Após o sucesso de X – A Marca da Morte (2022), que está no Prime Video, chega aos cinemas brasileiros a continuação, que na verdade conta a história da jovem Pearl décadas antes. O ano é 1918, e Pearl (Mia Goth) está obcecada em se tornar famosa.

Presa na fazenda isolada de sua família, Pearl se vê obrigada a cuidar de seu pai doente, e viver sob a vigilância constante de sua amarga e autoritária mãe devota.

Desejando uma vida glamourosa como ela viu nos filmes, Pearl encontra suas ambições, tentações e repressões entrando em conflito. Nesta história da origem da icônica vilã de X, quando o sonho de ser finalmente uma estrela é negado, ela começa a assassinar, até alcançar o que deseja. Filmado secretamente e simultaneamente com X: A Marca da Morte (2022). Pearl serve como prequel do filme,
mostrando o início da vida da personagem-título décadas antes dos eventos de X.

Com uma proposta de filme trash, mas com um roteiro que trabalha muito sobre o emocional do personagem principal, o espectador se coloca ao lado da protagonista e vê de perto sua mudança. Pearl é um filme sobre saúde mental, e nós vemos o quão problemática uma pessoa pode se tornar ao ser enclausurada em uma casa e sendo reprimida por uma criação maternal opressora, claro, dentro de um contexto social da época.

Ainda recheado de sangue e cenas possivelmente impróprias (aliás, tirem as crianças da sala), Pearl muda sua narrativa ao acompanharmos os sonhos transformados em delírios de nossa protagonista, filha de fazendeiros alemães que moram nos Estados Unidos em plena 1ª Guerra Mundial. Com uma mistura de vaidade e ego reprimido, acompanhamos a vida da protagonista se deteriorando aos poucos.

Foto: A24/Reprodução

O filme faz parte de uma trilogia que começou com o excelente X – A Marca da Morte (2022), Pearl (2022) e terá sua conclusão com MaXXXine (2023), todos dirigidos por Ti West, de certa forma um novato para o grande público.

Pearl carrega uma mistura de cinema trash com slasher (Slasher é um subgênero de filmes de terror quase sempre envolvendo assassinos psicopatas que matam aleatoriamente). Mas em conjunto com tudo isso, com uma narrativa que para um grande público talvez pareça um pouco cansativo ou “parado” demais, mas a real é que isso faz parte da experiência.

O filme ganhou grandes holofotes em 2022 que chegou ao ponto do próprio Martin Scorsese fazer uma declaração que definiu o filme como um terror “profundamente perturbador” que é “hipnotizante” e “selvagem”. As informações são da Variety. “Os filmes de Ti West têm uma energia tão rara hoje em dia, alimentada por um amor puro e não diluído pelo cinema. Você sente isso em cada quadro”, escreveu Scorsese.

‘Pearl’ cria 102 minutos selvagens, hipnotizantes, profundamente – e quero dizer profundamente – perturbadores. Aliás, temos um especial sobre Scorsese aqui na coluna.

Sem spoilers, mas o filme então termina de uma maneira perturbadora, com um sorriso amedrontador e feliz. Esse final causa um incômodo proposital absurdo, afinal essa situação é de fato a conclusão de nós como expectador estarmos dentro da cabeça da personagem e ali, a gente consegue finalmente entender o que se passa na cabeça da protagonista e isso é algo insano.

E um ponto que vale ressaltar é a atuação da atriz Mia Goth, nome artístico da britânica Mia Gypsy Mello da Silva Goth, sim, S.I.L.V.A. A atriz ficou famosa por seus papéis em “Ninfomaníaca” (2013) e “Emma” (2020). A atriz é neta da brasileira Maria Gladys, de 83 anos, grande nome do Cinema Marginal.

Foto: A24/Reprodução

A24

Pearl faz parte de uma leva de excelentes filmes de terror da Produtora A24, que pode parecer novo para alguns espectadores, mas a A24 é uma das produtoras mais ativas do mercado cinematográfico, com diversas premiações e festivais desde seu início, lá em 2012. Criada por Daniel Katz, David Fenkel e John Hodges, a empresa começou tímida, mas promissora. Sozinha, já conquistou 25 indicações ao Oscar, sendo vencedora, por enquanto, de um prêmio na categoria principal, para “Moonlight: Sob a Luz do Luar”.

E mesmo assim, muita gente não faz ideia que já foram impactados pelos seus filmes, segue uma lista de filmes que valem a pena você conferir:
● Um Cadáver para Sobreviver (2016) – HBO Max.
● O Farol (2019) – Apenas para alugar.
● Midsommar – O Mal Não Espera a Noite (2019) – Globoplay.
● Jóias Brutas (2019) – Netflix.
● Hereditário (2018) – Netflix e HBO Max.
● Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo (2022).

Considerações

No fim, Pearl é um ótimo complemento para a trilogia, e no aguardo ansioso pela conclusão. E mesmo com os pontos fracos em sua edição e a lentidão, que eu achei proposital de desenvolvimento até mais da metade de sua duração, características de Ti West, afinal estamos falando do emocional de uma personagem que está quebrada emocionalmente. Consagra um lugar nos filmes de terror com melhor atuação e construção de personagem dos últimos tempos, trazendo ainda uma fotografia de deleitar os olhos e cenas inesperadamente belas para um longa de terror.

Foto: A24/Reprodução

Prometendo também lançar Mia Goth para novas alturas com sua atuação bem acima da média e talvez trazendo uma nova atriz queridinha para as telas do horror ou até mesmo da Hollywood tradicional. Tanto que muitos especularam Mia Goth no Oscar em 2023, mas não aconteceu. Vale a pena, porém, se você é um desavisado, cuidado, pois essa série de filmes pode lhe causar algum desconforto.

Pearl, 2022.
Veredito: 4/5
Onde assistir: nos cinemas
Duração: 1h 42min
Direção: Ti West
Agregador no Rotten Tomatoes: 91%
Avaliação da IMDB: 7/10
Trailer Youtube

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