Dirigido e escrito por Sam Esmail (mesmo criador da série Mr. Robot) adapta o livro de Rumaan Alam em um suspense que conta através de metáforas sobre a sociedade em ruínas. A história do casal Amanda (Julia Roberts) e Clay (Ethan Hawke) e seus filhos que vão passar o final de semana em uma mansão de luxo. Tudo vai bem até que um apagão traz dois desconhecidos com notícias de um grande ataque cibernético que transforma o feriado em um inferno.

G.H. (Mahershala Ali) e Ruth (Myha’la) chegam à casa desesperados por abrigo, alegando que a casa é deles e precisam entrar para se protegerem da grande ameaça invisível que arrisca a vida de todos. Agora, as duas famílias precisam se unir para se salvarem do desastre que se aproxima e, a cada momento, fica mais assustador e perigoso. O Mundo Depois de Nós é baseado no livro “Leave The World Behind”, do autor Rumaan Alam.

O filme oferece a tensão necessária para manter-nos presos ao enredo, além de possuir ótimos atores que entregam excelentes interpretações. O filme é bom, mas não é para todo mundo, apesar de ter uma apelo popular pelo elenco, o desenrolar da história e suas camadas interpretativas não ajudam a popularizar a linguagem, que por consequência, o público em geral não absorve.

O grande problema da história é talvez que as pessoas começam o filme esperando outra coisa (talvez algo sobrenatural), mas no fim, acabam se frustrando. Por outro lado, entre metáforas e subjetividades, existe um termo que é muito comum chamado de “rima pobre”, que é quando um filme, uma série ou um texto, quer falar sobre dois assuntos através de metáforas mas que ele não consegue dar uma profundidade o suficiente para que aquilo se torne algo um pouco mais representativo ou por muitas vezes mais irônico.

E aí ele acaba sendo extremamente direto naquilo que ele quer falar, soa como algo inteligente, mas que fala coisas óbvias. O roteiro em certos momentos, o filme beira ao engraçado quando quer ser “inteligente demais” e que faz o telespectador de bobo. E isso vai dos animais, reações cartunescas dos personagens e sobrou até para a nossa querida série Friends.

De todas, a mais impactante é a analogia e o preconceito velado que existe, o incômodo inicial causado pela dupla que se apresenta como donos da casa que cria uma sensação de algo errado. A personagem da Julia Roberts é a personificação disso.

Enfim, é uma discussão interessante que é válida, afinal, em 2023 estamos completamente dominados e dependentes da tecnologia. A história cria uma atmosfera que representa o nosso cotidiano. Mas que no geral ele não fala nada e não apresenta nada interessante. E acaba sendo um filme bem pobre, em todos os aspectos.

As atuações de maneira geral são bem fracas, Julia Roberts chama atenção e Ethan Hawke está bem, mas no fim quem acaba se destacando é Kevin Bacon em uma cena do último ato do filme, depois de quase duas horas de filme. Eu sempre vou procurar incentivar diretores que procuram histórias que trazem um pouco além daquilo a que a gente está habituado. Isso é muito válido, e é muito raro hoje em dia. Mas só de intenção não é suficiente, quando você não coloca uma substância um pouco mais um pouco maior naquilo que você tá querendo dizer, acaba ficando muito fraco.

E esse é o ponto principal desse filme. É bacana, traz uma discussão pertinente, mas falta explorar um pouco melhor a ideia, que na teoria era boa mas na prática foi bem abaixo.

A própria plataforma investe neste segmento, recentemente tivemos filmes como Bird Box, Não Olhe pra Cima, filmes que buscam contar histórias de uma sociedade em ruínas. Mas nem sempre acertam. Pelo menos não com a adaptação do livro de Rumaan Alam.

Sobre o livro e seu autor

Rumaan Alam já publicou em veículos como The New Yorker, The New York Review of Books, Bookforum, The New York Times, New York Magazine e The New Republic. Também é autor de Rich and Pretty e That Kind of Mother.
Com “O mundo depois de nós”, foi finalista do National Book Award e do Orwell Prize. Estudou na Oberlin College e mora no Brooklyn, Nova York. Hoje, pode pode encontrar na Amazon.

Apesar de um final extremamente anticlimático, o filme traz uma visão pessimista de uma sociedade dependente de tecnologia, mas acima de tudo, da fragilidade das plataformas. Hoje vivemos no limite de um ataque cibernético que pode simplesmente desconstruir uma sociedade como um todo. Essa linha tênue entre a maravilha tecnologia e sua fragilidade fascina. Estamos hoje controlando e sendo controlados por uma tecnologia incrível, mas ao mesmo tempo tão frágil que pode ruir a qualquer momento.

O Mundo Depois de Nós, 2023
Veredito: 3/5
Onde assistir: Netflix
Direção: Sam Esmail
Agregador no Rotten Tomatoes: 75%
Avaliação IMDB: 6,6/10
Trailer 

Confira mais textos do colunista: www.socialbauru.com.br/author/gabrielcandido

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