Mais de 125 milhões de pessoas estão em insegurança alimentar no Brasil de 2022. Desse montante, cerca de 33 milhões de brasileiros sobrevivem com fome nos pratos. As informações são do segundo Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (II VIGISAN), realizado neste ano.

Em Bauru não é diferente. Segundo a Secretaria Municipal do Bem-Estar Social (SEBES), cerca de 10 mil famílias bauruenses estão em situação de extrema pobreza e possuem renda per capita de R$89,00 ao mês. Menos de 90 reais para tentar garantir comida, moradia, saúde, transporte, bem-estar e demais serviços essenciais para, em média, quatro pessoas no mês. Ainda de acordo com a secretaria, outras 3.218 famílias estão em situação de pobreza e têm renda per capita mensal entre R$89,01 e R$178,00.

Embora acelarado pelos efeitos econômicos decorrentes da pandemia de Covid-19, como diminuição de salários e aumento da informalidade e do desemprego, o cenário atual é resultado do abandono de políticas públicas, conta Maria Rita Marques de Oliveira, pesquisadora e professora do curso de graduação e pós-graduação em Nutrição da Unesp de Botucatu em reportagem sobre o tema.

Entretanto, apesar do contexto, ainda há quem faça por aqueles que não têm os próprios direitos resguardados e garantidos. É o caso dos voluntários do Centro Espírita “Irmã Catarina” (CEIC), organização religiosa e social que atua em Bauru há 69 anos.

Da esquerda para a direita: Atair Caetano, Luciana Quintiliano e Fernando Vieira, voluntários e frequentadores do Centro Espírita “Irmã Catarina”

Idealizado pela médium Alice Alves Pereira, a Dona Alice, o Centro foi criado com o intuito de ajudar o próximo por meio da Doutrina Espírita. Ali na Vila Cardia, a médium atendia aqueles que a procuravam por auxílio no nível espiritual e material.

“Ela [Dona Alice] tinha mediunidade e com a mediunidade viu a necessidade de montar um lugar em que pudesse ajudar as pessoas. Os encarnados e desencarnados. Depois começaram a chegar pessoas precisando de comida, roupas, itens de higiene”, afirma Luciana Quintiliano, 46, atual diretora da organização.

Fotografia da Dona Alice, fundadora do CEIC

O que Dona Alice plantou, hoje coleciona frutos. No complexo, os voluntários atendem até hoje aos bauruenses que ali chegam pela fé e também aqueles que estão em situação de vulnerabilidade social e em busca de comida, roupas, móveis, brinquedos, cursos, assistência médica e estética ou até mesmo remédios.

No Brasil, de acordo com o II VIGISAN, 58% da população está em situação de insegurança alimentar e nutricional, ou seja, quando não há acesso pleno e permanente a alimentos em quantidade, qualidade e variedade suficientes

“A gente faz o bazar com itens de pessoas que frequentam o Centro ou de conhecidos. Com o dinheiro desse bazar, a gente compra alimentos ou o que precisar”, explica Luciana sobre uma das fontes e renda do local.

O Bazar Dona Irene é uma homenagem a Sra. Irene Papassoni, precursora do Projeto Gestante. Nasceu há mais de 40 anos com o intuito de arrecadar fundos para o Projeto e o Centro. Atualmente, ocorre na manhã do segundo sábado de cada mês. São vendidos itens em bom estado, como roupas, calçados, acessórios, móveis usados, eletrodomésticos de pequeno porte e etc

Cesta básica e marmitas doadas pelo CEIC

Todos os meses, o CEIC faz a distribuição de, em média, 200 cestas básicas para as famílias cadastradas. O número pode variar conforme o nível de doações recebidas tanto de integrantes do Centro, quanto de outros voluntários e empresas que queiram ajudar a causa.

A lista vem crescendo com os anos e, hoje, soma 350 famílias em espera. Para participar, elas fazem um cadastro no CEIC. Após avaliação, elas recebem o auxílio durante seis meses. Luciana conta que, na pandemia, houve um aumento significativo de pessoas em busca dos itens.

“Na pandemia, muitas pessoas de serviços como cabeleireiros e do comércio, que antes ajudavam o Centro, vieram pedir cestas. Hoje, graças a Deus, as pessoas já estão mais inseridas, mas ainda tem uma lista de espera grande”, informa a diretora.

Além da distribuição de cestas básicas, eles executam o Projeto Doe Amor, iniciativa criada na pandemia e que arrecada alimentos e dinheiro para o preparo de marmitas. Em média, 150 refeições são entregues todas às terças-feiras para as pessoas em situação de rua.

Todavia, o cenário tem mudado. O que no início era caracterizado por pessoas em situação de rua, hoje abrange outros públicos. “A relação mudou bastante nesses últimos meses e foi de sair moradores de rua e entrar pessoas desempregadas e idosos procurando pelas marmitas. Aumentou muito o número de idosos que não conseguem sobreviver com o dinheiro da aposentadoria”, informa Fernando Vieira, 66, voluntário do CEIC.

E a observação é precisa. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o preço dos alimentos e bebidas já subiu 9,83% nos primeiros sete meses de 2022. Isso coloca em risco a sobrevivência dos mais pobres, que comprometem a maior parte do orçamento com comida e bebida.

Cestas básicas montadas no CEIC

Aqui em Bauru, os bairros mais atendidos ficam na periferia do município, como Ferradura Mirim, Fortunato Rocha Lima, Jaraguá, Santa Edwiges, Pousada da Esperança, São Manuel, Parque Bauru, Buritis, Vista Alegre, Mary Dotta e assentamentos.

Para além da comida, CEIC oferece cursos de formação

Além da parte de alimentação, o CEIC oferece outros serviços à população. Como o Projeto Gestante, todos os sábados, que consiste em ensinar os primeiros passos às futuras mamães, como banho, amamentação e cuidados básicos.

“A gente dá banheira, kit banho, sabonete, até escova e pasta de dente para as mães. Eu falo que tudo o que a gente recebe é aquilo que a gente doa”, informa Luciana sobre as doações voltadas ao público infantil e materno que frequenta o curso.

Durante a entrega das cestas, também ocorre a assistência em saúde. Para isso, o CEIC conta com apoio voluntário de médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde que ficam encarregados de atender as famílias cadastradas. Em complemento, esteticistas e cabeleireiros voluntários também oferecem os serviços de forma gratuita aos beneficiários.

“Agora, a gente está colocando em prática o Projeto Mais Visão, em que a pessoa [das famílias cadastradas] sai daqui com a receita e vai fazer os óculos de graça na ótica”, diz Luciana sobre a nova iniciativa do CEIC.

Porém, apesar do trabalho importante perante aos mais necessitados, o CEIC reconhece que são ações paliativas, que visam amenizar, mas não resolvem a problemática a longo prazo. Pensando nisso, o Centro também produz currículos gratuitamente.

Cursos de costura e artesanatos ocorrem no CEIC também

Campanha dos alimentos, roupas e dignidade. Como colaborar?

Para ajudar quem precisa, o CEIC recebe doações de alimentos, dinheiro, roupas infantis e adultas, móveis, itens de higiene, enxoval infantil, livros, discos e itens para o lar. Qualquer pessoa, de qualquer natureza religiosa, ou empresa podem colaborar.

As doações podem ser feitas todas às terças-feiras, das 16h às 18h30, na Rua Rio Grande do Norte, 1-33, Vila Cardia, ou por meio da chave pix do local (14996125794). Para mais informações, é possível ligar (14) 99612-5794 ou acompanhar o CEIC nas redes sociais (site, Instagram e Facebook).

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