Até o início desse mês, eu nem sabia da existência do Dia do Torcedor Corinthiano, celebrado hoje (23/04), Dia de São Jorge. Agora, já é uma das minhas datas favoritas no ano. A data foi instituída na capital paulista pelo vereador Antônio Goulart em 2009, como forma de reforçar a paixão dos paulistas pelo clube.

Eu, corintiano ao ponto de ter minha foto de assinatura das matérias aqui no Social Bauru com uma camiseta do time, assumi a tarefa de escrever uma reportagem sobre a data. A ideia era conhecer corintianos bauruenses e ouvir histórias deles com o clube. Depois de ouvir os relatos, o resultado foi compreender a essência do que é ser corintiano.

O apoio constante, a dedicação, o sofrimento e o sentimento em cada jogo. “Quando o time perde no domingo, parece que a semana se arrasta”, comenta o jornalista Vitor Oshiro. Compreendo perfeitamente essa sensação. Sei o quanto uma derrota do Corinthians afeta o meu humor.

Faz parte da experiência do corintiano. Oshiro explica como o chamado “corintiano maloqueiro e sofredor” foi algo criado pelos adversários para menosprezar, mas acabou se tornando o orgulho do torcedor do Timão.

As derrotas afetam o ânimo e mesmo as vitórias são sofridas, aqueles 1×0 com “cara de Corinthians”. “O ‘ser corintiano’ é algo que transcende um pouco o ‘ser só futebol’, é algo que preenche a nossa vida”, resume o jornalista.

Viver o Corinthians

Vitor Oshiro, Givanildo da Silva, Riverton Rodrigues e Bruno Tabata representam essa relação de amor com o Corinthians. Os quatro se conectam com o Timão e de alguma forma moldam a sua vida a partir do time. Gilvanildo é líder da torcida organizada do clube aqui em Bauru. 

Givanildo da Silva (foto: Vinícius Miranda)

Oshiro participou do documentário ‘Fiel – O Filme’, dirigido pelo corintiano Serginho Groisman, e agora sua paixão pelo time ficará registrada na obra. “Fico com a sensação de fazer parte de algo muito legal. É um documento gravado! Eu faço parte de algo que mostra todo esse sentimento que eu tenho pelo time”, comenta ele. 

Vitor Oshiro (foto: Acervo Pessoal)

Para o instrutor de auto-escola Riverton, que morou em São Paulo, é uma vivência direta com o clube. Ele conhece jogadores atuais e antigos, troca mensagens com eles, vai a treinos, conversa com funcionários e sabe até os apelidos internos – “o do [lateral esquerdo] Fábio Santos é ‘Tio Chico’.”, entrega ele.

Riverton Rodrigues (foto: Acervo Pessoal)

Bruno, com apenas 25 anos, já coleciona 119 ingressos de jogos, incluindo partidas importantes da campanha da Libertadores de 2012, finais e alguns clássicos. Ele, que trabalha na hamburgueria da mãe (Forasteiros), conta que já discutiu com amigos por causa do Corinthians.

Bruno Tabata (foto: Acervo Pessoal)

Corinthians e Bauru

No Brasil, segundo pesquisa da Pluri Consultoria em 2020, são mais de 28 milhões de torcedores do Timão. Não há uma contagem em Bauru, mas as camisas e o símbolo do clube espalhados pela cidade, além dos fogos de artifício em dia de jogo, deixam a sensação de grande apoio do time aqui.

É uma cidade onde o Corinthians faz parte do dia a dia. Tanto que a maior e “mais fanática” torcida do interior paulista está aqui. É a Fiel Macabra, fundada em 1993 e sem ligação com a Gaviões da Fiel.

O grupo tem hoje cerca de 3,5 mil associados e sub-sedes em cinco outras cidades. “Estamos em todos os eventos que envolvam o Corinthians, tudo com recursos próprios recolhidos da mensalidade do associados, ingressos de eventos e venda de produtos”, comenta Giva, atual presidente da agremiação.

Torcida vende produtos próprios (foto: Vinícius Miranda)

Ainda segundo ele, a torcida organiza diversas atividades em Bauru, como caravanas para os jogos, doação de sangue, entrega de alimentos, arrecadação de agasalhos, festas de Dia das Crianças, entre outras ações sociais.

Os 350 km de Bauru ao estádio

Além disso, para os bauruenses corintianos, superar a distância de cerca de 350 km entre a cidade e a Neo Química Arena (antigamente a ida era ao Pacaembu) é uma das provas de dedicação ao clube.

Bruno na Neo Química Arena (foto: Acervo Pessoal)

O Bruno vai desde os 15 anos – quando os pais “finalmente” o liberaram para ir – e conseguiu ver diversas partidas históricas. Na maioria das vezes, incluindo às quartas-feiras, ele faz o bate volta. “Todo jogo decisivo ou importante, eu dou meu jeito e vou. Já tiveram jogos que acabaram meia-noite, eu voltava para Bauru, chegava de madrugada pronto para a correria do dia seguinte”, diz ele.

Riverton chama essa prática de “viradão”. Sair daqui 15h para ir à capital, ver o jogo às 22h, chegar de volta em Bauru às 6h, tomar um banho e ir trabalhar às 8h. O instrutor é um dos organizadores do ‘Bonde do Timão’, um grupo de corintianos daqui que se juntam para ir ao estádio em São Paulo.

Vale tudo para ver o Corinthians em campo. Riverton lembra do dia em que havia mais pessoas que vagas na Van e ele, único do grupo com CNH ‘D’, fez uma sugestão. “A Van cabia 15 pessoas, mas eram 16 contando com o motorista e dono da Van. O que fizemos? Convenci o motorista a liberar a Van dele e eu fui dirigindo. Esse dia foi show de bola. Vimos a final do Paulista de 2009, Corinthians e Santos”, conta. 

‘Bonde do Timão’ em ação (foto: Acervo Pessoal)

O esforço é recompensado pela sensação de vibrar no meio da torcida. Como diz Giva, é a melhor forma de apoiar o Timão. “Você na arquibancada está jogando com o time, são 90 minutos cantando e pulando apoiando o Corinthians”. Por isso Riverton diz que fica emocionado quando recorda das histórias de viagem e de estar na arquibancada.

“Eu até arrepio só de lembrar”, diz o instrutor. Lá dentro, ele sabe o quanto a torcida do Corinthians é respeitada. “Os caras [torcida adversária] ficam quietos para ouvir a nossa torcida cantar. Aí depois que eles começam o grito deles. É uma emoção enorme”, finaliza Riverton.

Torcendo pelo Corinthians os 90 minutos…

Nesse sentido, essa vontade de estar presente nos jogos é uma das marcas do corintiano. E estando no estádio, a regra é apoiar do começo ao fim do jogo, independente do desempenho dos jogadores.

Craque do Corinthians entre 1981 e 1986, o Zenon sentiu dentro de campo o poder da fiel. “O torcedor corintiano é muito diferente”, afirma o jogador. “Torna-se o 12º jogador, com certeza. Eu sou agradecido por ter tido o privilégio de ter essa torcida a meu favor. Consegue intimidar os adversários com a sua forma de torcer e de atuar durante os 90 minutos do jogo”

Em áudio enviado pelo Riverton – olha aí a ligação dele com os atletas! -, o ex-jogador do Timão explica o que é ter feito parte da história do clube, especialmente pela carreira vitoriosa dele. “Eu tenho o meu nome marcado lá no memorial do clube, e isso me dá um grande prazer. Me sinto um privilegiado por ter vestido o manto sagrado do Corinthians”, comenta.

Confira a entrevista completa do Zenon

Ademais, a regra de apoiar os 90 minutos inclui as vitórias apertadas e o sofrimento dos tropeços. “Não vivemos de títulos, vivemos de Corinthians. Quanto pior a situação do time, é quando mais apoiamos”, resume o presidente da Fiel Macabra. Não é só da boca para fora. A torcida do Corinthians teve o maior crescimento registrado quando passou 23 anos sem títulos.

Quadra da Fiel Macabra (foto: Vinícius Miranda)

… e em todos os jogos

No estádio ou pela televisão, o importante mesmo é acompanhar toda vez que o Corinthians entrar em campo. Assistir às partidas é o que faz o corintiano colocar em prática todo o amor pelo clube.

De família de palmeirenses e são paulinos, o Bruno virou corintiano justamente pela sensação de alegria ao ver um jogo do Timão. Quando eu tinha 3 anos, meu tio [o único corintiano da família] me colocava na frente da TV em jogo do Corinthians. Se eu estivesse chorando, eu parava de chorar pelas duas horas e ficava quietinho só olhando a TV”, conta ele.

Vitor Oshiro (foto: Acervo Pessoal)

Hoje, Bruno diz que perde aniversários e encontros com amigos para acompanhar os jogos, alguns no estádio. “Qualquer jogo, mesmo o menos importante, para mim são as duas horinhas sagradas do dia. Tendo jogo, eu paro, não importa o que tiver fazendo, não quero saber de mais nada”, comenta.

E se não dá para apoiar com gritos, de longe então o jeito é apelar para as superstições. O Vitor, por exemplo, troca de canal se o time está perdendo, chegou a boicotar bares onde “o Corinthians sempre perdia quando ia nesse” e já quase terminou com uma antiga namorada por causa de uma má fase do time.

“Estava na Universidade e comecei a namorar uma palmeirense. O Corinthians estava numa fase muito boa, e quando nós começamos a ficar, o time ficou três jogos sem ganhar”, conta ele. “Eu falei que ela estava dando azar, e ela ficou muito brava (risos)”. Por sorte, o Timão foi campeão naquele ano e salvou o relacionamento. Hoje eles não estão mais juntos, mas a culpa não é do Timão.

Viajar para ver o Corinthians (foto: Acervo Pessoal)

Jogos inesquecíveis

Acompanhando todos os jogos, é claro que alguns se destacam e ficam marcados na memória do torcedor. Corintiano desde 1980, quando tinha cinco anos, Riverton lembra bem do título paulista de 1988, com gol do Viola. “Eu tinha 13 anos. Meu primeiro jogo, uma final e campeão”, diz ele.

Nessa partida, ele não esquece de ver de perto o Viola jogando com duas camisas, pois uma delas o atacante queria dar para a torcida. Depois, ainda acompanhando da arquibancada, viu os títulos brasileiros de 1990 com os craques Neto e Biro Biro e 145 mil pessoas no Morumbi, de 1998 e 1999 com Marcelinho e Edílson, e o Mundial em 2000.

Corinthians é sofrer e apoiar durante os 90 minutos (foto: Acervo Pessoal)

Vinte anos mais jovem, Bruno guarda as conquistas mais recentes. Ele estava no meio da torcida, no Pacaembu, nas quartas-de-final contra o Vasco, e viu o gol do Paulinho aos 44 minutos do segundo tempo que classificou o Corinthians. “Aquele jogo foi emocionante, com certeza o mais marcante que eu vi em estádio”, conta. 

Oshiro também recorda da emoção nesse jogo. “Foi algo surreal”, conta ele sobre a defesa mais importante da história de 10 anos do goleiro Cássio no Corinthians. Além desse, o jornalista lembra também do gol do Ricardinho com corta-luz do Marcelinho aos 47 do 2º tempo em 2001 e do gol histórico do Ronaldo encobrindo o Fábio Costa, ambos contra o Santos. 

Bruno com o goleiro Cássio (foto: Acervo Pessoal)

Corinthians 2 x 0 Boca Juniors

Entre todas essas partidas históricas, uma parece ser unanimidade entre os corintianos: a vitória sobre o Boca Juniors, com dois gols de Emerson Sheik e que garantiu a primeira Libertadores do clube. É um jogo que o Riverton, de vez em quando, coloca no YouTube para rever.

O instrutor de auto-escola estava no estádio e chegou umas cinco horas antes da partida, para curtir a chegada dos torcedores, evitar o nervosismo e apoiar a entrada do ônibus do time. 

Essa foi a visão do Riverton na final da Libertadores (foto: Acervo Pessoal)

Já o Bruno, que foi ao Pacaembu em todas as partidas daquela campanha, teve que ver de casa, porque não conseguiu comprar ingresso. “Acabou praticamente em cinco minutos”, comenta ele.

O Vitor, assim como eu gritando no sofá da casa, o Bruno e o Giva, também viu o título da Libertadores pela TV. Mesmo assim, como ele mesmo diz, “o importante é a vibração positiva que você passa para o time de qualquer lugar”. 

Afinal, isso é ser corintiano. Na arquibancada, em casa ou onde quer que você assista ao jogo, a dedicação ao time é acompanhar todos os jogos do começo ao fim, sofrer, apoiar, comemorar os títulos e aproveitar a alegria de ser corintiano.

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