O ano de 2021 é particularmente especial para Bauru, apesar da pandemia. Mas, como devemos viver o momento presente, um dia após o outro, nos permitimos comemorar os 90 anos de um seu ilustre filho: o aviador engenheiro Ozires Silva. Ele é uma das maiores autoridades da aviação do mundo, tendo acabado de ser agraciado com a medalha D. Guggenheim, concedida pelo Instituto Americano de Aeronáutica e Astronáutica.

Seu sonho desde garoto era construir um avião brasileiro e tinha como “cúmplice” seu colega Benedicto Cesar, o Zico, ambos apaixonados por aviões. À época, todas as aeronaves e peças de reposição vinham dos Estados Unidos. “Por que o Brasil não constrói avião?

Segundo Ozires, Zico era um líder da garotada e possuía uma “arguta inteligência e grande criatividade”. Cesar nasceu em Botucatu, em 1929. Com dois meses de idade mudou para Pederneiras e com um ano veio para Bauru.
Ozires e Zico estudavam no Ginásio do Estado – atual Ernesto Monte – e participaram da vida do Aero Clube de Bauru desde os primeiros tempos. Reconheciam o significado que o Coronel Marinho Lutz – diretor da Estrada de Ferro Noroeste -, o suíço Kurt Hendrick, Hans Widmer e Luiz Bevilacqua, presidente do Aero Clube, tiveram em suas vidas.

Os dois amigos eram inseparáveis. Zico tirou seu brevê com idade muito abaixo do exigido na época, transformando-se no mais jovem piloto do Brasil. Estava latente no coração dos dois amigos a “vontade de voar, de fabricar aviões”. Em 1948, Ozires e Cesar entraram para a Escola de Aeronáutica, no Campos dos Afonsos, Rio de Janeiro.

Relembrando o amigo, Ozires diz que Zico “gozava de grande respeito dentro da nossa turma e era, no campo da Aeronáutica, quase como um consultor interno”. Ao final do curso, Zico ficou com a 10ª posição e Ozires com a 11ª, dentre os 69 formandos. Este portentoso resultado asseguraria aos dois visionários decidirem em que Base serviriam.

As escolhas fizeram os grandes amigos trilharem diferentes estradas: Zico se tornou piloto de caça, na Base Aérea de Santa Cruz (RJ) e Ozires optou por trabalhar na Base Aérea de Belém (PA). Posteriormente, Ozires voltou ao Rio e a dupla paroleava sobre o sucesso de suas carreiras. Apesar do setor aéreo primar pela segurança, acidentes fatais acontecem. Em uma dessas confabulações, Zico premonizou: “recentemente sonhei, com espantosa clareza, que um de nós estaria levando o outro para Bauru, morto”, para a apreensão do amigo.

Isto, de fato, aconteceu. Em 1955, em um voo de instrução, o avião TF-7, em sua versão derivada do Gloster Meteor, a cobertura (canopy) da cabine dos pilotos destravou, por razões que não ficaram esclarecidas. Ela se abriu nos instantes críticos da aproximação para a aterrissagem. A aeronave entrou em parafuso e chocou-se contra o solo matando Zico. Seu corpo jaz no Cemitério da Saudade, em Bauru.

Para Ozires “ele era indestrutível, à prova de acidentes. (…) Sonhos que não eram somente dele, mas eram também os meus; teriam desaparecido? (…) acreditava fortemente que eles apenas seriam possíveis se os construíssemos juntos. (…) Ele era o próprio talento de que tanto precisávamos”. Zico foi o grande incentivador e parceiro de Ozires e que tem parcela significativa no desenvolvimento do setor aeronáutico em Bauru, na criação da EMBRAER e na construção do Bandeirante. Bauru precisa conhecer mais este seu filho adotivo ilustre.

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