Acho que até esse momento nunca tínhamos parado para pensar sobre as implicações de não poder sair de casa, certo?

No entanto, agora que temos que evitar sair para nos prevenir do novo coronavírus percebemos que a rotina é a primeira coisa que mudou.

A rotina de uma octogenária

Anísia Cunto Motta tem 80 anos recém completados. Por ser do grupo de risco, ela e o marido tiveram que redobrar os cuidados com a saúde e evitar ao máximo sair de casa.

Para isso, a bauruense está contando com a ajuda de seu filho que vai ao mercado, ao banco e faz outras atividades para que ela não precise se deslocar.

Eu sempre tive muita autonomia e fui muito dona do meu nariz. Faço todas as coisas sozinha, dirijo e agora estou absolutamente dependente. Minha nora ou meu filho é que vão à feira e ao mercado para mim. Eu me sinto profundamente gratificada, mas ao mesmo tempo tolhida na minha liberdade. Porque sempre fui muito cheia de iniciativa e agora as iniciativas que eu tenho são cerceadas pelo meu espaço doméstico.Tenho que ficar por aqui mesmo. Mas eu percebo que é uma realidade que não adianta brigar, porque está se impondo a todas as pessoas”, comenta Anísia.

Mas, mesmo não podendo sair de casa, a bauruense conseguiu adaptar a maioria das suas atividades para esse ambiente.

Assim, faz exercícios físicos em casa, se comunica com a filha que mora distante pelo Whatsapp, tem suas aulas de francês pelo Skype e, por vezes, para conseguir lidar com as outras atividades domésticas, pede comida pelo delivery.

Apesar das alterações em seu cotidiano, a bauruense reconhece o lado bom desse momento que estamos vivendo: o fato de estarmos pela primeira vez em muito tempo, tendo mais contato uns com os outros.

O mundo precisa mudar os rumos e fazer um balanço dos seus valores, perceber que a vida tem valor e optar por isso. Agora nós estamos sendo obrigados a ficar dentro de casa e a conviver, que é a coisa que mais falta na vida. Eu digo que a convivência é o desafio máximo que se faz na face da Terra. E nesse momento nós estamos tendo a experiência de conviver e aprender”, completa.


Anísia Cunto Motta agora realiza suas aulas de francês pelo Skype

Mudanças no trabalho

Valéria Aparecida Maranho atua na área de Recursos Humanos da Unesp e administrava um bar junto com seu marido.

Desde o dia 17 de março, a escola de sua filha formalizou que as crianças deveriam ficar em casa. Assim, para não deixá-la com os avós e seguir as recomendações, Valéria se afastou do trabalho temporariamente com o apoio de seu supervisor.

Posteriormente, a orientação de ficar em casa também foi formalizada pela Administração Superior da Universidade, possibilitando que a bauruense realizasse seu trabalho remotamente.

Além das mudanças em seu emprego, ela conta que seu empreendimento familiar o “Entre Amigos Bar e Petiscaria” suspendeu as atividades, pensando no bem comum dos clientes e acatando as medidas de prevenção ao coronavírus.

Tais transformações no cotidiano, fizeram com que a rotina de Valéria se alterasse por completo.

Antes eu trabalhava quatro horas no RH, almoçava em restaurantes e fazia mais quatro horas para completar a jornada. Depois ia para casa ficar com minha filha, cuidando das coisas ou trabalhando no bar. Agora passo o dia cuidando da limpeza da casa (tivemos que dispensar a diarista), do almoço, lanche e jantar. Sempre de olho na televisão e no celular e nas orientações sobre a pandemia. Participo da missa pela mídia. Verifico pelo Whatsapp se estão todos bem (família e amigos), e trabalho quando solicitada pelo Supervisor. Também estou paparicando mais a filhota”, finaliza.


Valéria Aparecida faz trabalho remoto

Distanciamento dos idosos

Simone Formenti Rodrigues, diz que redobrou a higiene dentro de casa e tem se preocupado frequentemente com a possibilidade de alguém de sua família ficar doente. Além disso, devido às recomendações da OMS, teve que se afastar das pessoas de mais idade da família.

Infelizmente a necessidade de proteger os mais velhos obrigou meu afastamento de minha mãe e de meus sogros, pois, além da idade, a saúde deles também requer cuidados especiais”, comenta.

Outra mudança foi o distanciamento dos noticiários, uma forma de preservar a saúde mental. Assim, Simone conta que procura focar em coisas que a mantenham calma.

Aproximação com o filho

Já para o bauruense Carlos Eduardo Simões, a maior mudança na sua rotina trouxe boas consequências. Agora, trabalhando remotamente, o coordenador de suporte de arquivos consegue passar mais tempo com o seu filho.

Embora já fizesse home office esporadicamente, algo que seu emprego permitia, agora ele não precisa se deslocar até o trabalho. Portanto, o tempo que antes era perdido no trânsito pode ser usado com mais qualidade.

Minha rotina mudou um pouco, pois estou trabalhando home office, e consequentemente fico o dia todo com eles. Cuidar deles está sendo muito bom, pois sinto estar participando mais e isso, consequentemente vai refletir na educação deles”, conta.

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