Enquanto um representa realmente união dos povos e renovação, o outro é mais uma grande fuzarca de gastos sem fim.

Eu não sei exatamente quem disse, mas uma vez eu li que Jesus era um cara ótimo, mas que tinha problemas com o seu Fã Clube. Tipo Neymar, sabe? Como não podia deixar de ser, a comemoração do seu aniversário, no final de dezembro, passou a ser, quem diria, motivo de polêmica também.

E eu nem vou me prolongar no fato de que o nascimento de Jesus em 25 de dezembro é só uma amálgama de datas e feriados relacionados a coisas como o dia mais longo do ano. Aniversário de Apollo e décimo terceiro salário (se bem que acho que esse veio depois, né? Jesus é mais velho que Ulysses Guimarães?).

De fato, em um mundo onde as redes sociais nos aproximaram só para que possamos saber, o ano todo, o quanto nossos parentes podem ser babacas, as grandes ceias e trocas de presentes se revelaram um pesadelo para uma grande parte das famílias.

E digo revelação porque, afinal, seu primo não ficou babaca em algum momento entre 2013 e 2016, né? Ele sempre foi, você só não acompanhava as babaquices dele em real time. Está cientificamente comprovado que qualquer ser humano aguenta um babaca pelo menos uma noite por ano (não está, e não usem cientificamente comprovado na frente das coisas que não são, como alguns babacas oficiais por aí).

Mas o ano inteiro… Bom. Em fevereiro você já está farto do machismo do seu tio-avô e no meio de maio já quer estrangular sua prima ativista. Não por ser ativista, o que é ótimo, mas por ser uma chata sem noção de realidade. Quando chega em dezembro, o ranço está maior que carne de Peru no ano-novo.

Então, qual o grande motivo pra esse sacrifício? Comilança? Ok, aproveite que você ignorou sua saúde o ano todinho e coloca um prego no caixão de uma vez fingindo comemorar o solstício… digo, o natal.

Presentes, então? É, pode ser. Eu particularmente gosto do natal por me dar chance de ganhar coisas que eu gosto e preciso mas não tenho tempo/não sei/não quero comprar. Meias são úteis demais, e nesse ano especificamente eu estraguei várias andando só com elas no chão.

Adoro ganhar camisetas, porque eu particularmente não gosto de escolher estampas mas AMO olhar para as camisetas e classificá-las como “camiseta de trabalho” ou “camiseta de sair” (na época que nós podíamos sair, sem ser cancelado).

E se tem uma coisa que eu gosto mais do que ganhar presentes, é dar presentes. Adoro escolher alguma coisa e ver a cara da pessoa que recebeu. Mesmo que o alvo não goste muito, é uma chance de conhecer melhor o gosto dele (e de alguém que ele gosta ganhar um presente de segunda-mão).

Já uma coisa que eu detesto na troca de presentes que é a pressão. Como assim eu tenho um prazo pra saber o que você gosta? Eu, hein. Aprendi isso (ou herdei) do meu pai, que nunca se ateve a datas. Graças a minha mãe, minha infância foi normal, mas ele sempre fez as próprias datas.

Lá um dia em julho eu estava distraído e ele aparecia com algum presente de natal/aniversário. E estava tudo bem. Assim como ele, eu gosto da sensação de liberdade que dá em você passar em uma arara e ver algo que vai tirar um sorriso de alguém que gosta.

Detesto a sensação de fazer isso em um shopping com 5 mil pessoas fazendo a mesma coisa, com pressa de terminar a tempo de passar no mercado, passar na manicure, passar na rodoviária para pegar um tio aleatório, embrulhar os presentes, preparar o pavê e estar pronto com tempo suficiente para dirigir até a casa daquele seu parente que more o mais longe possível.

Natal é legal, mas cansa né? E pior, o que supostamente deveria ser uma festa religiosa acaba deixando o objetivo principal da comemoração em terceiro plano. Além do que, é Brasil, né? Neve? Renas? A única vez que vi uma rena aqui no BR ela parecia estar mais incomodada do que motorista de Uber em carro sem ar condicionado na 25 de março em 24 de dezembro.

Toda a semiótica natalina não evoca nada muito tropical, então a gente fica meio que sempre com esse clima de decoração anacrônica. Seria tipo os estadunidenses comemorando a ação de graças com umas palmeiras e cocos verdes com guarda-chuvinhas de drink. E pra ficar claro, não quero dizer que existe algum problema com o Natal, mas, tenho meus motivos para celebrá-lo como uma preparação para o que realmente importa.

Veja bem: Os dias mais detestáveis para se trabalhar em nosso país são aqueles que separam o natal do ano novo. Isso porque o natal ativa no nosso cérebro um tipo de modo avião que começa nos preparar para o reboot do sistema de esperança e recompensas que começa as 00:00 do dia primeiro de janeiro (além daquela leseira causada pelo seu corpo tentando se livrar das toxinas, álcool e gordura que você bombeou deliberadamente pra dentro do seu fígado na ceia).

A mudança do ano, ao contrário do natal, é uma festa democrática e de baixo custo. Todos veem o show de fogos no céus e desejar um feliz ano novo não custa nada (AINDA). O ano novo não é um feriado religioso, pelo contrário: Ele celebra o que há de mais mundano que é a contagem inexorável do tempo que oxida nossas células como um relógio atômico determinando que, não importa sua etnia/credo/classe social, seu tempo é finito aqui nessa terra/plano/whatever.

A mudança de ano é a contagem de um ciclo da terra em volta do sol, uma sutil lembrança de que, não importa o tamanho da sua casa ou conta bancária, nós somos menores que tudo isso. Ínfimos, do ponto de vista universal. Se o sol explodir hoje, ateus e cristãos vão virar poeira.

Os presentes embaixo da sua árvore também, assim como a muralha da China e as pirâmides de Gizé. Nenhuma traço da terra ou das obras humanas restaria por aqui, exceto talvez aquelas sondas enviadas para o espaço. Um cartão postal de final de ano no pé da árvore de algum extraterrestre gigante com um senso de humor duvidoso.

Mas não é essa mensagem de pequenez e fragilidade que eu quero deixar nesse final de ano terrível. Também não vim dizer que o sol vai explodir (embora eu não ficasse surpreso se acontecesse porque… né?). Quando o primeiro sapiens se deu conta que, tempo após tempo, as estrelas voltavam ao mesmo lugar, ele com certeza percebeu que o que ele fizesse entre a passagem desse caminho celestial realmente importava, e fez o que nós humanos sempre fizemos de melhor: Ele começou a planejar.

Ao imaginar o futuro, e quantificá-lo, ele se deu conta que o que importa de verdade não é o começo do novo ciclo, mas como aproveitamos esse tempo. Ao verem suas colheitas crescendo regularmente, após o início de cada verão, os grupamentos humanos ficaram satisfeitos por terem entendido finalmente o relógio natural e quiseram comemorar.

Ou registraram a noite mais longa do ano e quiseram se unir para que, caso algo ruim acontecesse, estivessem juntos. Lá, em alguma planície distante no oriente médio, quando as estrelas voltavam na sua posição, os seres humanos aprenderam a agradecer.

Para um Deus invisível, estrela ou outra divindade, não importa: Em algum momento de chuvas torrenciais ou noites frias e longas, os nossos antepassados se deram conta de que éramos pequenos e indefesos em um mundo grande e cruel, e que a cada ciclo completado deveríamos ser gratos.

Esse ano eu sou grato por muitas coisas, e eu tenho certeza que todos aqui na terra tem algo a agradecer. Em um ano como esse, estar escrevendo (ou lendo essas linhas) já é motivo para agradecer. Que tal darmos uma grande banana para tudo que nos dividiu (e não se iluda, continuará dividindo em 02 de janeiro) e celebrarmos como as primeiras tribos de macacos pelados que viveram nesse planeta azul?

Agradecermos o começo de um novo ciclo de tempo, embaixo do mesmo sol e das mesmas estrelas. Planejar nossa próxima colheita e se juntar, na noite longa ou na chuva forte, para abraçar nossos irmãos humanos, e desejar um novo fôlego e melhor sorte no ano que se inicia.

E sugiro que no dia 31 de dezembro desse ano, todos nós sapiens mostremos o dedo do meio para o universo e digamos: Ok natureza, não foi dessa vez! Estamos aqui ainda, e estamos ainda mais fortes e unidos. Tente de novo!
Um próspero natal pra quem pode/quer, e um feliz ano novo pra todos nós, sapiens! Estamos juntos!

P.S.: Pensando bem, é melhor que ela não tente não! Essa pandemia assustou a gente pra caramba, sério! Ano que vem a gente aceita só uma onda de calor e uma virose, como nos anos anteriores. Igual aquela sua tia que sempre te dava meias, e quando você reclamou, te deu um CD da Simone.

Confira mais textos do colunista: www.socialbauru.com.br/author/eugeniomira.

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