Guilherme Barros, criador do estúdio de design e ilustração Rafearia, pensa a identidade visual como o Sistema Solar. O ecossistema da Terra depende da rotação, do movimento dos planetas e da volta ao redor do sol.
Da mesma forma, o logo – como a Terra – é importante, entretanto, é preciso um conjunto de elementos ao redor para fixar a marca na mente das pessoas. “Pode até funcionar por um tempo, mas caso não tenha um ‘sistema’, não vai ter força”, comenta.
Por isso, o designer de Bauru desenvolve identidades para que a marca crie conexão com as pessoas por meio de um padrão visual perceptível no logo, papelaria, produtos, decoração, anúncios e tudo o que for visual, além de trabalhar em conjunto com outras áreas, como arquitetura e marketing.
“Eu me inspiro muito na Nike”, exemplifica Guilherme, sobre a capacidade da empresa americana de comunicar por meio de diferentes componentes. Apesar de simples, o símbolo gera conexão emocional, devido ao trabalho do marketing e porque está em roupas e tênis que são objetos de desejo.
“Por isso, eu gosto de pensar em marcas que se encaixem em vários contextos”, enfatiza Guilherme. “Essa é a importância da identidade visual feita com um ‘sistema’ ao redor. Ela pode se adaptar a formatos e tendências, e ainda assim continuar estabelecendo vínculos com as pessoas da mesma forma”.
Conceito e representação
Uma das formas de ter uma identidade visual forte, explica Barros, é criá-la a partir de um conceito. Ou seja, transmitir por meio dos elementos um significado, de acordo com os objetivos e características do cliente.
Alguns exemplos são a Coca-Cola, que possui o mesmo logotipo desde a fundação, mas desenvolve a marca para transmitir alegria, e a Nike, que comunica a mensagem de superação dos desafios.
Da mesma forma, a identidade visual precisa representar o cliente. Quando as pessoas olharem para o logo, cores e símbolos, elas precisam compreender o posicionamento da empresa, como o setor, preço e a forma de atuação.
Por isso, o trabalho do Rafearia – que também faz ilustrações – começa com reuniões e um briefing extenso, para recolher todas as informações sobre o negócio, o ramo, os sentimentos, a mensagem desejada e a expectativa das pessoas. “Porque eu não crio uma identidade para ficar bonita no meu portfólio, e nem para agradar o meu cliente, e sim para estabelecer um vínculo com o cliente final”, resume.
Coffee Time
Um dos principais cases de Guilherme foi a marca da Coffee Time, cafeteria localizada na Vila Guedes de Azevedo. Quando ele começou a criar a identidade visual, os empresários tinham apenas o nome, por isso, conseguiu desenvolver o padrão visual desde o início, inclusive em conjunto com os dois arquitetos.
Dessa forma, o logo – duas xícaras que formam uma ampulheta – acompanha um ‘sistema’ que combina com a decoração feita para os amantes de café e de cafeterias.
Foto: Reprodução/Portfólio Rafearia
Além disso, a publicidade e marketing digital – também feitos pelo Rafearia – estão adequados com a identidade visual, seguindo os padrões visuais da marca e pensando em ângulos da foto de acordo com o conceito.
Um aspecto importante da cafeteria foi a criação dos pacotes de café, de diferentes sabores, vendidos na loja e com novos sabores todo mês. Para Guilherme, que desenvolveu os rótulos, foi uma forma de levar a marca para casa. “O lugar aconchegante eles já tinham, faltava eles levarem o Coffee Time para dentro da casa dos clientes”, relembra.
Arquiteta e personal trainer
Outros trabalhos desenvolvidos no estúdio seguiram um processo similar. Um exemplo foi a identidade visual da arquiteta Nádia Rebellato. Nas reuniões, o designer captou preferências pessoais, características da profissional e potenciais clientes.
Dessa forma, criou umo logo com a presença de triângulos (forma muito presente no dia a dia da arquiteta), semelhante a um “caos organizado” (que ele percebeu do modo a Nádia busca e separa as informações) e indicando o trabalho de arquitetura. “Quando eu apresentei a ideia de ‘caos organizado’, ela aprovou na hora. Eu gosto de pegar uma informação aparentemente pequena e pensar uma ligação emocional”, comenta.
Outro cliente foi o personal trainer Eduardo Midena, que atende em academias e condomínios, e precisava de uma marca “impactante visualmente para ser sempre lembrado”, relembra Guilherme.
A partir da ideia de que a roupa era o vínculo dele com os alunos, Guilherme desenvolveu tipografia exclusiva e uma roupa “estilosa”, que fosse mais uma peça de moda do que um uniforme.
“Queria algo que ele tivesse orgulho de vestir, e também que o próprio cliente dele ache bonito. Que o cliente compre e use para passear, porque é visualmente bonita. Não é para ser apenas uma identificação, e sim para fazer parte de um universo visual”, explica.
Foto: Reprodução/Portfólio Rafearia
Designer há mais de 20 anos
Paulistano e morador de Bauru há quase 30 anos, Guilherme Barros sempre gostou da criação visual. “Eu amava quadrinhos e ilustração. Mas ia além: eu ia ao supermercado e ficava analisando as embalagens, propaganda nas gôndolas, e todo tipo de design”, relembra, pensando em como isso o incentivou a criar. “Sempre que via uma folha de papel, eu rabiscava alguma coisa”.
Um desses rabiscos, quando estava na adolescência, virou o personagem surfista ‘Jimmy Surfer’, para o qual escrevia histórias em quadrinhos. Com o tempo, o hobbie das HQs foi se tornando mais profissional, aperfeiçoando a ilustração e pensando em outras áreas da comunicação visual.
Para unir dois aprendizados diferentes, ele fez faculdades de ‘Publicidade & Propaganda’ e ‘Design’. Somou a parte teórica de planejamento de campanhas e análise de mercado da primeira, com a criação visual da segunda. “Por isso, sinto que consigo prestar um serviço completo”, explica.
Atualmente, Guilherme tem mais de 20 anos de profissão, com experiência em agências de publicidade, na Tilibra e, há oito anos, no estúdio Rafearia, cujo nome é pensado a partir do Rafe (do inglês, Rough), termo muito utilizado em agências e estúdios para designar rabisco ou esboço.
Serviço
Guilherme Barros | Rafearia
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