Pensar que em 2023, no auge das produções audiovisuais e da massificação dos streamings, uma das produções mais interessantes do ano é nada mais, nada menos que uma série de áudio no Spotify.

Idealizada pelo Jovem Nerd (que aliás, esse que vos escreve é um fã absurdo) a série segue uma premissa muito parecida para quem já acompanha o trabalho deles nos podcasts de RPG. Com o foco na narrativa e interações, onde os áudios são todos sonorizados, seja na trilha e no ambiente, criando uma imersão extremamente divertida e diferente de tudo que a gente está acostumado.

Anunciado na CCXP (Comic Con Experience) em 2022, Alexandre Ottoni e Deive Pazos, respectivamente, Jovem Nerd e Azaghal anunciam no palco principal a novidade. A ideia era colocar o ouvinte na pele do protagonista. Estrelado por Selton Mello, que além de ser um grande ator, é famoso por ter realizado vários trabalhos com dublagem. Era a junção perfeita para um produto inovador, pelo menos no Brasil, e que conseguisse uma projeção grande, e de fato isso acontece.

Na trama, Selton Mello dá vida ao personagem Nelson França, um detetive particular que colaborou por muitos anos com a polícia, chegando a ajudar na prisão de um famoso serial killer. Porém, passados alguns anos, uma nova vítima é encontrada e o investigador acredita que o mesmo assassino voltou à ativa.

Com treze episódios, a trama vai se desenrolando em uma espiral de complicações e bem ao modo dos filmes clássicos noir o ouvinte é levado a acompanhar toda a trama pela “visão” do protagonista.

*Noir significa negro em francês. Os filmes noir são geralmente das décadas de 40 e 50 do século, em preto e branco. Na maioria são filmes norte-americanos, embora haja produções da Inglaterra e da França. Os assim rotulados noir são uma vertente dos filmes policiais.

Assim como nós, o protagonista apenas ouve, afinal, sem spoilers, o personagem principal tem uma característica que coloca ele na mesma sensação que a gente pois ele é cego.

Selton Mello transforma Nelson França em um gênio da investigação, mas sem cair no estereótipo, pelo contrário, uma das capacidades do ator é humanizar o protagonista e colocá-lo em decisões até questionáveis, o que torna o poder da imersão algo maior ainda. Você se importa com ele, e com todos em sua volta.

Falando em imersão, a série conta com a tecnologia do áudio binaural (áudio 3D) que é bem interessante e chegam a assustar em certos momentos. Não me lembro de quantas vezes eu achava que estava acontecendo algo ao meu redor e na verdade era do som. O ambiente, as vozes de fundo, barulhos que crescem e diminuem, algo que acontece em nossa volta o tempo todo, mas aqui, ouvindo, a gente repara. Aliás, acho que nem precisa dizer que você tem que ouvir com um bom fone de ouvido. Isso faz toda a diferença.

Além de Mello, o elenco da produção conta com nomes famosos na dublagem brasileira e famosos no meio digital, como: Luiz Carlos Persy (voz de Ian McKellen), Jorge Lucas (que já fez a voz de Ben Affleck), Maíra Góes (famosa pela voz da Dory em Procurando Nemo). Algumas participações são percebidas também, como da dupla do podcast mais famoso da atualidade brasileira, o Podpah, Igão e Mítico estão lá também. E também do famoso Antonio Tabet, famoso pelas atuações e dono do Porta dos Fundos.

O roteiro final é assinado por Leonel Caldela e Fábio Yabu, conhecidos no meio nerd, ambos já produziram outros trabalhos com o Jovem Nerd. Abu é um escritor, cronista, criador de desenhos animados e roteirista de histórias em quadrinhos brasileiro e Leonel Caldela, confesso ser grande admirador, principalmente pela sua capacidade de escrever e criar universos. Acho que tenho uns três livros dele aqui na minha coleção. Super indico a saga “A Lenda de Ruff Ghanor”.

França e o Labirinto é uma viagem cheia de emoções e agonias, é incrível como você se teletransporta para dentro do contexto da história. Alguns trechos podem te causar um certo desconforto. Por outro lado, a capacidade de Selton Mello em atuar apenas com a voz é incrível. Como é bom saber que a plataforma como Spotify demorou, mas finalmente abriu espaço para o mercado brasileiro para este tipo de conteúdo.

Como é bom ouvir (literalmente) algo que parece ser do passado, como eram feitas as rádios novelas, e no auge do conteúdo digital, mas com o aspecto de novidade. França e o Labirinto traz um frescor e fica a sensação de “quero mais”. Entrega uma história história tensa e com uma incrível construção de mundo, imersão e personagens. Que venham mais!

França e o Labirinto, 2023
Veredito: 5/5
Onde assistir: Original Spotify
Criadores: Nonsense Creations e Jovem Nerd
Assista no Spotify 

Confira mais textos do colunista: www.socialbauru.com.br/author/gabrielcandido/ 

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