A disciplina positiva é uma abordagem baseada no trabalho do médico e psicólogo Alfred Adler e do psiquiatra Rudolf Dreikurs. Esta filosofia tenta manter uma educação equilibrada, que não seja excessivamente controladora e nem permissiva demais.
As famílias adeptas a este formato têm como base o respeito mútuo, a cooperação, a gentileza e a firmeza, simultaneamente. É dessa forma, segundo os profissionais, que os filhos aprendem as competências da vida.
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Por que é importante?
A Dra. Mariana Jales Mori, fonoaudióloga de Bauru, também tem formação em disciplina positiva e esclarece a importância dela nos espaços de convivência das crianças, como em casa e na escola.
“Se alguém te perguntar: ‘o que você deseja para o seu filho?’, uma enxurrada de coisas boas virá à sua cabeça, não é mesmo? Tenho certeza que dentre elas estariam: que ele(a) seja uma pessoa responsável, amável, que respeite as diferenças, honesto… Agora, eu te pergunto: o que você está fazendo para isso? Qual a sua contribuição?”, comenta a doutora.
As atitudes frente às situações adversas do dia a dia, a maneira com que a família lida com um comportamento, castigo, críticas e até mesmo os elogios em excesso irão fortalecer ou enfraquecer as virtudes, qualidades e valores que os pais tanto almejam para os filhos.
Segundo Mariana, a disciplina positiva começa a ser aplicada desde os primeiros momentos de vida do bebê. Além disso, uma série de atitudes podem contribuir para que as famílias formem indivíduos mais livres, independentes, seguros e empáticos.
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Como aplicar a disciplina positiva no dia a dia?
Com algumas atitudes simples já é possível colocar a disciplina positiva em prática. Confira as dicas da Dra. Mariana:
- Valide os sentimentos – “Eu sei que é difícil parar de brincar, mas é hora de dormir”.
- Mostre compreensão – “Eu entendo que você prefere ficar brincando, mas agora é hora da tarefa”.
- Forneça escolhas – “Você quer sobremesa, mas agora é hora de jantar. Você quer o copo de heróis ou o que brilha?”
- Redirecione – “Você não quer tomar banho, mas não poderá dormir com os pés sujos. Vamos ver quem chega primeiro ao banheiro?”
Além desses pequenos gestos, a organização e divisão das tarefas da casa podem fazer toda a diferença para a autonomia das crianças.
Quadro de rotinas
Quanto mais a criança faz por si mesma, mais capaz e motivada ela se sente.
- Façam juntos uma lista com as atividades diárias, desde o despertar até a hora de ir para a cama;
- Colem figuras ou, se a criança preferir, a fotografe realizando as atividades, revele/imprima e cole no quadro ao lado do horário que a atividade precisa ser realizada;
- Coloque o quadro de rotina em um local que a criança possa vê-lo várias vezes ao dia;
- O quadro de rotina atuará como o “mestre” da criança;
- Mude o seu posicionamento de ordenar à criança o que ela deverá fazer, ao invés disso, questione: “Qual a próxima tarefa?” e olhe no quadro.
Isso evitará muitos aborrecimentos!
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Elogio x Encorajamento
“Eu estou muito orgulhosa que você tirou 10!”
“Eu estou orgulhoso que você arrumou os seus brinquedos!”
“Você é uma menina tão educada!”
Qual o problema dessas afirmações? Por mais que alguns pais aleguem que essas abordagens funcionam, a Dra. Mariana diz que elas podem causar problemas a longo prazo.
“Encare o elogio como o seu chocolate preferido. Acredito que você não comerá todos os dias, não é mesmo? Faça o mesmo com os elogios. Uma criança que é constantemente elogiada pode ficar ‘viciada’ em aprovação e dependente do que o outro vai pensar, ou seja, para ela, ela somente será aceita e amada quando for elogiada”, esclarece a profissional.
Encorajar a criança vai fazer com que ela desenvolva autoconfiança e autoestima. A criança vai se sentir satisfeita com o resultado que alcançou, não satisfeita porque agradou o outro.
- Elogio – “Estou muito orgulhosa que você tirou 10!”
- Encorajamento – “Você se esforçou. Foi muito merecido!”
Note que o elogio requer um trabalho com bons resultados, já o encorajamento evidencia o esforço.
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Não, não e não!
O “não” é uma das palavras que os pais mais usam com os filhos. No lugar de ficar repetindo isso diversas vezes, a fonoaudióloga sugere que eles digam o que desejam, mudando o foco da frase.
“Se o seu filho está riscando a mesa/parede, por exemplo, e você já falou ‘não’ muitas vezes, que tal tentar: ‘Vamos encontrar uma folha para desenhar?’. Ou se a sua filha está espalhando os brinquedos antes de dormir, que tal tentar: ‘vamos colocar os brinquedos nas caixas?'”, explica.
Dessa forma, a atitude se torna menos desgastante para os pais e é até mais eficaz do que os “nãos” o tempo todo.
Pausa positiva (repense o castigo)
Segundo Mariana, uma das estratégias da disciplina positiva é a capacidade de lidar com os sentimentos. “Crie, com a criança, um local especial para que ela possa se acalmar – o ‘cantinho da calma’. Pode ser a almofada preferida, o gramado do quintal, o tapete da sala, o que ela preferir”, explica.
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Nesse espaço, pais e filhos podem criar estratégias, como contar até 10 ou respirar fundo. Nos momentos em que a criança estiver agitada ou irritada, o “cantinho da calma” pode ser uma opção.
“Não encare o ‘cantinho da calma’ como uma recompensa a um comportamento inadequado. Você está ensinando a lidar com os sentimentos“, completa a fonoaudióloga.
Reconhecimento e gratidão (estreitando laços)
Outra forma de aplicar a disciplina positiva é demonstrando reconhecimento e gratidão pelas atitudes dos pequenos.
“Notei que foi prestativo com o seu irmão. Tenho certeza que ele se sentiu muito bem com a sua ajuda!”
“Obrigado por ter guardado os seus calçados.”
Evite mimar
Muitas pessoas acreditam que a disciplina positiva é sinônimo de mimar a criança, atendendo a todos os seus pedidos. Na verdade, é o contrário: os pais procuram desenvolver o senso de capacidade dos filhos para que possam ser mais autônomos e independentes.
A disciplina positiva tem a habilidade de ver no erro a capacidade de aprender. “Errou? Recomece. Dê o exemplo! Respeite, tenha empatia, ame, dialogue, seja firme e gentil”, finaliza a doutora.
“De onde tiramos a ideia absurda de que, para uma criança agir melhor, precisamos antes fazê-la se sentir pior?” — Jane Nelsen, autora de livros sobre desenvolvimento infantil e ícone da disciplina positiva.