Bauru Especial

Modo de preparo:

1. Desembrulhe o Teatro Municipal de Bauru: tire do esconderijo, mude de lugar, rotacione, revele a forma, pule os muros, apresente o conteúdo, abra aos domingos e feriados, descasque como banana, desembanane, encha de ar e depois esvazie aos pouquinhos, mostre o caroço, não descarte depois de usar, plante o caroço, lave suas peças de roupas em público, conte segredos para as coxias, deixe ventilar e secar, convide-se para dormir no palco aos sábados, cubra-se com as cortinas, apague as luzes, libere para sonhar, sonhe.

2. Mergulhe no Rio Bauru: seja profundo, conheça novos habitantes, conviva com eles, viva por eles, tome toda sua água e devolva limpa, faça companhia para a correnteza, dance nas margens, pendure uma rede na ponte, atravesse em uma jangada de ponta cabeça, perca-se no caminho, construa um submarino com palitinhos de fósforo, suspenda-se na superfície, lembre-se de boiar, durma com o rio, espalhe-se por todos os lados, segure a respiração, preencha todos os volumes, interprete o rio em uma peça de teatro, colha um copo d’água e sirva para quem tem sede e está na fila, filtre apenas as palavras de barro que não valem o próprio som, molhe as palavras, fale com o rio, cante para o rio, ria.

3. Plante árvores nos colégios: respire o futuro, não olhe para o fundo, cubra as gavetas com terra, alinhe-se ao sol, seja paciente, abrace as ideias de um livro, eleja uma planta para o grêmio estudantil, dê vazão à criação, torne uma planta popular, respeite o tempo da história, coma uma fruta e não deixe sobras, estampe uma frase em uma camiseta branca, organize a sua agenda em dias sim e dias sim, ajude a povoar uma sala, misture folhas e lousas, retorne às raízes, conheça a coragem, mande uma mensagem e não se acanhe se ela demorar para responder, molhe uma ideia no algodão diariamente, depois transfira para um vaso, cresça com ela, adube-se, cresça em companhia, compartilhe o seu crescimento, cresça.

4. Coma um X-Tudo na Cida Lanches: familiarize-se com o seu bairro, decore as placas das ruas, aponte um novo caminho às pombas, limpe uma praça e apresente-a como alguém da sua família, encontre uma turma, tire uma foto da sua árvore e mande pelo correio, toque uma campainha, tenha os pés no chão e sinta a temperatura do asfalto, escreva no muro o título do último filme que você viu, pinte uma quadra de futebol no piche da sua rua, faça traves de chinelos, entardeça na calçada, abra os braços para a chuva, abra um guarda-chuva dentro de casa, passe uma tarde passando cafés, desvire chinelos, more em uma construção por uma noite, visite alguém da vizinhança, planeje uma festa junina todo mês, viva uma noite à luz de velas, receba as cartas do vizinho e faça um telefonema, telefone.

5. Caminhe sozinha na Avenida Nações Unidas: não olhe para o lado, caminhe em frente, enfrente os postes, placas e buracos da calçada, sinta o cheiro dos lanches, ignore os carros, cruze olhares com os cachorros e gatos, veja uma grande pomba, deixe o ar balançar as madeixas, assobie uma marchinha, desfrute a liberdade, veja a fruta cair longe do pé, perca-se ao contrariar os sentidos das ruas, entre pela saída do drive-thru, voe como uma grande pomba, lembre a paz, cante a paz, converse com o GPS, esqueça por um momento a cidade onde está caminhando, pense nas Nações Unidas ou desunidas, não pense em nada, nade pelo pensamento, pense a respeito, peça um lanche sem defeitos, faça o seu caminho, caminhe.

6. Tome um ônibus: aponte o indicador para uma estrela, pense nas ondas, olhe para a lua de farol baixo, pisque repetidamente, imite a lua, aguarde a virada da página e entre na próxima primeira linha, espere… não tire os olhos da pista, tire o horóscopo da motorista, colecione alguns verbos, leve verbos trocados, dê o seu lugar na fila, fale com cobrador, cobre uma resposta, invente uma rota, esqueça a próxima parada, durma no ponto, segure firme, deixe as pernas formigarem, escorregue com as novas amizades, aperte para descer, desça do pé de feijão, ao descer diga em voz alta o que você mais ama na vida, contorne o jogo dos meninos, beba um pouco, não tome juízo, tome uma fruta do pé na beira do mar, olhe para a maré, tome o mar, ame.

7. Leia uma página de livro por dia, em voz alta, no coreto da Praça Rui Barbosa: ponha gelo nas páginas, espere esfriar, retire com cuidado, desenforme à luz do dia, guarde a assadeira, reúna todas as palavras, deixe-as descansar por algumas horas, ao anoitecer corte um pedaço, corte um pedaço para cada degrau, olhe ao redor e conforte a multidão, seja a primeira palavra que corta o silêncio, descubra cada palavra guardada por dois espaços vazios (no começo e no final), aproxime as palavras, aproxime as crianças e leia para elas, desça do coreto, faça do coreto um livro para colorir, convide as crianças com gizes de cera, pinte palavras, estenda o futuro com as mãos e com as palavras, descubra a forma e dê as palavras como a cobertura de um bolo bom, faça um bolo formigueiro, ensine as formigas, faça das palavras amigas, leia tudo, leia bulas, leia bolos, fure bolas e leia, leia.

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