Dirigido por Jon S. Baird, um diretor desconhecido pelo grande público, entrega uma história “real” sobre os bastidores do licenciamento de um dos maiores jogos da história dos games.

Focado em uma narrativa interativa, o filme é longo e entrega uma série de acasos históricos políticos que influenciaram o mercado de games, além de uma mudança política no cenário mundial.

Antes de Tetris se tornar um dos jogos de computador mais famosos do mundo, ele passou por uma jornada extraordinária: quando o desenvolvedor de jogos de computador nascido na Holanda, Henk Rogers (Taron Egerton), descobriu o jogo do programador russo Alexey Pajitnov (Nikita Efrenov) no final da década de 1980, a Cortina de Ferro da URSS estava prestes a cair.

Pajitnov e Henk Rogers da vida real. Foto: Arquivo/BBC

Com o objetivo de comercializá-lo mundialmente em consoles de videogame, Rogers adquire a licença do Tetris e se envolve em um turbilhão de mentiras e corrupção, de modo que precisa negociar até com o serviço secreto russo KGB. Enquanto várias partes fazem reivindicações legais sobre o jogo, Rogers logo se vê envolvido em uma enorme batalha legal.

Tetris consegue transcrever todo um contexto histórico sobre a Guerra Fria e coloca como cenário de fundo uma relação comercial. Vale ressaltar muito a atuação do Taron Egerton que traz carisma e carrega a dinâmica de todo o filme.

Uma visão inovadora de mercado, algo que na época era muito contestado, o filme se preocupa em trazer a história das personalidades da época relacionadas a mídia, grandes jornais e empresas que a gente conhece até hoje como a Sega e Nintendo.

Por outro lado, existe um lado simbólico, afinal o filme precisa ter um pouco de ação, né? E até alguns questionamentos são feitos referentes às cenas de perseguição de carro. Transformando um filme biográfico em quase um trama de espionagem, algo bem 007 da década de 70. Provavelmente na vida real deve ter sido numa escala muito menor.

Foto: Divulgação/Apple TV+

Ao mesmo tempo, Tetris acaba se apoiando em clichês óbvios. Para fazer com que essa tensão exista, ele pesa a mão na hora de construir essa União Soviética opressora e ameaçadora. Tudo é muito cinza, sombrio e intimidador, bem na visão norte americana sobre as histórias que se passam em países fora do eixo padrão.

Vale a pena assistir o filme, até pelo fato de você querer procurar sobre a história verdadeira, principalmente sobre os dois protagonistas. Uma ótima surpresa para quem faz algo novo e diferente nos streamings. E apesar de a Apple TV não ser tão famosa no Brasil, hoje no mercado é um dos mais baratos e só comprova o quão vale a pena assinar, comparado aos outros.

E também por toda a relação comercial que de fato era impossível imaginar que um jogo de videogame pudesse estremecer a relações internacionais de uma grande potência. Além do mais, segundo o próprio filme, em virtude de toda a negociação de um produto na nação da URSS sendo comercializada por países capitalistas, mostrava como a forma econômica estava em sua fase final.

Pensar que um jogo feito por cubos poderia ser um dos, EU DISSE UM DOS, pontos que demonstraram as ruínas que estavam a União Soviética no final da década de 80.


Foto: Divulgação/Apple TV+

História Real

‘De certo modo, é um evento histórico’: Criadores de Tetris reagem ao filme sobre história do game.

O game designer Henk Rogers adquiriu os direitos para publicar Tetris no Japão em 1988, depois de jogar uma demo na Summer CES, em Las Vegas, antecessora da Electronic Entertainment Expo, a E3.

Na Rússia, os direitos de publicação de Tetris pertenciam a uma companhia chamada ELORG. Em outros mercados, a questão era mais complexa: A Andromeda Software, de Robert Stein (que é interpretado na série por Toby Jones) tinha os direitos do jogo para computadores fora da Rússia e negociou esses direitos com a Microsoft para publicar o jogo no Reino Unido.

Essa empresa, dirigida por Robert Maxwell (interpretado por Roger Allan na série de TV), por sua vez, negociou ilegalmente os direitos do jogo para a Atari, no Japão.

Foto: Divulgação/Apple TV+

Rogers comprou os direitos de Tetris da Atari em 1988 e começou a trabalhar com a Nintendo para adaptar o jogo para o lançamento do portátil Game Boy. A Nintendo precisava dos direitos de publicação e Henk partiu em busca do proprietário real, suspeitando que a Andromeda tinha quebrado o contrato com a ELORG. O designer viajou para Moscou, em busca de Nikolai Belikov (interpretado por Oleg Stefan).

Alguns trechos da viagem foram registrados em vídeo e podem ser vistos no documentário Tetris: From Russia with Love, lançado pela BBC em 2004.

Apesar de duas horas de filme que aliás é um pouco exagerado, o filme é muito dinâmico, sabe trabalhar uma edição fazendo um paralelo com videogames que deixa a gente imerso do início ao fim. Tetris é um ótimo filme biográfico sobre Henk Rogers e Alexey Pajitno e de certa forma mostra como o mercado de games já era promissor desde a década de 80.

Tetris, 2023
Veredito: 4/5
Onde assistir: Apple TV+
Duração: 1h 58m
Direção: Jon S. Baird
Agregador no Rotten Tomatoes: 81%
Avaliação da IMDB: 7,4/10
Trailer Youtube

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