viajem de bicicleta foi planejada com o objetivo de aumentar o conhecimento e melhorar suas aulas, mas no meio do percurso, ele foi impactado pelas consequências do rompimento da Barragem de Mariana-MG e tudo começou a mudar.

“Todas as informações sobre o consumo do volume morto da Cantareira e sobre o maior acidente ambiental da história do Brasil e talvez um dos mais graves do mundo não saíam da minha cabeça. Viajando com essas informações e pedalando pela Caatinga, eu convivi com pessoas sensacionais que moravam em um local de déficit hídrico. Pensei comigo ‘se esses povos não reclamam da falta de água, como é que os povos do sudeste podem reclamar?’ e conversando com um senhor que me emprestou a sombra das árvores do seu quintal na Paraíba, para eu fazer meu almoço, falou algo que não saiu da cabeça. Ele mencionava o valor da água de uma forma muito íntima e ligada ao seu estilo de vida. Isso me marcou e eu comecei a pensar muito mais nessa questão. Quando cheguei em Maceió comecei a gravar depoimentos das pessoas do sertão sobre pergunta ‘Qual o valor da água para você?’ e, nesse momento, surgiu o projeto Pedalágua”, conta Marcio.

A cicloviagem começou em Altamira-PA – o professor pegou um avião até a cidade – e, em onze meses pedalando (de 10 de janeiro de 2016 a 10 de dezembro de 2016), Marcio passou por 13 estados brasileiros, colheu 48 entrevistas e dormiu nos mais diferentes lugares entre museus, postos de gasolina, praças públicas, entre outros.

A escolha pela bicicleta como meio de locomoção têm motivos simples: a questão ambiental e a questão social. “O mais legal da bicicleta é o poder de agregar pessoas e valores. Se eu fizesse de carro, ficaria bem mais custoso e talvez eu não fosse bem recebido ou passasse despercebido pelos lugares. A bicicleta é extremamente agregadora de boas situações e amigos”, diz Marcio.

Marcio em Belém, no Pará

Apesar dos pontos positivos, fazer uma longa viagem de bike têm as suas dificuldades e para isso, o viajante tem que estar preparado. Por isso, Marcio conta que nos momentos em que se sentia sozinho ou encontrava pessoas interessantes pelo caminho, sempre pegava uma carona.

“Quando estava cansado de ficar sozinho e conhecia alguém que tinha uma conversa que agradava e agregava algo, eu aceitava a carona. Uma cicloviagem é sensacional desde que você esteja bem consigo próprio, para encarar solidão e coisas que seriam dificuldades no cotidiano. Você é obrigado a encarar tudo de bom humor, até o roubo da bicicleta em Fortaleza foi legal, porque fiz bons amigos lá. Uma dificuldade que tive foi dormir na rua, em Americana-SP, a única noite que dormi sem um teto e sem tomar banho durante a cicloviagem”, explica.

Projeto Pedalágua

Depois de todas as pedaladas e do caminho percorrido pelo bauruense, o projeto Pedalágua tem como resultado quatro minidocumentários sobre o uso consciente da água. O produto será entregue de forma gratuita para todas as escolas interessadas do país.

O projeto Pedalágua foi um dos ganhadores do prêmio “A voz dos cidadãos”, do 8º Fórum Mundial da Água.

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