O filme de 2022, esnobado no Oscar de 2023, chegou recentemente às plataformas de streaming no Brasil e coloco aqui, é uma experiência sobre a própria história do cinema. Com um elenco estrelado, e aproveitando o hype da Margot Robbie em Barbie, Babilônia (em inglês Babylon) coloca na pele o início e a transformação do cinema. Seja pelo lado bom e pela sua ironia ao tratar da decadência de ciclos.

O filme é dirigido e roteirizado por Damien Chazelle, conhecido pelos filmes como: La La Land, Whiplash e O Primeiro Homem. E aqui ele usa e abusa de seus maneirismos e ângulos exagerados, o que faz muito sentido, afinal está falando da “era de ouro de Hollywood e sua transformação do cinema mudo“.

Babilônia segue grandes atores do cinema mudo no final da década de 1920, justamente quando o cinema passa a ser falado. Em 1926, o imigrante mexicano Manny (Diego Calva), ajuda a transportar um elefante para a festa do executivo da Kinoscope Studios. Lá, conhece a atriz Nellie LaRoy (Margot Robbie) e também a atriz Jane Thornton.

Durante a festa, Manny passa a ver outros atores em suas versões menos glamorosas. Nellie acaba sendo recrutada para substituir Thornton na Kinoscope e rapidamente começa a ser a nova “it girl” de Hollywood, aparecendo em inúmeros filmes e sendo a mais amada.

Manny também não é esquecido, ele consegue rapidamente ultrapassar atores mais consagrados com a chegada dos filmes falados, já que muitos outros não conseguiram se adaptar a nova mudança. Já Nellie, mesmo sendo uma das atrizes mais famosas de Hollywood, acaba se virando para as drogas com as altas demandas de seus produtores.

Vale ressaltar as atuações de Brad Pitt, da própria Robbie, mas quem se destaca é o até então desconhecido Diego Calva. Além das participações especiais que vão pintando no decorrer da história. Até o Tobey Maguire aparece em um determinado momento.

O filme é um pouco longo, e antes vale ressaltar que ele tem uma premissa meio parecida como um musical, não indico para menores de idade, tirem as crianças da sala.

Se tem um adjetivo que posso caracterizar o filme é EXAGERADO. O longa extrapola o lúdico e coloca as situações sempre no limite. Como uma espécie de fábula, eleva o tom em todos os níveis que transforma os personagens em meros estereótipos sobre a época. De momentos até de pura vergonha alheia, proposital, claro.

Por outro lado, se você gosta de filmes que contam a história do cinema, ele lembra um pouquinho “A Invenção de Hugo Cabret” do Scorsese misturado com “Era uma Vez em… Hollywood” do Tarantino. Ambos utilizam a narrativa para gerar situações de bastidores que trazem a sensação do que rola por trás das câmeras. Tema que gera sempre um fascínio e curiosidade.

Mas a imersão que o filme causa tem muito pelo compositor, Justin Hurwitz que personifica em toda a “orgia” de sensações do filme em uma trilha sonora poderosa que fica na sua cabeça por um bom tempo. Especialmente ao tema principal do filme: Voodoo Mama. Ela é gigante, espalhafatosa do jeito que o filme precisa. Sugiro
você ouvir.

Babilônia não é um filme fácil, apesar da correria, ele tem uma história relativamente simples que se não fosse a engenhosidade do próprio diretor, talvez passasse despercebido no geral. Tem um ritmo extremamente acelerado no começo e como toda boa ressaca, ele vai ficando cada vez mais lento, e leeeeeento até que se concluir.

Sendo proposital, afinal, assim como na história, a transição da novidade do cinema passa a se popularizar, se tornando algo mais comum e por consequência, descartável. O filme explora o universo da mídia ao extremo, até didático em certos momentos.

Mostrando como vamos da ascensão ao sucesso, até o declínio medíocre. Do velho sendo substituído pelo novo, do cinema P&B ao colorido, do mudo ao sonorizado, do efeito prático ao CGI (Computer-Generated Imagery). Tudo isso é debatido e colocado dentro de um liquidificador e misturado. Outro ponto que vale ressaltar é que o filme é inspirado em alguns acontecimentos reais, dentre eles, o mais claro, da atriz Clara Bow.

Referências

Babilônia é ficção, porém com uma série de inspirações da vida real, o mais claro é que a personagem da Margot Robbie com a atriz Clara Bow, a primeira “it girl” do mundo. Bow nasceu em 1905 no distrito do Brooklyn, em Nova York, no que seu biógrafo, David Stenn, define como “a mais brutal pobreza que se conhecia na época”.

Nas telas era tão ousada quanto ela própria. Os Estados Unidos se apaixonaram por ela por causa de seus grandes olhos e sua beleza angelical, mas também porque ela era despreocupada, cheia de energia, segura de si e independente. Bow não era especialmente sedutora e elegante, mas atraía por estar sempre de bem consigo mesma.

Era o arquétipo da mulher moderna. Enquanto outras estrelas dos anos 20 podem parecer caricaturais e melodramáticas aos nossos olhos do século 21, Bow sempre aparece como uma pessoa cheia de vida e sem afetações: a garota que mora ao lado, mas que também podia muito bem fazer parte da turma dos meninos. Assim como na vida real, o filme coloca ela ao extremo, de uma estrela do cinema Novo até um fim melancólico.

Porém, há também as referências bem pensadas. Ora, um dos maiores filmes da história do cinema e também uma grande crítica a Hollywood é o irretocável “Crepúsculo dos Deuses”, de Billy Wilder. A verdade é basicamente o que vemos em ‘Babilônia’: embora nem todas as filmagens apresentem som, ‘O Cantor de Jazz’, de 1927, foi apresentado como o primeiro “talkie” ou filme sonoro.

Foi um fenômeno tão grande que, em 1930, já era o padrão de Hollywood. Isso, para o bem e para o mal, acabou afastando da indústria artistas cujos talentos não foram traduzidos para a nova linguagem audiovisual. E esse de fato é o grande dilema do filme. A maneira como os atores, produtores e artistas no geral tiveram que se adaptar ao novo mundo. Algo que se tornou muito cruel e mágico ao mesmo tempo.

Babilônia é uma mistura de sentimentos, do exagero da festa, drogas e vida ao limite, até uma nova era, de envelhecer e das mudanças que isso gera. O filme fala exatamente das consequências das mudanças e como uma indústria pode ser tão bela e pobre ao mesmo tempo. Afinal, se Hollywood é a terra da magia, por trás dela, tem algo assustadoramente cruel, assim como na vida.

Eu particularmente adorei o filme, mas entendo o porquê que muitos não gostaram e também pela falta de reconhecimento nas premiações. É um filme autoral com certas doses de egocentrismo do diretor. Mas no geral o recado está dado. A indústria do cinema pode ser tão real como a vida, e Babilônia é isso… Do glamour à decadência, basta uma mísera escolha errada. A cena final é um resumo de tudo isso, e uma certa homenagem à própria indústria.

Babilônia, 2022
Veredito: 3,5/5
Onde assistir: Globoplay (telecine) e Paramount Plus
Duração:3h 9m
Direção: Damien Chazelle
Agregador no Rotten Tomatoes: 57%
Avaliação IMDB: 7,1/10
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