Depois de dois anos, a série voltou no último dia 22 de março na Netflix, mas talvez passe batido pelo grande público. Aliás, esse é um movimento muito comum da plataforma.

Geralmente a primeira temporada vem carregada de publicidade e vai perdendo força conforme as temporadas vão passando, e assim é traçado o caminho para o cancelamento de uma série. E tenho minhas considerações que as chances de não termos uma terceira temporada é bem grande.

Mas vamos lá, se você não conhece, a série original da Netflix, Cidade Inviível conta a história de Eric (Marco Pigossi) que é um detetive da Polícia Ambiental que, após encontrar um boto-cor-de-rosa morto em uma praia do Rio de Janeiro, se envolve em uma investigação de assassinato.

A partir desse caso, Eric esbarra em um mundo habitado por entidades míticas que costumam passar despercebidas pelos humanos, ao mesmo tempo em que investiga mortes estranhas que, de forma bizarra, refletem a de sua própria esposa, Gabriela (Julia Konrad).

À procura de novas pistas, Eric descobre o passado do pai e desvenda sua verdadeira identidade como meio humano e meio entidade. As coisas complicam para Eric e seus companheiros quando o Corpo Seco, um espírito fugitivo de um antiambientalista, entra no corpo da sua filha Luna (Manu Dieguez). Por vingança, o espírito está matando outras entidades da floresta e é o grande responsável pela morte de Gabriela.

Foto: Divulgação/Netflix

Agora, cabe a Eric e as entidades encontrarem uma maneira de parar o Corpo Seco. Já a segunda temporada começa dois anos após os eventos da primeira. Eric desapareceu por um período de tempo e reaparece em um santuário indígena próximo a Belém do Pará. Luna, agora mais velha, está em busca de seu pai com a ajuda da Cuca.

Criado por Carlos Saldanha, um diretor cinematográfico brasileiro, é um dos maiores nomes da animação no mundo. Depois de comandar a trilogia “A Era do Gelo”, liderou as bilheterias com o sucesso da animação “Rio” e “Rio 2”. Com o filme “O Touro Ferdinando” concorreu ao Oscar de Melhor Animação em 2018.

No entanto, Cidade Invisível foge do padrão do cineasta, já que apresenta uma história mais adulta, com suspense, fantasia e mistérios envolvendo o folclore brasileiro.

É legal como a série vai além dos mitos, trazendo desenvolvimento dos personagens em meio às dificuldades enfrentadas. Os efeitos especiais são bons, não há muitos, mas os que existem são muito bem feitos. Apesar que em alguns momentos ficam um pouco esquisitos, acredito que seja pelo nosso histórico de uma novela de mutantes de alguns anos atrás.

As atuações são muito bem feitas e entregam sem ser clichê. Aliás, tudo que a série faz é fugir do clichê das lendas folclóricas. A retratação das entidades é bem respeitosa para os mitos originais. A série retrata as lendas folclóricas brasileiras em tempos modernos.

Várias lendas surgem como Boto-cor-de-rosa, Iara, Cuca, Saci-Pererê, entre outros. Visual, estética, conceito, tudo encaixa e traz uma história mais madura para essas lendas tão famosas. Alessandra Negrini de Cuca é o maior destaque das duas temporadas.

Foto: Divulgação/Netflix

Mitologia brasileira

A segunda temporada traz novas lendas do folclore brasileiro, que nacionalmente ficou conhecido pelas obras de Monteiro Lobato. E aqui tem uma relação das principais lendas que aparecem no decorrer das duas temporadas:

Saci-pererê
O saci-pererê é um ser mítico que habita as florestas e tem como grande característica o fato de ser travesso e pregar peças nas pessoas. Ele é um ser pequeno, com cerca de meio metro de altura, embora existam versões da lenda que falam que ele pode chegar a ter três metros de altura, se quiser. É interpretado por Wesley Guimarães.

Cuca
A Cuca é um ser mítico que está presente no folclore brasileiro, sendo muito conhecida por ser a responsável por sequestrar as crianças desobedientes. A Cuca espreita as casas das pessoas durante a noite e captura as crianças que não dormem na hora correta e que são inquietas. Essa lenda era comumente utilizada como forma de amedrontar as crianças. Interpretada por Alessandra Negrini.

Curupira
O curupira é retratado frequentemente como um anão que possui os cabelos vermelhos e os pés ao contrário (com os calcanhares para frente). É importante reforçar que a descrição física do curupira pode variar de acordo com o local em que a lenda é reproduzida. Interpretado por Fábio Lago.

Mula Sem Cabeça
A mula sem cabeça é uma lenda presente no folclore brasileiro, sendo conhecida por outros nomes também: burrinha de padre e burrinha. Essa lenda não está presente só no Brasil, mas em diversos países da América Latina. Na versão brasileira, narra-se a história de uma mulher que se transforma em uma mula com labaredas no lugar da cabeça. Interpretada por Simone Spoladore.

Foto: Divulgação/Netflix

Boto-cor-de-rosa
De acordo com a lenda, um boto cor-de-rosa sai dos rios amazônicos nas noites de festa junina. Com um poder especial, consegue se transformar num lindo, alto e forte jovem vestido com roupa social branca. Ele usa um chapéu branco para encobrir o rosto e disfarçar o nariz grande. Vai a festas e bailes noturnos em busca de jovens mulheres bonitas. Interpretado por Victor Sparapane.

Matinta Perê
Matinta Pereira (ou Mati-Taperê) é uma personagem bastante forte no folclore da Região Norte do Brasil. Ela é uma mulher idosa, que usa roupas escuras e velhas e que passa as noites assobiando pelas ruas, causando medo nas pessoas. De acordo com algumas versões da lenda, ela se transforma em um pássaro de mau agouro durante a madrugada. Em outras narrativas, ela se transforma em coruja, ou é acompanhada por um pássaro fiel. Mas sua principal característica é o seu assobio estridente. Ela só para de assobiar quando algum morador promete algo a ela. Interpretado pela Letícia Spiller.

No geral, a série tem feito um sucesso expressivo aqui no Brasil, passou os últimos dias entre os destaques. Mas ao final da segunda temporada, ficou uma sensação de fim de festa. Tem histórias para explorar? Tem, e muita. Mas ainda fico com a sensação de que a história que o Carlos Saldanha queria contar, ele já contou.

Por outro lado, ter produções nacionais em grandes players é algo que vale muito a nossa atenção, inclusive com uma história focada fora do eixo Rio-São Paulo é algo admirável. Apesar que a gente sabe que essas produções só existem por causa da Lei 483/22 que obriga que essas empresas tenham uma porcentagem de conteúdo nacional para atuarem aqui.

Mesmo assim, Cidade Invisível é um conteúdo que vale a pena. É bem curta, com poucos episódios e o entusiasmo da galera da produção é evidente na tela. Recomendo para quem quer algo que fuja do marasmo dos mesmos conteúdos. Tenho algumas ressalvas na história. Mas no geral o saldo é bem positivo.

Cidade Invisível, 2021 –
Veredito: 4/5
Onde assistir: Netflix
Temporadas: 2
Produtores Executivos: Carlos Saldanha
Agregador no Rotten Tomatoes: *Não avaliado
Avaliação da IMDB: 7,2/10
Trailer Youtube

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