Nesses últimos dias, temos acompanhado um debate cada vez mais constante sobre os impactos do coronavírus na economia. Devido às recomendações da OMS e medidas tomadas por governadores e prefeitos, estabelecimentos comerciais não essenciais estão fechados como forma de evitar a transmissão e aglomeração.
Mesmo que os esforços estejam voltados 100% para o combate ao COVID-19, é sempre importante se manter informado. Por isso, o economista Reinaldo Cafeo explica um pouco sobre o panorama econômico do nosso país.
Confira:
Nós estamos vendo os shoppings fecharem, movimentos dos restaurantes caírem. Qual impacto desse cenário para os mercados locais a curto e longo prazo?
Evidentemente que a questão da preservação da vida é o mais importante, mas como o foco aqui são as consequências econômicas, vou me ater a este tema. Os mercados locais e diria em nível nacional serão diretamente impactados com queda nas vendas, falta de caixa para honrar seus compromissos, cancelamento de pedidos e estratégias no quadro de funcionários, e em alguns casos, demissão. Não haverá geração de riqueza, levando os agentes econômicos a enfrentarem momentos difíceis para manter suas atividades e os compromissos financeiros assumidos.
De que forma esses micro e pequenos empresários podem se organizar e passar por esse momento?
Os pequenos negócios serão os mais afetados. Como poucos possuem excedentes de caixa, precisam, na criatividade contornar o momento. Dependendo do segmento, abrir para vendas online. Devem observar a ajuda financeira das várias esferas de Estados. Por exemplo, o banco do povo destinará recursos para este momento. Os tributos foram adiados e os bancos estão abertos a carência. Proatividade, criatividade e busca de ajuda, neste caso o Sebrae é um bom apoio. Potencializar o gasto de cada real e envolver a família visando uma ação conjunta, emergencial.
Muitos estão se adequando ao momento, como por exemplo, passar a oferecer delivery. Você teria outra dica do que fazer?
Além da venda online é preciso identificar se outras empresas que atuam no setor não precisam de reposição. É como se a empresa deixasse de operar no varejo e entrasse no atacado. Ganha menos, mas gira o estoque. Renegociar dívidas com fornecedores. Também cancelar compras e criar canais de vendas, buscando em parentes e amigos que hoje estão em casa, apoio da desova dos estoques.
Você acha que existe alguma forma dos comerciantes se organizarem de forma a evitar uma recessão? Ou é iminente?
A cooperação pode ser um caminho. Neste sentido novamente o Sebrae pode ser um canal. Outras entidades de classe e até mesmo o sindicato patronal podem ser bons caminhos para ajuda cooperada.
As medidas propostas pelo Ministério do Trabalho (em relação aos funcionários) são suficientes?
A recessão não depende somente das pequenas empresas. É uma ação global que passa pelas grandes organizações, o sistema financeiro e o Estado. As ações microeconômicas, como as colocadas acima podem auxiliar a mitigar o problema.
Você acredita que faltou algo para ajudar empresários e comerciantes a passarem por esse período?
Em relação ao emprego as medidas, mesmo com alguns ruídos, vão na direção de preservação de emprego. Avalio que se o quadro se agravar outras medidas virão. É o momento de calma e não agir impulsivamente.
Pensar em renda extra é uma alternativa para os comerciantes neste momento?
Renda extra somente em produtos e serviços que possam atender a demanda reprimida de pessoas que estão casa. Uma opção é o transporte, isso pode ajudar no orçamento da casa. Também em segmentos como empresas de vendas online, entre outras.
De que forma os bauruenses podem ajudar o comércio local?
Neste momento se optarem por compras no comércio local, mesmo que online, ajudarão a movimentar a economia local.
Depois que o surto de coronavírus for controlado, existe alguma previsão para a situação econômica normalizar?
Dependerá do tempo da crise. Prevejo um longo período de recuperação, pois diferentemente de outras crises em que a coisa ficava no âmbito econômico, agora a questão sanitária provocou a economia. Na história econômica recente o caos atual não tem precedentes. Tempos difíceis pela frente.
A Prefeitura de Bauru poderia ajudar de alguma forma? Quais medidas poderiam ser tomadas?
Em nível local: adiamento no pagamento dos tributos municipais; suspensão de aumento de gastos públicos; comitê de crise envolvendo executivo, legislativo e a sociedade civil organizada; foco em áreas carentes, buscando alternativas no tocante à prevenção e ao apoio financeiro. Força tarefa com enfrentamento dos gargalos.