No últimos tempos, os agrotóxicos estiveram no centro de diversas discussões, mas você sabe o porquê? Este ano o governo brasileiro bateu recorde na velocidade de autorizações do produto no Brasil, e até o momento, foram liberados 382 tipos.
O número pode assustar, não é mesmo? Porém, antes de tudo é importante entender ao certo o que é o produto, quais riscos ele oferece à saúde e se algum órgão está acompanhando isso!
O que são agrotóxicos?
A coordenadora e professora do curso de Engenharia Agronômica do UNISAGRADO, Prof. Dra. Erika Cristina Souza da Silva Correia, explica que os agrotóxicos são produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos.
“Além disso, são destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas. Assim como nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais”, explica a docente.
Porém, o mais interessante é que o produto não surgiu com esse intuito! Os agrotóxicos foram desenvolvidos durante a Primeira Guerra Mundial como uma arma química. Foi apenas após o fim das guerras, no entanto, que eles passaram a ser usados como defensivos agrícolas.
“A finalidade dos agrotóxicos é alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos”, pontua Erika. Assim, atualmente, os agrotóxicos são divididos de acordo com os as pragas que atacam .
Eles estão categorizados entre herbicidas, que agem contra ervas daninhas; fungicidas, que agem contra fungos que causam doenças e inseticidas, que atacam insetos. Porém, o processo de escolha de um agrotóxico específico não é tão simples.
De acordo com a engenheira agrônoma, são inúmeros os critérios relacionados à escolha de um produto. Entre eles, é possível destacar a eficiência e o comportamento ambiental que podem apresentar
Riscos à saúde e ao ambiente
No entanto, todos eles podem trazer perigos à saúde humana, animal e ambiental. E, preocupantemente, o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo em números absolutos.
O receio ocorre porque os defensivos agrícolas podem atingir o solo e as águas subterrâneas. Além disso, eles também são bioacumulativos, ou seja, se um animal contaminado morrer e outro consumí-lo, ele também será contaminado.
Assim, a intoxicação pode ocorrer de forma indireta (pela ingestão de alimentos ou água contaminados) ou direta (por meio de contato direto, manuseio, aplicação, entre outros).
“Apesar dos agrotóxicos serem benéficos para a agricultura, pelo papel que exercem no controle de pragas, esses produtos também podem ser nocivos para os seres vivos e desencadear contaminação e poluição do solo, água e até mesmo do ar”, reitera Erika.
Dessa forma, os agrotóxicos são capazes de fazer vítimas fatais, provocar aborto, má-formação fetal, suicídios, câncer, dermatose, entre outras doenças. De acordo com a OMS, ocorrem 20.000 óbitos por ano devido à manipulação, inalação e consumo indireto de pesticidas, nos países em desenvolvimento, como o Brasil.
Quem está de olho?
Por isso, é importante que a liberação de agrotóxicos seja feita por órgãos específicos e capacitados! Atualmente, de acordo com a Prof. Dra. Erika, para que um novo agrotóxicos seja permitido no país é necessária sua aprovação por três órgãos reguladores:
A Anvisa, que avalia os riscos à saúde, o Ibama, que analisa os perigos ambientais e o Ministério da Agricultura, que analisa a eficácia para matar pragas e doenças no campo.
“Cada um desses órgãos realiza um determinado tipo de avaliação do produto, de modo independente do outro. Contudo, embora haja uma integração entre eles, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) é o órgão responsável por fornecer o registro de agrotóxicos no Brasil”, explica Erika.
Além disso, a docente também pontua que, em termos gerais, a população em alguma fase da vida será exposta aos agrotóxicos. Por isso, em 2002, a ANVISA criou o programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA).
A iniciativa surgiu com o intuito de monitorar os níveis permitidos de resíduos agrotóxicos nos alimentos. Assim, eles podem chegar à mesa do consumidor brasileiro com qualidade e segurança. Desde a criação do PARA já foram analisadas mais de 30 mil amostras referentes a 25 tipos de alimentos de origem vegetal.
Como evitar?
Dessa forma, mesmo com as regulações, estamos suscetíveis a ter contato com produtos nocivos dos agrotóxicos. Por isso, algumas alternativas podem ser úteis, e a Anvisa disponibiliza algumas dicas em seu portal, como:
- Optar por alimentos rotulados com a identificação do produtor, pois, assim, o comprometimento dos produtores em relação à qualidade de seus produtos pode ser maior;
- Adquirir alimentos orgânicos ou da “época”, que costumam receber menos agrotóxicos;
- Lavar os alimentos em água corrente e a retirar cascas e folhas externas, pois isso pode contribuir para redução dos resíduos de agrotóxicos presentes no exterior.
Além disso, Erika também pontua a importância de cuidar da saúde, em especial, a do fígado, pois ele é responsável pela eliminação de uma fração significativa dos agrotóxicos que ingerimos. “Associado a isso, praticar atividades físicas regularmente e evitar o tabagismo, pois o fumo contém muitos defensivos”, finaliza a especialista.