2023 não tem sido um ano fácil para o cinema, apesar das grandes estreias, poucos conseguem quantificar em público. O que ratifica que a pandemia mudou muito a maneira como consumimos filmes e séries, no início do ano, falamos aqui sobre expectativas. Produções como Shazam! 2, The Flash, Indiana Jones e a Relíquia do Destino, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania e Dungeons and Dragons não agradaram os críticos e por consequência também naufragaram em suas bilheterias.

Com exceções de Mario, que confesso que na época fui um pouco injusto com ele, John Wick e Missão Impossível 7 conseguiram ir bem, mas de longe o maior sucesso foram Aranhaverso e Guardiões 3. Porém ninguém esperava que dois filmes completamente antagônicos pudessem movimentar as salas de cinema em pleno fim do verão norte americano.

Barbie e Oppenheimer se tornaram meme na internet que furou a bolha, através de um trabalho pesado de marketing, os dois filmes chegaram nesta semana e provam que o cinema está vivíssimo. Mas, como toda escolha, eu escolhi começar pelo deprê Oppenheimer (detalhe que estou escrevendo este texto com minha camiseta rosa).

Depois de anos de parceria entre Warner e Christopher Nolan, que resultaram sucessos de público e bilheteria, como a trilogia do Batman, Interstellar, A Origem e os questionáveis Tenet (meio méh) e Dunkirk. Agora pela Universal, Nolan reaparece como um grande diretor e roteirista, que sempre foi. Assume a direção e roteiro que visa contar a história da criação da maior arma de destruição criada pelo homem, a Bomba Atômica.

Baseado no livro biográfico vencedor do Prêmio Pulitzer, Prometeu Americano: O Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheimer, escrito por Kai Bird e Martin J. Sherwin. Ambientado na Segunda Guerra Mundial, o longa acompanha a vida de J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy), físico teórico da Universidade da Califórnia e diretor do Laboratório de Los Alamos durante o Projeto Manhattan – que tinha a missão de projetar e construir as primeiras bombas atômicas.

A trama acompanha o físico e um grupo formado por outros cientistas ao longo do processo de desenvolvimento da arma nuclear que foi responsável pelas tragédias nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em 1945. Além de Cillian, o elenco também traz nomes como Emily Blunt, Matt Damon, Robert Downey Jr., Florence Pugh, Gary Oldman, Jack Quaid, Gustaf Skarsgård, Rami Malek e Kenneth Branagh.

Majestoso e com mais de três horas de duração, Nolan entrega um filme autoral, e completamente melancólico, e mesmo com seu contexto histórico, é impossível você não sentir na pele a agonia de J. Robert Oppenheimer no meio de todo aquele processo.

Alguns pontos que valem o destaque: as transições e contrapontos que o Nolan coloca o tempo todo, principalmente no começo, que apesar do decorrer isso se perde. Mas já há um aspecto claustrofóbico que é proposital. O filme tenta o tempo todo emular a sensação do protagonista com você que está assistindo, e isso faz você ficar ligado o tempo todo.

Outro recurso que é utilizado quase à exaustão (penso que é proposital também) são os cortes nos diálogos. Afinal, você colocar dois físicos falando sobre “coisas de físico” para explicar um funcionamento de átomo não é algo que chama tanto a sua atenção. E como o ritmo da história é basicamente isso, estes cortes ajudam na sensação de urgência que o filme precisa, além de dar uma dinâmica maior para as cenas.

Por consequência, essa dinâmica só funciona por causa das atuações, Cillian Murphy, Robert Downey Jr. e Emily Blunt estão absurdos de bom. Outros atores aparecem de surpresa e ganham o seu espaço. Mas os três de longe, são destaques.

Nolan refaz uma explosão nuclear sem precisar de CGI, em entrevista à Entertainment Weekly: “Quando terminei [o roteiro], uma das primeiras pessoas para quem mostrei foi meu supervisor de efeitos visuais, Andrew, e falei que queria tirar a computação gráfica da mesa, e ver se ele poderia criar metodologias do mundo real para produzir o efeito da primeira explosão atômica. Eu queria tentar olhar para a mente de Oppenheimer [com] imagens simbólicas e visualizações do mundo quântico. Andrew entende o mundo dos computadores, mas também entende o mundo analógico. Ele é maravilhoso com isso. E então, ele passou meses e meses e meses fazendo todos esses experimentos e descobrindo esses métodos, alguns muito, muito pequenos e microscópicos, e outros absolutamente colossais.”

Essa cena é de tirar o fôlego… Nolan volta inspirado, depois de Tenet e Dunkirk, aqui ele se solta e deixa um recado bem importante. O cinema pode contar boas histórias em 2023 sem grandes efeitos especiais. Posso colocar ele na prateleira de melhores do ano fácil. E acho que só vai perder o posto com o filme que eu mais quero ver que é “Killers of the Flower Moon” do Scorsese.

Se tem um ponto negativo que eu poderia levantar, é sua duração. O filme perde muito ritmo no terceiro ato, e chega a ser um pouco cansativo, principalmente se você pegar um horário um pouco tarde. Dava tranquilamente para cortar uns bons 20 minutos ali e deixar a cena com Albert Einstein maior.

Projeto Manhattan

Resumindo: O Projeto Manhattan nasceu de uma preocupação levantada pelo físico nuclear Leo Szilard, em agosto de 1939. Esse cientista húngaro, radicado nos EUA, convenceu outro cientista, Albert Einstein, também radicado nos EUA (sendo alemão), a assinar, em conjunto, uma carta endereçada ao presidente americano de então, Franklin D. Roosevelt.

Nessa carta, Szilard alertava o presidente sobre a possibilidade de a Alemanha nazista construir armas nucleares, já que foram cientistas desse país, notadamente Otto Hahn, Fritz Strassman e Lise Meitner, que fizeram a descoberta da fissão nuclear, reação física que permitiria a explosão de uma bomba atômica.

A liderança do projeto então foi confiada ao físico americano Robert Oppenheimer e ao general Leslie Groves. O objetivo mais patente era se antecipar à provável bomba atômica alemã. Szilard e outros cientistas acreditavam que se os EUA se dispusessem de um artefato como esse, antes dos países inimigos, não apenas a Segunda Guerra teria fim, mas outra guerra da mesma magnitude não seria possível, dada a possibilidade de autodestruição da humanidade como um todo.

Em 6 e 9 de agosto de 1945, duas bombas do Projeto Manhattan foram lançadas pelo avião bombardeiro B-29, Enola Gay, sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. O que deu fim à Segunda Guerra Mundial e iniciou a Guerra Fria.

Robert Oppenheimer liderou o projeto que acabou com o conflito, mas que carregou a culpa consigo sobre uma das maiores e brutais criações do homem. Dito por ele mesmo do discurso memorável “Tornei-me a Morte, a Destruidora dos Mundos“, dita com profunda tristeza.

Oppenheimer é de certa forma um filme biográfico, mas que também explora um pouco da história recente da humanidade. Da beleza científica ao horror da destruição que o poder nas mãos erradas levam a humanidade ao seu fim. E é ali que separamos o que nos faz humanos. A nossa capacidade de entender a significância da beleza da vida,
mas que o mais belo pode se tornar a sua própria morte. A vida de Robert Oppenheimer é carregada nestes valores, do gênio com profunda decepção de sua própria criação.

Semana que vem, 28 de julho, tem Barbenheimer parte 2 com Barbie.

Oppenheimer , 2023
Veredito: 5/5
Onde assistir: nos cinemas
Duração:3h 01m
Direção: Christopher Nolan
Agregador no Rotten Tomatoes: 93%
Avaliação IMDB: 9,0/10
Trailer

Confira mais textos do colunista: www.socialbauru.com.br/author/gabrielcandido/ 

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