Dirigido por Murilo Benício e baseado na obra do dramaturgo Mauro Rasi, Pérola conta a história quase biográfica sobre a família em Bauru nas décadas de 50 e 60. Sim, nossa cidade é palco da história de um dos dramaturgos mais conceituados do teatro brasileiro. E você, bauruense, talvez não faça ideia sobre isso.

Pérola é um filme brasileiro que conta a história de uma mãe (interpretada por Drica Moraes) pelo olhar de seu filho. Logo após saber da morte da mãe, Mauro (Gustavo Machado) volta para a sua antiga casa em Bauru. A partir desse caminho de volta, ele revive momentos passados de sua família. Manias da sua mãe, suas ilusões, seu senso de humor, sua espirituosidade, seu desejo de querer controlar todas as coisas, tudo isso com um carinho particular que apenas a distância e o tempo permitem.

O elenco ainda conta com Valentina Bandeira, Rodolfo Vaz, Marianna Armellini, Louise Cardoso, Cláudia Missura e mais. O roteiro é do trio Adriana Falcão, Marcelo Sabback e Jô Abdu.

Com a média de 1h 31min, o filme tem um ritmo um pouco lento mas proposital, afinal, é uma história sobre luto e uma nova visão da vida. Mauro se torna um coadjuvante sobre a própria trajetória, e coloca a sua mãe, Pérola, como o centro de tudo.

Pérola é um como um canhão, que arrasta o que está em sua frente e Drica Moraes preenche as cenas com maestria e carisma. De longe o maior destaque, sua interpretação humaniza e ao mesmo tempo coloca ela como algo muito maior perante aos outros. O verdadeiro amor e admiração de um filho para uma mãe. A mistura de sentimentos como saudade, rancor, medo e amor, se chocam o tempo todo, a história relativamente simples se transforma em conflitos inesperados, assim como na vida real.

Por outro lado, se você procura saber um pouco mais sobre Mauro Rasi e seus trabalhos como dramaturgo, você pode ficar um pouco decepcionado, afinal o foco da história é outro. A falta de um “conflito maior” também deixa um pouco a desejar, e por fim, a gente, como espectador, apenas acompanha um cotidiano dos personagens inspirados na vida real.

Murilo Benício na direção deixa os atores soltos, poucos cortes e quase nenhuma mudança de ângulos nas cenas. Praticamente uma câmera parada registrando tudo o que acontece em sua volta, provavelmente para “emular” uma peça de teatro com um cenário estático e os atores percorrendo pela cena. Diálogos rápidos e com poucas pausas ajudam na sensação de “discussão familiar”, mas que na verdade, basta olharmos para a nossa família que podemos nos identificar.

A história se passa por duas linhas do tempo, isso ajuda a dar uma dinâmica maior na história causando uma sensação do passar e o pesar do tempo. Entre alegrias e melancolias da vida e do envelhecimento a história se desenvolve.

O filme diverte e emociona, confesso que senti um pouco de falta de um terceiro ato com algo a mais para se mostrar, seja na própria história e no desenrolar dos personagens, no fim, acaba sendo apenas um cotidiano. Não que isso seja ruim, mas a falta de um conflito deixa uma sensação de expectativa que não leva para lugar nenhum. Emociona no ponto certo, mas cansa na falta do que contar.

Quem foi Mauro Rasi

Mauro Perroca Rasi nasceu em Bauru, no dia 27 de fevereiro de 1949. Logo cedo, ganhou o incentivo de ninguém menos que Antônio Abujamra (diretor de teatro e televisão), que, encantado pela peça de estreia do jovem de Bauru, continuou escrevendo para o teatro.

Seu primeiro texto profissional foi “A Massagem” (1972), que foi dirigido por Emílio Di Biasi. Dois anos depois, escreveu “Ladies na Madrugada”, dirigida por Amir Haddad. O espetáculo foi responsável pela mudança do dramaturgo de São Paulo para o Rio de Janeiro.

Seguiram-se as peças “Se Minha Empregada Falasse” (1978), dirigida por Nelson Xavier; e duas parcerias com Vicente Pereira. em “À Direita do Presidente” e “Uma Encarnação de Pompeu Loredo” – ambas encenadas em 1980.

A década que se seguiu foi marcante para o seu sucesso, e Rasi se tornou um dos principais autores da comédia besteirol. “A Mente Capta” (1982), “A Família Titanic – A Família que Afunda Rindo” (1984), além do clássico “Doce Deleite” (1983), escrito com Vicente Pereira e Alcione Araújo e protagonizado por Marília Pêra e Marco Nanini são alguns exemplos.

Mauro Rasi morreu aos 54 anos em seu apartamento no Leblon. Vítima de um câncer no pulmão, o estado de saúde já estava debilitado após uma cirurgia para a retirada de um tumor na bexiga. Pensar que alguém tão importante para o teatro brasileiro, nasceu e escreveu uma das suas principais histórias em nossa cidade, é algo que deveríamos celebrar com maior entusiasmo.

Pérola é uma ótima opção para quem procura uma história simples, que flutua no amor a na guerra, na briga e na lágrima, no perdão e na fúria, como toda relação familiar tem que ser.

Isso se resume no diálogo final entre um filho e sua mãe, em uma reflexão sobre sua vida e morte. Talvez seja a liberdade poética que Rasi encontrou sobre algo que não conseguiu falar em vida, colocou em forma de texto para mostrar para todo mundo o quanto ele amou a mãe.

Pérola, 2023
Veredito: 3/5
Onde assistir: Nos cinemas
Criadores: Murilo Benício
Agregador no Rotten Tomatoes: Nada consta
Avaliação IMDB: Nada consta
Trailer

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