Se hoje é fácil encontrar caldinho em Bauru, especialmente na Companhia do Caldinho, não era tão simples assim nos anos 1990. Calor a maior parte do ano, a cidade não tinha muitas opções da iguaria típica das épocas mais frias.
Ainda assim, em 1997, Valdenir Sonvezzo, o ‘Val’, decidiu abrir um restaurante especializado no prato, pensando em duas paixões: Bauru e caldinhos.
Nascido em Álvares Machado, ele morou em São José dos Campos, formou-se em engenharia mecânica e veio para Bauru a trabalho. Quando saiu do emprego e pensou em se mudar para a capital paulista, tomou a decisão de ficar em Bauru, por ter se apaixonado pela cidade.
Já a segunda escolha, de abrir um caldinho aqui na cidade, foi mais desafiadora. “Me falaram que Bauru é muito quente, por isso o pessoal aqui não tinha o hábito desse tipo de prato. E eu respondia: vamos então ensiná-los esse costume!”, relembra.
A confiança dele levava em consideração que o caldinho é uma iguaria leve, que funciona como janta e ajuda a dormir bem, além ser um prato para as famílias. O empresário relembra da infância quando pensa no prato, tanto que a mãe e as irmãs que ajudaram com as primeiras receitas. “Era o nosso costume tomar caldo, e todo mundo tem uma receita”, comenta.
Os primeiros dias do restaurante mostraram que ele podia confiar na iguaria. “Todo mundo tomava, adorava e trazia outro cliente. Eu sabia! Não tem como tomar e não se apaixonar. E eu falava para os clientes: o lugar é aconchegante, e o caldinho é gostoso”, relembra.
História de 25 anos
Em 2022, a Cia do Caldinho completa 25 anos. No cardápio, são 19 caldinhos servidos o ano inteiro, como o Feijoca, Canja, Legumes e Dobradinha, que também podem ser comprados congelados.
Além da iguaria, o restaurante tem um cardápio variado, incluindo lanches, hamburguer gourmet, massas, panquecas, saladas, bruschettas, pratos executivos, pizzas baby e porções, além de sobremesas, sucos, cervejas, drinks e vinhos.
Para chegar às mais de duas décadas com esse extenso cardápio, Sonvezzo teve uma trajetória de empenho, visão empresarial, olhar para o futuro, capacidade de ouvir os clientes e, principalmente, apreço pelos caldinhos.
Primeiros meses
Os primeiros meses da foram de dedicação, pois era preciso apresentar os caldinhos para os bauruenses. “Como o pessoal não tinha esse hábito”, comenta Val, “eu tive que dobrar minhas horas de trabalho. Quando não consegue terminar em seis horas, tem que fazer em doze, não é mesmo?”.
Esse longo horário abrangia o tempo entregando panfletos em festas, boates, igreja, cinema e shows pela cidade. “Ele ia em todos os eventos de Bauru, passava a madrugada fora, e às vezes ficava na chuva para entregar panfletos ou deixar nos carros”, conta Patrícia Sonvezzo, esposa dele e sócia do restaurante.
Além disso, Val precisou ser multifunção nesse começo, atuando em todas as atividades do restaurante. “Eu saí de engenheiro mecânico para trabalhar como empresário, cozinheiro, garçom, atendente, faxineiro, faz tudo… eu me desdobrava para fazer dar certo”, enfatiza.
“Tomei muito pingado, porque eu fechava às seis horas da manhã, ia para o Ceasa fazer compras, descarregava no restaurante, ia para casa dormir um pouco, e já voltava para fazer manutenção nos eletrodomésticos e preparar a cozinha para o dia”, conta.
Carnaval de 1998
A virada da Cia do Caldinho aconteceu no Carnaval de 1998. Localizado no Parque Vitória Régia, o restaurante passou a ser um dos principais pontos para os foliões após os blocos carnavalescos. “Chegavam várias pessoas fantasiadas, e ficavam lá até às seis horas da manhã, era muito legal”, relembra Patrícia.
Além das festas e do feriado prolongado, aquele ano também registrou uma forte frente fria no período, relembra Valdenir. “Então, o movimento aumentou já no começo do ano e foi até agosto”. Após esse primeiro Carnaval, ir ao restaurante depois das festas virou um hábito dos bauruenses.
Desde então, e principalmente após a pandemia, Bauru mudou e a Cia do Caldinho se adaptou. Atualmente, o local é conhecido pelo ambiente familiar e aberto a todos os tipos de público.
A partir dos anos 2000
Para consolidar o crescimento, Valdenir reforçou seu lado empresário. Como ele conta, foi preciso ficar atento às mudanças no mercado, estar pronto para se adaptar, exigir um padrão para os pratos e treinar bem os funcionários.
Entretanto, entre todas essas características, a principal é a capacidade de ouvir os clientes. “O pessoal sempre dava dicas, sugeria receitas e pedia pratos, e era importante conversar com eles”, resume o empresário. “Porque é uma troca de energias que nos carrega. Essas conversas sempre me animavam, me davam ânimo para continuar”.
“Acaba sendo um lugar onde todo mundo participa, e se sente protegendo a Cia do Caldinho. Eu vejo muito carinho dos clientes com o restaurante, pega amor mesmo, se familiariza”, acrescenta Patrícia.
Foi com esses conselhos que Val conseguiu construir um ambiente aconchegante e decidiu aumentar o cardápio. Se no começo eram oito caldinhos, aos poucos ele foi adicionando novas receitas, cervejas, drinks e pratos, de acordo com os pedidos dos clientes.
Segundo Patrícia, essa relação faz parte da proposta do Caldinho. “Ele é muito coração, o que acaba abrindo portas e ajuda no restaurante, porque os próprios funcionários também passam isso para os clientes”, define a esposa.
Até mesmo por isso, uma entrevista com eles vira uma conversa sobre as várias histórias do local, como o empresário que ia no almoço e pedia apenas um ovo frito; o professor da Unesp com o fusca cheio de livros, que levava um vinho italiano porque “o caldinho era tão bom que precisava acompanhar um vinho importado”; e o cliente que levava bolinhos de bacalhau congelados para ele fritar, pois adorava combinar o salgado com o caldinho verde.
É também o carinho dele com o público que faz com que gerações de bauruenses passem pelo restaurante, como jovens de 25 anos que iam com os pais no início da Cia do Caldinho.
De olho no futuro
Como visto nesta reportagem, não dá para contar a história do Val sem falar da Patrícia. Eles se conheceram em janeiro, o restaurante abriu em julho e o casamento deles foi em dezembro. Tudo em 1997.
Foi durante esses 365 dias que aconteceu a decisão de ficar em Bauru. “Eu fui para casa, pensei muito e decidi ficar aqui. Aí, eu perguntei para ela se ela ficaria aqui comigo e casava”, conta Val, relembrando como a Patrícia também pensava em se mudar.
“E só depois de casar que ele resolveu contar que se até fevereiro o restaurante não aumentasse o número de clientes, ele ia estar quebrado… Ah, que notícia boa! (risos). Graças a Deus veio aquele Carnaval de 1998”, diz Patrícia.
Misturado com a história deles, o casal não se esquece de pensar no futuro. Na entrevista, um dos tópicos mais importantes para Val e Patrícia são os planos. “Estamos há 25 anos, e temos o projeto de ficar mais, melhorando e acompanhando a evolução do mercado gastronômico”, resume o empresário.
O lançamento dos congelados, há seis meses, é um exemplo. A ideia veio durante a pandemia, visando oferecer seus famosos pratos na casa das pessoas. Ainda nesse ano, o casal tem planos de ampliação do espaço e dos serviços. Ou seja, o restaurante chega aos 25 anos já pensando nos próximos.
Serviço
Cia do Caldinho
Endereço: R. José Ferreira Marques, 6-50. Vila Nova Cidade Universitária
Horário de funcionamento: De segunda a sábado, das 18h às 24h
Contato: (14) 98822-8824 | (14) 3223-1901
Instagram: @ciadocaldinho
Facebook: /CompanhiadoCaldinho