O jogo The Last of Us foi lançado originalmente em 14 de julho de 2013, exclusivo para o playstation 3, que contava uma história original sobre apocalipse zumbi. O jogo foi um sucesso de crítica e de público, principalmente pela originalidade do tema, que apesar de clichê, soube utilizar a narrativa a favor da jogabilidade, levantou questões sociais e deixou a maioria dos jogadores impactados.

Produzido pelo estúdio Naughty Dog, gigante da indústria dos games que possui em seu catálogo, jogos como Crash Bandicoot, franquia Uncharted e se colocou de vez no mercado de games como a produtora responsável por trazer a “sensação de cinema” aos videogames, devido ao seu investimento na imersão nas cenas de ação e com histórias single-players, que é o movimento contrário do mercado hoje em dia.

Focado no formato de ação-aventura e sobrevivência, o jogo mistura cenas cinematográficas que deixa o jogador conectado e imerso na história.

Escrito por Neil Druckmann, um diretor de criação, roteirista e programador de jogos eletrônicos israeli-americano. Mudou-se para os Estados Unidos em 1989 e estudou ciência da computação na Universidade Carnegie Mellon, formando-se e procurando um trabalho na indústria dos jogos. Druckmann entrou na Naughty Dog inicialmente como um estagiário e hoje é uma referência no mercado de games.

O jogo recebeu 95 no Metascore, do Metacritic, que é considerado o principal portal de críticas de games hoje no mercado, talvez o mais importante. Sendo uma espécie de Rotten Tomatoes dos games.

Conquistou fãs ao redor do mundo que criaram uma expectativa enorme para uma continuação. Que chegou somente em junho de 2020, aliás, The Last of Us parte 2 vale uma discussão só sobre ele. Mas deixa para depois.

Adaptação HBO

Com uma movimentação do mercado de streamings e cinema, misturado com um certo cansaço de adaptações de super-heróis, os games chegaram de vez para a cultura pop e furando cada vez mais a bolha das adaptações para as grandes mídias.

Apesar de não ser recente, afinal, se bem me lembro, uma das primeiras memórias afetivas que eu tenho quando criança era de ir ao cinema em Bauru, no antigo Cine Bauru na rua 13 de Maio assistir o primeiro filme do Mortal Kombat (1995), acompanhado dos meus pais, é claro.

Mas por muito anos, sinônimo de adaptação de games se tornou uma desgraça total, filmes como: Tomb Raider da Angelina Jolie, Street Fighter – A Última Batalha, Doom que tinha um ator em ascensão chamado The Rock, todos os filmes do Resident Evil, Monster Hunter e até o “maravilhoso” que de tão ruim deu a volta e se tornou um clássico cult que foi a adaptação do Super Mario Bros de 1993, com Bob Hoskins e John Leguizamo (procure no youtube e me agradeça, ou não).

E recentemente com o sucesso de Sonic, parece que Hollywood entendeu que os games podem ganhar vida nas telas e gerar muito lucro, e neste cenário a HBO adquiriu os direitos da Naughty Dog e da Sony para adaptar The Last of Us, que é uma série recente. E assim, nasceu a série que acabou de terminar a primeira temporada no último domingo (12/03/23).

Acertadamente, a série trouxe o criador do jogo, Neil Druckmann para ajudar na adaptação e manter a essência dos jogos. E deu muito certo.

Com a sinopse igual ao do jogo, a série começa em 26 setembro de 2003, quando um surto causado por um fungo conhecido como cordyceps causa pânico nos Estados Unidos, transformando os hospedeiros humanos em monstros canibalísticos conhecidos como infectados.

Em 2023, vinte anos depois do início da pandemia, Joel (Pedro Pascal) , um dos sobreviventes, é contratado para contrabandear uma garota chamada Ellie (Bella Ramsey) para a base do grupo miliciano Vagalumes para ser desenvolvido uma cura, já que a jovem se descobre imune a doença. O que começa como um pequeno trabalho se torna uma aventura perigosa e emocionante, conforme eles atravessam o país e dependem um do outro para sobreviver em meio a vários monstros e inimigos.

No total de nove episódios a série adapta o primeiro jogo da saga, mesclando algumas adições que são sempre bem vindas e algumas cenas que são idênticas ao jogo original.

Saldo positivo, mas com ressalvas

Eu simplesmente adorei a série em todos os aspectos, seja na adaptação, nos cenários, na maquiagem dos infectados e todos os recursos narrativos que a série tomou em liberdade para inserir. Como por exemplo, os flashbacks, que ajudam a compreender melhor todo o contexto.

Outro ponto que vale a pena destacar, foram as atuações da dupla principal. Pedro Pascal como Joel carrega o peso do personagem que está quebrado emocionalmente e vê em uma garota que ele acabou de conhecer uma oportunidade de voltar a ter esperança. Aliás, Pascal se tornou o “pai solteiro” das séries do momento, afinal, se aqui ele cuida de uma garota, em Mandalorian ele protege um baby Yoda.

Mas o protagonismo da série fica por conta da atuação gigantesca da Bella Ramsey, que apareceu no cenário midiático como Lyanna Mormont em Game of Thrones. Ramsey rouba toda a cena e consegue transpor todos os conflitos que a Ellie passa, e principalmente toda a esperança que ela enxerga em um mundo que ela nunca viveu. Mostrado em detalhes no episódio 7 “O Que Deixamos Para Trás”, é de longe o mais triste.

Vale ressaltar que o episódio mais polêmico, e ironicamente não envolve a dupla de protagonistas. O episódio 3 “Por Muito, Muito Tempo” conta uma história paralela sobre o personagem Bill. Na série, é adaptado de uma forma bem diferente do original, que sinceramente, gostei muito.

Assim como Yin Yang, nem tudo é perfeito, tive algumas ressalvas da primeira temporada. Uma delas foi a pressa em adaptar literalmente todo o primeiro jogo, para quem jogou sabe que tem história para durar umas duas temporadas. Não me entenda errado, não quero uma história que se arraste e me enrole, mas muitas passagens ficaram de lado.

Ainda mais que a própria série trouxe elementos que poderiam ser mais bem trabalhados, como algumas passagens do passado. A história da cientista lá no episódio dois e a cena inicial. Fiquei com a sensação que esses complementos ajudariam a aumentar a história e trazer novos elementos. Eles fizeram, mas foi pouco.

Outro ponto que senti falta, foram as cenas de ação, não que o foco da história seja a ação. Mas senti falta dos confrontos, tanto pelos infectados, quanto pelos próprios humanos. Tinha conteúdo para explorar melhor os Vagalumes. Óbvio que quando a gente fala de séries com tema zumbi e ação a gente lembra do que se tornou The Walking Dead, não é esse o caso.

Mas senti falta da tensão que o jogo causa em certos momentos de conflito. Outro ponto que senti muita falta na série, foi o terror. Uma das premissas do jogo é a falta de recursos e como você precisa lidar com os infectados e humanos, muitas das vezes, simultaneamente. E isso causa um desconforto gigante.

Claro que nada disso é o foco principal, aliás muita gente interpreta erradamente o que The Last of Us quer dizer. No fim, tudo isso gira em torno de uma palavra: humanidade.

Humanidade

Definição de humanidade: substantivo feminino; natureza humana; reunião das características que são particulares à natureza humana. Maneira bondosa de se tratar alguém; benevolência: tratava todos com humanidade. Também se refere a atos humanos de compaixão e solidariedade, atos em que nós somos capazes de ajudar o próximo.

Quando o mundo acaba, o que resta é sobreviver, você esquece de viver, quando Joel passa pelo o que ele passou, ele sobrevive. Segue sua vida sobrevivendo, porém, ao conhecer Ellie, ele finalmente resgata uma das maiores motivações que podemos sentir: viver.

Os infectados e os humanos possuem algo em comum: o instinto de sobrevivência. O que diferencia o ser humano de um animal, ou no caso de um infectado é a sua capacidade de humanizar a sua sobrevivência, dar um propósito em sua vida. E isso justifica a atitude do Joel no último capítulo.

Se existe a busca pela cura, o que leva ao limite de toda uma sociedade que restou, mas você está curando o quê? Se para obter uma cura desse vírus você precisa perder a sua humanidade, você está curando exatamente o quê? Por isso que Joel tomou a atitude no final, ali, depois de muito tempo, ele encontrou um propósito.

Assim como na carta deixada pelo Bill que esse significado ficou tão claro na série: “Eu odiava o mundo e adorei quando todos morreram. Mas me enganei. Tinha uma pessoa que valia a pena ser salva. Foi o que fiz. Eu salvei ele. Depois protegi ele. É por isso que há homens como nós. Temos um dever. E Deus ajude os putos que nos atrapalharem”.

The Last of Us surpreendeu todo mundo em 2013, emocionou em 2020, no segundo jogo e agora na adaptação 10 anos depois repetiu a mesma sensação. É uma história sobre propósitos e humanidade, utilizando como cenário um mundo apocalíptico, não pelos zumbis, mas pelos humanos que restaram, no caso, em sua tradução literal: o último de nós.

The Last of Us, 2022 –
Veredito: 5/5
Onde assistir: HBO Max
Temporadas: 1
Produtores Executivos: Greg Spence
Agregador no Rotten Tomatoes: 96%
Avaliação da IMDB: 9.0
Trailer Youtube

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